Convite inesperado

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Mal tive tempo para refletir melhor sobre o que ele tinha dito e o vi na porta me olhando de modo misterioso como se de repente tivesse lembrado algo importante.

— Acho que você devia ver como as coisas acontecem nas entranhas da corrupção.

Apertei os olhos e balancei a cabeça para mostrar que não entendi e ele riu. — Vou te levar para assistir uma reunião do conselho.

Sem precisar de minha resposta ou vendo o meu silêncio como um sim, ele segurou minha mão e seguimos para a carruagem, não tive nem tempo de me arrumar e não sei por que queria fazê-lo já que tinha me arrumado para ir ao mercado colorido. Entrei na carruagem e não consegui dizer uma palavra que fosse quando ele falou o destino.

Eu tinha ido ao castelo somente no casamento de Diana, mas foi no jardim e não participei do baile que Tiago deu naquela noite, na verdade fui embora assim que o casal deixou o lugar. Me lembro ainda do toque dele em meu braço me perguntando porque eu estava com tanta pressa.

Meu pai segurou minha mão e franziu o cenho. — Está com as mãos suadas, tudo bem?

Apertei os lábios. — Essa será a primeira vez que entrarei no castelo, estou receosa, Celina, Celeste e Dona Clara, todas foram vítimas de muitas crueldades naquele lugar, o rei foi morto lá também, será que é mal assombrado?

O olhei de viés e ele riu. — Você mente descaradamente. Confesse menina, seu único medo é de uma pessoa muito viva que está lá dentro.

Assenti e dessa vez falei com sinceridade. — Estou um pouco nervosa. O que sinto quando ele está perto me dá medo porque fico muito atrapalhada.

— É normal. Vocês ainda não conversaram o suficiente para que possam agir sem constrangimento perto um do outro. Mas hoje não precisa se preocupar com isso, ele nem saberá que você estará lá, então você poderá ver o rei em ação sem ressalvas e talvez esqueça o homem que é péssimo na cozinha.

O olhei de viés, ele estava brincando claro, mas não achei engraçado, poderia achar se não fosse o nervoso que eu sentia por ver que o cocheiro parecia muito apressado para chegar.

Não sei se foi o nervosismo, mas vi tudo como um vulto. Só fiquei alerta quando entramos na Rua da Alameda. Ali eu já sabia que não ia demorar a chegar e não demorou. O castelo escuro aparecia à frente, o movimento de carruagens estava intenso, mas eram pessoas que estavam se dirigindo para a Floresta do rei, um local agora aberto aos visitantes, um portão tinha sido posto somente para o povo poder entrar na floresta sem ter acesso a ao castelo.

Senti o coração bater mais rápido quando o carro deu a volta no suntuoso jardim. Meu pai me ajudou a descer e um soldado na porta o cumprimentou, logo outro que estava no salão também o saudou com respeito. Assim que entramos em outro ambiente ele me segurou pelos ombros e sussurrou.

— Não fale, está bem? Deixa para perguntar as coisas em casa, por agora somente observe sem se deixar levar pelo gênio.

— Eu não...

Ele me olhou de lado. — Eu te conheço filha, conheço seu jeito impulsivo, mas hoje precisa ser sábia e aproveitar essa oportunidade.

Assenti com receio de ele voltar atrás e não me deixar assistir o rei em ação, eu ainda não tinha conseguido tirar aquela estranha conversa com Tiago no meu primeiro dia. De certa forma eu o achei autoritário, e o fato dele pedir para não tratá-lo como rei quando não tivesse ninguém olhando não tirou essa impressão ruim de seu olhar condenando minhas ações como se eu tivesse que adivinhar exatamente a resposta que ele queria ouvir, sem contar o jeito esquisito dele ao me puxar pela mão como se já fossemos íntimos, só que o mais estranho e que não me saíra da cabeça, foi o olhar dele nada contente em me ver sair. Pequenas coisas que me deixou pensativa sobre ele. De todo modo, eu ainda teria tempo para conhecê-lo melhor.

O salão enorme não tinha mobília, somente um tapete bonito e enorme enfeitava o centro. Ao lado esquerdo uma enorme escada de mármore negro se exibia soberana, algumas portas estavam fechadas, contei duas normais e outra enorme dupla que foi para onde meu pai seguiu.

Dois guardas abriram para passarmos. Imaginei que veria uma mesa cheia de pessoas, mas não, dei em uma saleta pequena e cheia de poltronas e cadeiras. Havia mais uma porta dupla e outra pequena ao lado, foi essa que meu pai abriu.

— Aqui tem uma poltrona e alguns petiscos, é o onde o rei fica quando diz que não pode participar da reunião, e é aqui que ele observa o conselho trabalhando. — Essa aqui. — Ele mostrou uma porta pequena do outro lado. — É uma entrada secreta e quem entra aqui, vê apenas uma salinha de descanso e aqui. — Ele tirou um quadro do lugar e com uma chave abriu o pequeno quadrado protegido por uma tela, imaginei que do outro lado estivesse um quadro. — É por onde o rei observa o conselho.

A posição em que eu estava dava para ver nitidamente Tiago de frente e os outros ao lado. Fiquei encantada com a visão, era como estar sentada na outra ponta da mesa de frente para o rei.

Não ouvi o que meu pai falou, só compreendi a ordem para eu não sair a não ser quando ele viesse me buscar.

Nem cogitei essa hipótese, afinal, essa era a primeira vez que eu podia analisar o homem que me tirava o sono sem me sentir receosa de ser pega no flagrante, agora eu podia ver seus olhos, seu rosto, vê-lo completamente, e isso deixou meu coração acelerado ao constatar que eu queria muito isso.

Preciso de vocês meninas, não esqueçam que vocês são o termômetro, escrevi por causa de vocês, então peço comentários, votinhos e opiniões :P

Tratado dos Párias- O rei rebelde. ( Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora