Preconceito

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O sol já estava despontando quando terminei de me arrumar. Estranhei a cama e por isso tinha dormido mal, sem contar os ecos da casa muito grande que me causaram medo na madrugada. Definitivamente ali não era lugar para mim e quando entrei no quarto de meu pai, ele sorriu quando me viu.

— Pela sua aparência duvido que teve uma boa noite de sono.

Neguei com desânimo. — Esse lugar...

— Também não me acertei aqui. Encontrei uma casinha perfeita no bairro dos Forasteiros. Vou me mudar assim que arrumar os carregadores. Vai comigo filha? É uma casa modesta em vista dessa, mas...

— Pelos antigos, já estou ansiosa. A opulência dessa casa me afoga e me intimida.

Ele assentiu satisfeito. — A mim também, sem contar que no bairro dos Forasteiros é mais perto do portão. Vai ser melhor para Priana.

Franzi o cenho e coloquei a bandeja em seu colo. Me sentei com cuidado na cama.

— Por quê?

— Nossa conexão fica maior quando estamos mais próximos.

Sorri, achei bonito. — Diferente.

Ele sorriu de volta com os olhos azuis escuros cheios de amor, fiquei contagiada com isso e soltei um suspiro, talvez minha reação tenha sido um pouco sonhadora demais para a percepção afiada de meu pai, porque seus olhos estacionaram nos meus cheios de entendimento. Logo ele fingiu se entreter com a bandeja e perguntou.

— Como foi seu encontro com Tiago?

— Normal. — Tentei falar sem mostrar qualquer emoção. Ele sorriu ainda entretido com a bandeja.

— Engraçado, ele parecia um tanto eufórico quando contei que você veio dessa vez para ficar. Estranhei essa alegria já que não é muita coisa que o alegra ultimamente. — Ele olhou para mim. — Há algo que queira me contar?

Levantei e segui em direção à porta. — Bom... Pelo que entendi, somos algo como irmãos já que ele tem você como um pai. — Abri a porta sem olhá-lo. — E descobri ontem que ele é inútil na cozinha. Talvez até morresse de fome se precisasse se virar sozinho.

Saí e fechei a porta, ainda ouvi a risada baixa dele quando desci as escadas.

Imaginei que ficaria dias a cuidar de meu pai, mas naquela mesma tarde ele já estava de pé e o ferimento estava cicatrizando lindamente. O atentado tinha acontecido há três dias e ao que parece, esse tempo foi o suficiente para que a parte sombria agisse no ferimento.

Nos mudamos na tarde seguinte, e mesmo com a boa aparência pedi a ele que não fizesse esforço e ele não discutiu sobre isso, parecia realmente determinado a se curar completamente. Por sorte não tinha muito a ser carregado e quando chegamos à casa da vila dos Forasteiros fiquei contente com a mobília mais simples e mais útil.

Me senti mais eu mesma sem a imponência da casa da vila Nobre, claro que estava maluca para amanhecer o dia para ir fazer algumas compras no mercado colorido. Primeiro porque queria conhecer melhor o lugar, depois porque a casa precisava de algumas coisas. Meu pai não levantou objeção quando eu disse a ele que sairia cedo para às compras, me deu uma soma em moedas e me pediu para não sair das vistas dos soldados que ele mandaria junto para cuidarem de mim.

Não discuti sobre isso, claro que era estranho andar com escolta, mas se tentaram feri-lo e tinham conseguido, a mim não seria difícil matar, afinal eu sendo completamente humana bastaria uma flechada nem tão grave quanto a de meu pai e eu não conseguiria resistir.

Tratado dos Párias- O rei rebelde. ( Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora