Trégua

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Parei assustada ao ouvir isso, meu coração espremeu tanto que levei a mão ao peito e me virei para ele já com os olhos transbordando com as lágrimas que eu estava lutando para segurar.

— Se tocar um dedo nele, nunca mais me dirija a palavra. Nunca mais sequer olhe em minha direção, pois eu o odiarei com todas as forças do meu coração. Eu lhe juro.

Isso pareceu surtir efeito, porque de irado ele pareceu assustado, nesse momento o que eu queria era sumir de perto dele, e foi o que tentei fazer, mas não tive tempo de subir as escadas, com passadas rápidas ele estava perto novamente, tão perto que não tive tempo de fugir. Para minha surpresa ele me abraçou.

— Não foi isso o que eu quis dizer pelo amor de Deus! Não chore Amélia, me desculpe por fazê-la pensar isso, eu me excedi, jamais seria capaz de machucar alguém só por raiva, quem pensa que sou?

Certo... Isso também não era algo que eu pudesse prever, na verdade eu estava completamente abalada. Tiago parecia possuir muitas facetas e muito do que ele dizia e fazia era movido por seu temperamento, isso eu já estava começando a perceber, mas até onde ele poderia ir num momento de raiva movido por seu temperamento impulsivo? Era algo a se pensar.

Estranhamente me acalmei com aquele abraço que ao contrário de seu rosto irado, era tão terno e cheio de afeto. Mais uma vez fiquei frustrada por não acompanhar toda essa intensidade do rei.

— O que então, em nome dos antigos, quis dizer com essa ameaça?

Ele não me largou, e me senti um tanto incomodada porque mesmo sendo apenas um abraço eu senti meu corpo responder a ele, tudo nele atiçava meus sentidos. O cheiro, os músculos do peito me achatando um lado da bochecha, sua mão enorme segurando minha cabeça e outra espalmando minha cintura, não dava para não sentir cada parte tocada por ele com inocência, esse homem foi feito para afetar as mulheres, foi criado para isso. Não podia ser possível que essa afetação só acontecesse comigo.

Precisava urgentemente de distância, pois era o rei que era o perigo, nenhuma vila miserável, assassinos contratados ou membros da casta nobre me parecia tão perigoso quanto ele naquele momento e com um pesar no coração forcei de leve seu peito e ele se afastou me olhando de olhos baixos, parecia envergonhado.

— Na verdade eu não ia fazer merda nenhuma, só falei para que não subisse correndo para o quarto me deixando falando sozinho. Não sou um monstro, Amélia, mas eu sei que por vezes passo dos limites. Desculpe-me.

Trégua... Até quando ficaríamos assim, nessas oscilações entre a trégua e a discussão? Soltei o ar pesadamente assoprando o peito de Tiago que continuava perto demais.

Ele ofegou quando sentiu o assopro e deu um passo para trás me olhando de modo intenso. Com o mesmo olhar de quando desci as escadas. Ele não te olha como irmã...

E por aquele olhar e através de meu coração disparado eu soube que não era só eu que ficava afetada, ele também, e algum sentido desconhecido dentro de mim me dizia que ele sentia algo mais do que um sentimento fraternal.

Por fim para quebrar qualquer clima constrangedor que manteve nossos olhos fixos um no outro e a boca completamente fechada sem saber o que dizer, eu perguntei a primeira coisa que me veio à mente.

— Onde está meu pai?

A pergunta agiu como um balde de água fria para o transe de Tiago, seus olhos desviaram do foco que era eu e ele vincou a testa como se tentasse colocar a cabeça em ordem. Por fim me olhou confuso.

— Me fez prometer que não brigaria com você porque ele tinha que sair para ver um amigo.

Cruzei os braços e cerrei os olhos. — Que bom que você cumpre o que promete. — Destilei a frase venenosa com gosto. Ele pareceu ligeiramente envergonhado.

— Olha, vou ver o que posso fazer sobre sua ideia, está bem?

Fiquei desarmada com essa oferta sem pedir nada em troca dessa vez.

— Tudo bem e eu não irei mais a vila da Procriação, não porque você pediu tão delicadamente, mas é porque me senti mal, se fossem apenas pessoas miseráveis e necessitadas de ajuda, eu não iria obedecê-lo, mas pelo que vi lá, alguns estão enterrados na mais pura promiscuidade e pelo que Daniel me disse, fazem isso mais por gosto e costume do que por precisão, e não é para esse tipo de pessoas que eu gostaria de dedicar minha preocupação.

Tiago pareceu verdadeiramente aliviado. — Que bom que me ouviu Amélia, pois você está vendo uma parte pequena, se tivesse andado por aquelas vielas tomaria nojo da maioria das pessoas de lá.

Ele seguiu para a porta e antes de sair me olhou com os olhos negros e lindos cheio de estrelas de tão brilhantes e esse olhar me afogueou as bochechas.

— Boa noite, Amélia. Hoje foi o primeiro dia que brigamos e nos acertamos em seguida, gostaria que fosse assim mais vezes, na verdade eu preferia não brigar, se fosse possível.

Quando ele fechou a porta eu sentei pesadamente no sofá.

— Eu também. — Respondi para o nada, respondi para mim, porque eu queria isso, não brigar, no entanto não queria ser subjugada para que isso acontecesse, seria ofensivo para minha inteligência e os anos de estudo na vila sombria.

Tiago tinha que entender que eu não fazia parte das submissas desse reino ou então infelizmente nossos encontros seria sempre assim, regados de gritos e grosseria.

Gente perdão o tamanho viu. Estou lapidando capítulo a capítulo e postando aqui, então por vezes corto excessos e até adiciono partes. Preciso que continuem a me dizer como está ficando por favorzinho! Beijos e obrigada :D

Tratado dos Párias- O rei rebelde. ( Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora