— Senhora, chegamos.
Tinha me distraído e agora voltando a realidade abri a portinhola, gemi baixinho quando desci da carruagem e vi as imensas casas na vila nobre. Não parecia ser um lugar que meu pai fosse escolher de livre vontade para morar.
Priana apareceu na porta e sorriu ao me ver, alguns criados começaram a cuidar das bagagens e me sorriram amigáveis quando agradeci. Ela me abraçou assim que entrei pelo portão.
— André ficará muito feliz em vê-la. Peço desculpas por não avisar antes, mas ele não permitiu.
Rolei os olhos. — É a cara dele fazer uma coisa dessas. Ele está bem?
Ela assentiu e seus olhos ficaram vermelhos, típico de um sombrio quando está irado.
— A flecha passou perto de seu coração, se tivesse acontecido eu teria que levá-lo ao reino Sombrio para receber ajuda devida. Foi um ataque encomendado, seu pai não é bem quisto nesse reino, é sabido por todos que ele teve participação ativa nas mudanças. Mas ele vai levantar logo daquela cama e não deixará barato isso, seu pai é o homem mais inteligente que conheci tirando o meu pai Supremo, e como ele é meio humano tem mais chances do que eu para descobrir o que aconteceu.
Assenti preocupada. — Acho que também o fato de ele ter sido escravo um terço da vida colaborou para aumentar esse ódio.
Priana concordou. — Ainda mais por seu pai ser general. Esse cargo sempre foi cobiçado pelos de casta mais alta, e ele um escravo subindo direto ao posto mais alto do reino não está ajudando muito para arrefecer esse rancor.
Não respondi, na verdade fiquei muda, precisava aprender a lidar com essas coisas, não estava acostumada a nada disso e me pareceu mais difícil agora que era na prática do que antes quando apenas imaginava o tipo de coisas ruins que encontraria ao vir para cá. Ao subir as escadas vacilei um pouco por conta das minhas pernas que tremiam, ela viu meu estado e me segurou falando brando.
— Ninguém fará mal a ele, confie nele em mim, e no seu rei.
Pisque várias vezes e continuei sem responder, é difícil controlar o medo de perder alguém quando ele se encontra em perigo, mesmo que nos garantam que isso não irá acontecer.
Quando ela abriu a porta eu parei no alpendre. — Sabe quem fez isso?
— Estava investigando, mas André me garantiu que não adianta encontrar o mercenário que aceitou fazer o serviço, ele diz que precisa encontrar quem encomendou a morte dele e para isso somente não procurando, pois o mandante precisa se sentir seguro para dar outro passo.
Balancei a cabeça contrariada com esse pensamento. Meu pai queria se colocar em perigo logo, logo. Não soube o que dizer a Priana e ela assentiu com o olhar compreensivo como se pensasse o mesmo que eu.
Entrei na casa nada modesta. Não sabia quanto meu pai ganhava, mas fiquei surpresa com o luxo e o tamanho do lugar. Priana acompanhou meu olhar.
— Foi o rei humano que cedeu a casa, seu pai também achou exagerado e comprou uma mais modesta na vila dos Forasteiros, mas não deu tempo de mudar, foi ferido antes disso.
Fiquei aliviada em saber que não ficaríamos muito tempo ali. Olhei para a escada ansiosa por vê-lo. — Ele está lá em cima?
— Na segunda porta.
Sorri para ela e subi as escadas, fazia um mês que não o via, a saudade era grande. Quando cheguei à porta bati de leve com receio de acordá-lo.
— Entre, filha.
Sorri contente com essa recepção, talvez fosse meu cheiro ou minha voz, meu pai era mestiço sombrio, claro que tinha os sentidos mais apurados. E mesmo que não fosse isso, poderia ter sido Priana que o avisou mentalmente de minha chegada, fosse como fosse, ainda me era estranho ver meu progenitor com superpoderes.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Tratado dos Párias- O rei rebelde. ( Degustação)
FantastikTiago sempre abominou o tratamento as mulheres no reinado de seu pai. Viu sua mãe virar escrava e suas irmãs serem usadas como objeto sexual. Uma se quebrou por conta dos maus tratos e outra ficou com marcas profundas dos anos de chicote. Tudo isso...