Prólogo

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Eu queria poder dizer que essa história é apenas sobre uma garota normal de 21 anos que passa por alguns poucos perrengues durante a vida, mas isso não ia ser verdade nem por um segundo (como eu queria que fosse).

Meu nome é Catarina e eu sou a pessoa mais azarada que a humanidade já teve a honra de ter (confie em mim, eu chequei).

Não me entendam mal, eu tenho meus momentos de glória e felicidade, apesar de bem poucos se eu parar para pensar direito. O importante é que eu consigo viver muito bem com minha onda de azar, sabe quando você se acostuma com tudo dando errado porque você sabe que tudo vai dar errado e se prepara para isso? Na verdade, espero que você não saiba, eu não sou do tipo que deseja o mal para os outros.

Porém, um evento extremamente trágico (eu não estou exagerando), fez com que eu entrasse na pior onda de azar que eu já tive nesses longos 21 anos. Tudo começou quando eu decidi não dar ouvidos para o que minha mãe falou, acreditem em mim, os conselhos de uma mãe valem ouro mesmo.

Antes de qualquer coisa, deixe-me começar essa história desde o início.

Na minha família, há uma herança que é passada de geração em geração, essa herança não é uma fortuna qualquer ou uma caixa misteriosa que nunca pode ser aberta (isso seria muito legal também), eu estou falando de lindos brincos de rubi em forma de coração que são passados há anos de mãe para filha.

O valor desses rubis é muito maior do que qualquer dinheiro que eles possam valer, desde criança minha avó sempre me contava que esses brincos significam a força das mulheres da família, todas elas são verdadeiras guerreiras e lutavam todos os dias pela sua felicidade, minha vó dizia esses rubis capturavam toda essa energia e assim todas as mulheres da família Andrade sempre estariam ali para ajudar umas às outras. Eu nunca duvidei dessa história.

Apesar desses brincos conseguirem continuar na família há décadas, a história de como uma das mulheres Andrade conseguiram eles não teve a mesma sorte, não há nada bastante claro quando a isso. A única coisa que vovó dizia era que, uma vez, uma de nossas antepassadas ganhou esses brincos como um agradecimento por ter salvado a vida de alguém em uma tragédia, o que comprova a simbologia dos brincos serem um lembrete da força e coragem das Andrade.

Sabendo dessa história, você agora pode entender que esses brincos têm um valor inestimável, mesmo quando nossa família passava por dificuldades financeiras, nunca foi uma opção vendê-los, eles nunca foram levados para avaliação, aliás, alguém fazer essa proposta é tido como a maior das ofensas, é como dizer para um fã da Madonna que ela não é a rainha do pop.

Até o ano passado, esses joias pertenciam à minha vó, seu nome era Emília e ela tinha 65 anos. Ela era um sinônimo de força e determinação, quem via seus lindos cabelos cacheados e brancos e seus lindos olhos castanhos não imaginava o quanto ela batalhou para criar quatro crianças pequenas quando seu marido morreu aos 30 anos em um acidente de trânsito.

Infelizmente, ela partiu ano passado e, durante seus últimos minutos no leito do hospital, ela passou os rubis para minha mãe, fazendo que ela prometesse cuidar deles até que a hora certa chegasse e ela passasse a responsabilidade para mim. E foi assim que minha mãe fez, ela guardou os brincos numa caixinha dentro da parte superior do guarda-roupa, ela nunca os usava, só os pegava quando sentia muita saudade da vovó.

Uma vez eu a peguei chorando copiosamente no quarto olhando para esses brincos, eu não tive coragem de ir lá dentro para abraça-la, eu senti que ela precisava desse tempo sozinha com uma das maiores lembranças da mulher que sempre foi nosso porto-seguro.

Minha mãe é a única filha dos quatro irmãos e é a mais nova, ela tem os mesmos cabelos e olhos da minha vó, é a filha mais parecida. Ela também tem a mesma força e determinação, apesar de ás vezes nem ela saber disso. Ela tem 40 anos agora e me criou sozinha desde que eu nasci, ela nunca fala do meu pai, só disse que ele teve que ir embora assim que ela ficou grávida e nunca mais voltou. A única coisa que eu sei sobre ele é que tem três anos a mais que minha mãe, sua família toda é de São Paulo e seu nome é Luís.

Mas nada disso é o mais importante agora, depois de saber um pouco sobre a história da minha família e sobre o significado da nossa única herança, você vai me odiar pelo que eu fiz, eu não posso culpar ninguém, nesse momento, eu não muito fã de mim mesma também.

Era sexta à noite, eu estava muito animada para ir numa festa na casa de uma colega da universidade com minha melhor amiga mais louca do universo, minha mãe foi viajar para passar um mês com dois de seus irmãos que moram em Goiânia. Então, eu fiquei aqui em Belo Horizonte por conta das aulas. Claro que passar um mês com a casa só para você me parecia um bom motivo para comemorar no melhor estilo "vou ficar louca até esquecer meu nome". Ah, como eu fui inocente em acreditar que tudo ia terminar bem.

Ás 22:00 eu estava pronta para ir, decidi usar um vestido preto de alcinha bem simples, mas que era muito bonito. Entretanto, alguma voz dentro de mim (eu odeio tanto essa voz), me fez acreditar que eu precisava desesperadamente usar os brincos de rubi que minha mãe me proibiu de usar sob qualquer circunstância para evitar acontecer o que, de fato, aconteceu.

Na minha cabeça, eu juro, eu ia colocar os brincos, me divertir bastante e guarda-los assim que eu chegasse em casa, minha mãe não precisava saber de nada. As duas primeiras coisas dessa lista realmente foram um sucesso. Eu coloquei os brincos e esperei a Gabi me pegar em casa para irmos à festa no seu carro.

Chegamos na festa, nos divertimos como nunca nos divertimos antes. Porém, em meio aos drinks doces e coloridos, a música alta, a dança frenética de adolescentes com os hormônios à flor da pele e minha alergia a brincos, tudo começou a dar errado.

Eu perdi os malditos brincos de rubi. Quem diria? 

Sorte no AzarOnde histórias criam vida. Descubra agora