Capítulo 3 - Eureca!

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Depois de chegar em casa, vou direto para o banho e me jogo no sofá da sala, ligo a TV e fico mudando de canal repetidamente, sem um real interesse em ver alguma coisa. Depois de alguns minutos, apenas desligo e fico encarando meu celular que está na mesa de centro.

Eu ainda não falei com minha mãe depois da conversa que ela teve com a Gabi, ela também não me ligou, o que achei estranho, mas talvez ela só esteja muito ocupada e se divertindo com a família que ela não vê há muito tempo.

Mamãe planejava essa viagem desde o ano passado, nessa época toda a família veio para Belo Horizonte para o enterro da vovó, foi a pior semana da minha vida. Foi um misto de sensações muito estranhas, foi bom rever meus tios e primos, mas a situação de luto não permitiu que essa visita fosse desfrutada como deveria ter sido. Por isso minha mãe prometeu que iria visitá-los o mais rápido que podia.

Preciso ligar para ela, não posso passar todo esse mês sem fazer nenhuma ligação, é muito provável que em uma semana ela bata na porta perguntando o que diabos está acontecendo comigo. Minha mãe é a típica mãe coruja, ela se preocupa demais comigo e me apoia sempre sem pestanejar.

Quando criança, ganhei uma bicicleta após meses praticamente chorando por uma todos os dias. Finalmente a ganhei no Natal, claro que não esperei nenhum minuto para sair na rua e começar a aprender a pedalar. Segundos depois, levei minha primeira queda e arranhei os joelhos e o cotovelo, chorei como se não houvesse amanhã. Mamãe ficou desesperada e me levou para o hospital logo em seguida. Isso mesmo, para o hospital.

Após esse acidente, disse para ela que nunca subiria na bicicleta de novo, claro que minha mãe não aceitou isso. Ela me disse que esse era meu sonho, que eu implorava pela bicicleta, não podia desistir de aprender a pedalar porque eu levei uma queda. Ela disse: "Meu amor, é impossível não nos machucarmos ou erramos na vida, mesmo assim, desistir nunca é a solução."

Essa é uma das minhas memórias favoritas, sempre que eu estou me sentindo fracassada, eu me lembro disso. Eu não posso desistir agora, sem nem ao menos tentar.

Encho-me de coragem, pego meu celular e disco o número da minha mãe. Ela atende no terceiro toque.

- Oi, mãe – eu tento parecer animada, mas ainda assim minha voz acaba saindo receosa.

- Minha filha! Que saudade de você – minha mãe me responde com sua animação inerente.

- Mas só se passaram dois dias, mãe! – eu respondo com uma risada.

- Para o tempo das mães, dois dias parecem um ano inteiro – ela me diz.

Consigo ouvir uma música sendo tocada de fundo durante a chamada.

- Mãe, onde você está? – pergunto curiosa. – Estou ouvindo uma música. Já foi para a farra?

Ela começa a gargalhar, quanta saudade eu senti dessa gargalhada única.

- Ainda não, estou num restaurante italiano com música ao vivo. – ela me esclarece. – É um lugar muito lindo, você adoraria.

Eu tenho um fraco muito grande por comida italiana, minha mãe e eu costumamos ir juntas para restaurantes italianos sempre que nos sentimos para baixo ou queremos relaxar. Ás vezes, a gente sai para comprar os ingredientes no supermercado e ela cozinha em casa, minha mãe é uma grande cozinheira. Na maior parte das vezes, não conseguimos nos segurar e sempre chamamos alguém para o jantar. Gabi está em todos quase sempre.

- Você está com todos aí? Manda um abraço para todos eles e diz que estou com muita saudade – peço para ela.

- Claro! – a ouço repetindo meu recado para eles e suas respostas dizendo que estão com saudade também.

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