Capítulo 7 - Podemos nos entender sempre?

80 42 57
                                    

Quantas vezes você já sentiu que, apesar de tanto tentar, você não consegue fazer nada? Quantas vezes você sentiu um cansaço no corpo, não físico, mas emocional? Quantas vezes você se pegou olhando para o nada, sem nenhuma perspectiva?

Eu não costumo me sentir assim, aliás, acho que isso me aconteceu raras vezes.

Mas hoje, em pé e com lágrimas nos olhos nesse aeroporto, senti essa avalanche de emoções percorrem todo o meu corpo. Não uma de cada vez, mas todas juntas de uma vez só. Foi como se a vida me desse o soco do nocaute.

Eu não me mexia, eu não queria me mexer, só queria que eu acordasse de uma vez desse grande pesadelo que a minha vida se tornou desde que eu cometi o maior erro bobo da minha vida. Desde que eu fui irresponsável com a memória da minha vó e com os sentimentos da minha mãe. Alguém, pelo amor de Deus, me dá um beliscão?

Enquanto tudo isso passava na minha mente, encarava Gael sem olhar para ele realmente. Eu lembro o seu olhar triste e preocupado ao dirigir o olhar para mim, mas depois disso eu desliguei. Tudo o que eu pensava era que os brincos estavam em um avião indo para São Paulo por uma semana e que, talvez, eles nunca voltassem dessa viagem.

Quem pode me garantir que eles não vão se perder no meio dessa viagem? De que eles não serão furtados? De que eles voltarão para minhas mãos, como se nada tivesse acontecido? Quem podia me garantir que algum dia eu irei me perdoar se eles se perderem para sempre?

Ainda encarando o nada, percebo os lábios de Gael se mexerem ao tentar falar comigo, mas não consigo me concentrar nas palavras que ele diz. Depois de tentar chamar minha atenção com palavras, ele decide me abraçar com força no meio daquela multidão de estranhos que nos rodeia no aeroporto, no meio da multidão que são meus pensamentos agora.

Porém, nenhuma dessas multidões me impedem de sentir seu abraço e de abraça-lo de volta com o mesmo carinho, é nesse momento que percebo minha necessidade de me sentir segura de alguma forma no meio dessa confusão, é abraçando Gael que eu me reconecto novamente com o meu corpo físico, eu preciso sentir essa sensação de conforto e segurança de novo, preciso abraça-lo de novo.

Eu nunca senti que eu me encaixasse com alguém, mas com Gael é diferente, parece que nós nascemos para estarmos juntos, parece que dentro do abraço dele é onde eu devia estar, e eu me sinto tão grata e feliz por tê-lo comigo agora. Pensando em retrospecto, não é a primeira vez que esses sentimentos me tomam, ele sempre esteve comigo quando eu mais precisava de um apoio, seu abraço nunca deixou de me confortar quando eu já não sabia o que fazer.

- Obrigada - enlaço meus braços ao redor do seu pescoço e encaixo meu rosto junto ao seu. Consegui sentir seu perfume inconfundível, um cheiro amadeirado e suave que se tornou um dos meus favoritos imediatamente.

- Você sabe que pode contar comigo sempre - ele me responde depois de um segundo. Gael acaricia meu cabelo e me mantêm em um abraço apertado por mais tempo do que eu e todas as pessoas que passam por nós consideram normal. Mas eu não me importo, desde que eu continue do jeito que estou agora.

- Eu preciso ir para casa - digo a ele, me soltando dos seus braços e enxugando algumas lágrimas que caíram. Eu sou uma chorona mesmo.

- Tudo bem, eu te levo - ele propõe em seguida.

- Não, eu quero ficar um pouco sozinha, sabe? Eu preciso de um tempo para me recompor - respondo olhando para os meus pés, não quero encarar seu rosto e correr o risco de acabar aceitando fazer o que ele me pedir, nesse momento eu faria qualquer coisa.

- Eu entendo, você me liga? Quando chegar em casa? Não queria ficar sem notícias suas - eu o encaro tentando entender o motivo de sua imensa preocupação por alguém que ele acabou de conhecer, acho que ele descobre o que se passa na minha mente, pois logo acrescenta: - Eu não queria ser intrometido ou algo do tipo, eu só me preocupo com você de verdade, também não entendo como isso se desencadeou, só aconteceu. Eu não espero que você me entenda, eu mesmo não me entendo faz um tempo.

Sorte no AzarOnde histórias criam vida. Descubra agora