CAPÍTULO 43 - Chelsea

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Alex abriu meus olhos e me fez perceber a grande burrada que eu estava prestes a fazer.
Saí do hospital aos prantos, mas com o coração cheio de alegria, por definitivamente colocar um ponto final em minha história com ele e finalmente começar uma vida de verdade com Aaron.
Fui para o meu apartamento, e chegando lá não encontrei ninguém.
- Aaron?! - o chamei e nada. Procurei por toda a casa e nem as roupas deles estavam lá.
- Emma! - chamei pela minha governanta, que mesmo que eu não morasse mais lá, ainda se encontrava no imóvel.
- Oi minha menina, em que posso servi-la? - Ela apareceu na sala.
- Você por acaso viu meu marido e as crianças? Ele falou alguma coisa com você? - perguntei um tanto desesperada.
- O Sr. Backer chegou aqui com as crianças, eu perguntei a ele se ele precisava de ajuda com algo, e ele me disse que estava indo embora de volta à Vancouver. Me pediu que arrumasse as malas dos pequenos e depois de tudo pronto saiu correndo em direção ao aeroporto.
- Céus! - passei a mão pelos cabelos, aflita. - Mas ele não disse nada relacionado a mim? Não deixou nenhuma mensagem?
- Ele deixou um bilhete sobre a mesa de jantar. Acho que deve ser para a senhora. - corri até a mesa de jantar e lá estava; um bilhete dele, escrito à mão, dizendo que havia levado as crianças de volta a Vancouver e que ele de lá mesmo pediria a guarda das crianças - Não!
Sem nem pensar corri para o aeroporto, torcendo para não ter dado tempo deles terem pegado o voo.
Em quinze minutos cheguei, porém no painel informativo estava escrito que o avião estava prestes a decolar.
Correndo contra o tempo, comprei uma passagem para àquele mesmo voo e desesperada, me dirigi para o portão de embarque, quando a porta já estava sendo fechada.
- Por favor! Me deixa entrar! - gritei correndo e os funcionários liberaram, com um tanto de relutância, minha passagem.
Esbaforida entrei no avião, procurando por Aaron. Não consegui o encontrar em lugar algum na frente, e já estava ficando desesperada, até que um sentimento de alívio se passou por mim quando vi meu homem, todo atrapalhado com três crianças, sozinho, no último corredor à esquerda no avião. E como fui a última a comprar passagem, aquele corredor era o único com lugares disponíveis. Sorte a minha.
Me aproximei mais e ele nem me percebeu, já que tentava acalmar Sienna que chorava sem parar, enquanto Theo queria tirar seu cinto, e James olhava tudo com estranhamento, fazendo biquinho de choro também.
- Com licença senhor, será que tem como eu passar?! Preciso me sentar, porque o avião já vai decolar.. - ele sequer me olhava, tentando a todo custo acalmar nossa filha, que berrava.
- Ah, claro.. - ele se afastou para eu passar. - Sien, por favor filha! Para um pouquinho! Theo nem Jamie estão chorando desse jeito! Assim o papai também vai chorar! - ele choramingou. - Queria que sua mãe estivesse aqui.. ela saberia como te acalmar de algum jeito. - ele bufou, descrente. Nesse momento, Jamie, ao meu lado, também começou a chorar, enquanto Theo se desvencilhou do cinto e veio correndo para meu colo, reconhecendo-me. - Jamie! Segura as pontas aí, garotão! Preciso fazer sua irmã parar antes que fique sem voz, de tanto gritar! - Abracei meu filho mais velho, sorridente e morrendo de saudades, e peguei Jamie, colocando meu seio para fora e dando de mamar. Em segundos, ele me agarrou e sugou, se acalmando por completo. - Graças aos céus! Menos um! Agora só falta você, gatinha! Vamos lá Sien, o Jamie parou de chorar sozinho, aprenda com seu irmão! - ele sacudia nossa filha.
- Talvez ela precise ser trocada.. - interferi.
- Como você sab.. - Por reflexo, Aaron olhou para mim de soslaio, e ao ver que uma mulher até então "estranha" estava com o peito na boca do seu filho, ele gritou de susto, atraindo vários olhares. - Chels! Chelsea! O que você tá fazendo aqui? - ele ergueu sua sobrancelha num sinal de avaliação.
- Você disse que me queria aqui.. o gênio da lâmpada atendeu seu pedido! - pisquei e sorri pra ele. Afastei Jamie, esperei até que ele arrotasse e o coloquei de volta na cadeira, enquanto Theo ainda se mantinha em meu colo.
- Mas e o Alex?! Você não estava com ele? - sua expressão revelava o quão irritado Aaron estava com o irmão.
Mas claro, como ele não estaria? Como ele mesmo jogou na minha cara, ele largou sua vida para ficar ao meu lado, assumindo o filho do próprio irmão, indo contra seu pai, e casando-se comigo. E aí quando finalmente podemos pensar em começar nossa história juntos, com nossos filhos, eu o abandono justamente para ficar com quem? Seu irmão.
- Não Aaron, meu lugar é com a minha família, e só agora eu me dei conta disso. - ele me olhava com desconfiança e ao mesmo tempo, expectativa.
- Acho que agora é tarde para isso, Chelsea.
- Como assim?
- Você tem noção de que você me deixou com três crianças pequenas pra ficar com meu irmão?
- Eu sei, Aar, e eu estou muito arrependida!
- Arrependida?! - ele bufou - É sério, Chelsea?
- Claro que é! Preciso que você confie em mim! Eu não vou mais abandonar você e nossos filhos! Acredita em mim, Aaron, quando eu digo que amo nossa família, eu amo de verdade!
- Ama mesmo? Então eu quero que você prove!
- Como?
- Em poucos dias Alex receberá alta e eu quero ele dentro da casa que eu comprei para morar com a minha mulher e meus filhos.
- O que? - espantei-me.
- É isso mesmo que você ouviu! Quero que me prove que você não sente mais nada por ele, e quero que faça isso enquanto ele está por perto! Só assim eu vou poder confiar em você de novo, Chelsea.
- Você comprou uma casa pra gente? - perguntei, emocionada.
- Isso agora não vem ao caso. - ele desviou a atenção, de uma forma que quis mostrar que ele não se importava com nada. - Se me der licença, eu vou até o banheiro trocar a Sienna. - Aaron se levantou carregando nossa pequena chorona, que continuava com seu estridente berreiro, em seu colo, e foi em direção ao banheiro.
O voo terminou rapidamente, e em questão de minutos, já estávamos em Vancouver.
Ele pegou Sienna no colo, deu a mão à Theo e desceu do avião, me deixando para trás com Jamie. Peguei meu bebê, e corri atrás de seu pai, turrão e com um beiço maior que tudo.
O filho de uma linda mãe, para não xingar minha sogra, pegou apenas suas bolsas e a das crianças, nem se dando ao trabalho de me perguntar se eu tinha trazido pelo menos uma bolsinha. Fui atrás da minha mala ainda com Jamie nos braços e saí em disparada do aeroporto.
- Aaron! Será que dá para você me esperar, desgraça?! - perguntei, enquanto ele já entrava dentro de um táxi, depois de ter colocado suas bagagens no porta-malas. A criatura nem me deu bola, sentou atrás segurando Sien, em uma das extremidades, Theo no meio, e deixou a porta aberta para mim, fazendo pouco caso. O motorista me deu uma super ajuda guardando minhas coisas, e eu fui me sentar, fechando a porta.
Fiquei encarando-o mas ele fingiu estar me ignorando. E assim fomos até chegar a mansão dos Backer, já tarde da noite.
Antes de sairmos do carro, ele segurou meu braço, me fazendo esperar, e disse: - Meus pais não sabem o que está acontecendo com a gente, só as garotas, então, por favor, finja que não tem nada se passando entre nós. - ele enfatizou cada palavra, explicitando que não queria que eu desse um show na frente de sua família.
- Pode deixar Aaron, nem vou precisar gravar minha fala, você sozinho já vai protagonizar a peça de uma família feliz e contente, que nunca passa por problemas. - Abri a porta deixando-o para trás.
Caminhei até a porta da mansão e quem abriu a porta da frente para mim foi Anne. - Chels! Que saudade! Oi rapazinho! - ela brincou com Jamie que a observava admirado. - Tudo bem, Chels?! - Sua pergunta ia muito além de como eu estava naquele dia; se feliz, mal-humorada, se passava bem, etc. Ela, na verdade, queria saber como eu estava com relação aos seus dois irmãos.
- Tá ficando tudo bem, Anne. Logo logo tudo volta para o seu devido lugar.. - eu disse triste, tentando me segurar nas minhas próprias palavras. Ela sorriu, condescendente para mim, e olhou além de mim, para seu irmão que estava chegando com as outras crianças e as malas.
- Theozinho! Que saudades que a titia estava de você, meu amor! - Theo, como amava a tia, correu para abraçá-la. - Aaron, tudo bem, irmão?
- Tudo ótimo, Annie! Onde estão papai, mamãe, vovó..
- Estão todos na sala de jantar, só esperando vocês para começarmos a comer.
- Ah, então nós só vamos ao quarto colocar nossas coisas, e já descemos.
- Tudo bem, vou avisa-los. - Anne levou Theo consigo para a sala, e eu e Aaron subimos até seu antigo quarto, sem dizer nenhuma palavra.
Ele deixou as malas no canto, próximo a porta, enquanto eu trocava a fralda dos gêmeos.
Aaron desceu na minha frente, e resolvi amamenta-los e colocá-los para dormir antes de me juntar a família. Os pobrezinhos estavam tão cansados que em menos de cinco minutos, apagaram.
Descendo as escadas, consegui ouvir a conversa vinda da sala de jantar.
- Ele está bem, mamãe! A minha mulher fez muita questão de se certificar disto! - Aaron falou, zombeteiro.
- Como assim, meu filho? - Amélia o questionou.
- Não é nada mamãe, Aaron está dizendo bobagens, que depois irá fazê-lo se arrepender. - Anne interveio.
- Ah é, Anne?! Bobagens?! A minha mulher, ou melhor a mulher de Alex, porque é isso que ela era quando a conheci, e depois a tomei para mim, me deixou com dois bebês recém-nascidos pra ir fazer o papel de enfermeira pra um doente mental! - ele urrou.
- Aaron Harold Backer! Não chame seu irmão de doente mental! - Amélia implorou.
- E ele é o quê, Amélia? Seu filho se tornou um sádico! - William revoltou-se.
- Isso não é verdade, e eu acredito que Chelsea tenha feito isso por complacência.- Minha sogra retrucou, me defendendo.
- Me dói mais que tudo dizer isso, mamãe, mas eu sinto que Chelsea ainda o ama, e por isso, eu não aguento nem olhar para a cara dela, quanto mais ficar no mesmo ambiente que ela, sem sentir nojo dos dois. - Aaron estava ressentido, com um rancor guardado que eu nem sabia que estava lá, de fato. E foi nessa hora, que eu resolvi entrar no cômodo, deixando todos estáticos.
Todos os olhos das pessoas presentes naquela sala de jantar, estavam voltados para mim. William, Amélia, Anne e Aaron, me olhavam com expectativa, esperando por alguma reação minha; mas eu nem conseguia me mover. Meu marido foi o primeiro a reagir; passou por mim furioso, batendo seu ombro no meu, e saindo porta afora, da mansão.
Olhei novamente para a minha 'família', murmurei um "me desculpem" e corri de volta para o quarto.
- Eu preciso aguentar tudo isso, eu preciso aguentar tudo isso, eu preciso! - murmurava meu 'mantra', em meio às lágrimas.
Ouvi dois leves toques na porta, e Amélia apareceu. - Chels, querida, será que podemos conversar um pouquinho? - acenei para ela, que se juntou a mim, sentando-se na cama. Ela afagou meus cabelos, e começou: - O primeiro ano de casamento é o mais difícil, sabia? Os parceiros que até então acreditavam que se conheciam, descobrem que em nada se conhecem, são discussões por coisas bobas, e as vezes até dormem sem se falar. E eu posso te dizer isso com convicção, porque foi exatamente assim que aconteceu comigo e William, e olha que nós namoramos por mais de quatro anos antes de nos casarmos, realmente. Agora imagina quando tudo acontece tão rápido, como aconteceu com você e Aaron? Você estava frágil e a única pessoa em quem você escolheu confiar, roubou seu coração. E em alguns meses, vocês se amaram tanto que geraram vidas, e aí se casaram. As circunstâncias sempre estiveram contra vocês, e tudo foi ficando ainda mais difícil, mas eu peço a você Chelsea, não desista do meu menino!
- Eu não quero desistir dele, Amélia, mas ele não confia mais em mim! - chorei.
- Chelsea, Aaron sempre foi meu filho mais problemático, podemos assim dizer. Para William, Alex era o filho perfeito, o mais velho, o responsável, o recém advogado. Anne, que quando criança era a sua princesinha, por ser a filha caçula, se tornou o seu tormento quando se assumiu homossexual, e para o pai, isso pôs fim a sua brilhante carreira. Mas Aaron, ele sempre foi o filho do meio, irresponsável, que só sabia arranjar confusões e ser preso.
- Preso? Não sabia que ele já tinha sido preso! - opa, essa aí eu não esperava.
- Pois é, o menino desde cedo resolveu usar sua inteligência para fazer coisas absurdas! Com treze anos ele construiu alguns pequenos explosivos e os jogou dentro do internato onde estudava, em Londres. Depois, ao longo de sua adolescência foi por conta de bebidas, e  de drogas; que ele usava e vendia para os outros alunos, dentro da instituição.
- Meu Deus! - exclamei apavorada com as informações recém adquiridas sobre meu marido.
- Daí ele se formou e voltou para os Estados Unidos. Mas sua rebeldia não parou. Enquanto Alex cursava direito, e se tornava independente, Aaron se metia em brigas, ou acidentes, e a palavra universidade se mantinha longe do seu dicionário. Até que William decidiu entrar para a política, enfiou nosso filho dentro de um terno, e o obrigou a trabalhar junto com ele nas campanhas.
- Mas ele ainda faz isso obrigado?
- Sabe que hoje em dia não.. Aaron aprendeu a ser responsável quando uma certa jovenzinha apareceu em sua vida. Ele viu que ela era forte, decidida e que não tinha medo de recomeçar. Acho que ali ele percebeu que precisava crescer para estar ao lado dela, que ele precisava criar juízo, porque senão ela nem daria bola pra ele.. Sabe de quem eu estou falando, não é? - ela abriu um sorriso, e eu a acompanhei lembrando de como conheci Aaron, e como começou nossa história juntos.
- É, eu sei.
- Chelsea, eu entendo que você ainda possa sentir algo por Alex, afinal, era ele quem deveria ser seu marido, além de ser pai de um filho seu, mas olhe para o que você e ele tiveram e olhe para o que você e Aaron têm juntos. Percebe a diferença? Quando algo começa errado, não tem como terminar bem.. Eu acredito que já estava predestinado à você e Aaron ficarem juntos, então eu peço que entenda o lado de Aaron também. Ele se casou com você sabendo da possibilidade de você ainda amar seu irmão, e isso o deixou inseguro com relação a vocês, Chelsea. E agora você o deixou com as crianças e disse que ainda amava Alex, imagina como ficou a cabeça dele?
- Sim, só agora eu pude perceber o quanto errei, Aaron sempre esteve comigo, e na primeira oportunidade que eu tive para ficar ao lado de Alex, eu corri para ele. Isso foi completamente impensado.
- Só peço que você aguente as burradas, caso Aaron venha fazer alguma. Ele está desesperado, embora não aparente; conheço meu filho e sei como ele age quando é pressionado. Tenha calma e paciência e tudo se resolverá, Chels. - ela me abraçou e me consolou, e eu apenas respondi 'obrigada'.
O quarto que era de Alex passou a ser o quarto das crianças, todo decorado e mobiliado conforme suas necessidades. Depois que Amélia se foi, eu fui até lá para ver como estavam, antes de ir dormir. Sien e Jamie ainda dormiam, e só acordariam para mamar na madrugada, Theo também estava dormindo, depois de Anne ter dado banho nele e dado sua mamadeira.
Passei pelo quarto de dona Violet para dar um beijinho nela, mas vovó já estava dormindo também, e eu segui seu exemplo e me recolhi, mesmo que Aaron ainda não tivesse voltado para casa.
De madrugada, enquanto dormia, despertei com a porta do quarto sendo aberta agressivamente um vulto cambaleante, esbarrando na mobília e se jogando ao meu lado na cama. Em questão de segundos o aroma de bebida alcoólica e talvez até drogas tomou conta do quarto. Sentei-me na cama, tentando me afastar dele e o observei falando.
- Um grande filho da puta merece ficar com uma grande filha da putaaaaaaa. Mas quem é o filho da puta? Eu ou meu irmãozinho querido? Quem enfiou o pau mais fundo naquela bucetaaaaaaa? Qual nome ela gemeu maissss? - ele estava falando de mim! - Quero só ver quando Alex tiver lá em casa, vou chamar ele pra gente fazer um ménage com a puta da minha esposa e vou chamar a putinha submissa também...
Não aguentei! Saí correndo do quarto desesperada chorando e fui para o quarto das crianças, me embolando no chão, me afogando em minhas próprias lágrimas.

DOMINADORA ( EM REVISÃO )Onde histórias criam vida. Descubra agora