Capítulo 6

96 31 19
                                    

Uma rápida clicada no google, foi o suficiente para localizar o lugar. Por sorte ficava num caminho em que já estava acostumada. Por não saber se teria algum lugar para amarrar minha bicicleta, optei por ir caminhando.

Foi apenas virar a rua para que o som alto atingisse meus ouvidos. Ainda assim não era nada comparado ao volume que encontraria ao pisar no gramado. Havia corpos pulando, dançando e se fundindo por todo lado, inclusive na piscina nos fundos da casa.

Tentei me movimentar seguindo a batida da música e... Nada. Travada, travada, travada. A equação era simples. Gostava da música e gostava de dançar. Não deveria haver empecilho para isso. Já tinha feito antes. Não muitas vezes, é verdade. Mas o suficiente para saber que gostava como o meu corpo se libertava na pista de dança. Ainda que não estivesse numa pista e sim num gramado da casa de um desconhecido qualquer. Talvez fosse isso. Um terreno desconhecido limitando meus instintos. Se levasse em consideração que 95% das vezes dançara ao lado de parentes, dentro de casa ou em alguma festa familiar, faria bastante sentido. Tudo se encontrava na minha zona de conforto.

Houve apenas uma única vez em que me permitira, me sentira livre o suficiente. Tinha sido um bom ano, eu estava confiante sobre mim mesma. Tudo parecia estar caminhando. Então, pela primeira vez, aceitei o convite do meu primo e fui para uma balada. Por uma noite, eu fui livre, estava leve. Meus pensamentos eram apenas uma pluma, inofensiva. Eu, realmente, cheguei a pensar que estava mudando, que seria melhor. Até que o dia seguinte chegou enterrando todos as boas energias, deixando o seu claro recado "not today, satan".

Bom, se não conseguia fazer o esperado de uma festa, só me restava uma alternativa: conversar. Cogitei a possibilidade por alguns segundos. Porém a ideia de simplesmente brotar numa rodinha e jogar papo fora, não me agradava. Supunha-se que após assistir tantos seriados deveria deter alguma habilidade social, certo? Errado! Já passara por algumas situações do tipo e minha mente se tornava um branco total. Isso era algo a ser enfrentado em outro momento, não agora. Acabei decidindo jogar uma água no rosto. Quem sabe o frescor aliviasse a tensão do meu corpo?

Descobri que se do lado de fora era difícil se movimentar, dentro era impossível. A casa era grande o suficiente para acolher mais de duzentas pessoas. O ar, por outro lado, não parecia concordar. A cada passo, a respiração ofegante de alguém vinha de encontro a minha cara ou, então, levava uma cotovelada por outro alguém que arriscava alguma coreografia mais elaborada. O percurso para encontrar um simples banheiro nunca fora tão longo.

Desapontamento foi o que me atingiu ao abrir a porta e dar de cara com um casal se pegando. Eles não pareciam se incomodar com a interrupção, e muito menos deram indícios de que se retirariam. Então apenas dei meia volta e refiz meu caminho, com os planos de me isolar por alguns segundos frustrados. Não era preciso muito mais para chegar à conclusão de que todo o ambiente festivo me era invasivo.

Abri caminho por entre as pessoas e busquei ar puro no lado externo. Mirei o relógio e quinze minutos. Era o tempo que consegui permanecer lá dentro.

Sentei na calçada, com o único intuito de aproveitar a música sem o emaranhado de gente à volta. Sabia que não havia lógica alguma. Poderia muito bem estar ouvindo as mesmas músicas, aconchegada ao meu cobertor, na minha cama. Contudo, já tinha aprendido há muito tempo que meu cérebro não seguia lógica alguma. E no momento, ele estava bastante confortável jogado naquele meio fio, obrigada.

Na rua tinha apenas um casal discutindo – ao que parecia, a menina acusava o namorado de paquerar outras garotas sutilmente, enquanto o mesmo negava dizendo que apenas estava sendo gentil conversando e ela estava sendo ciumenta ao extremo. Perguntava-me quem teria razão na história. Apostava no garoto. Ele transparecia lealdade e eu sabia que a sociedade se voltasse cada vez mais possessiva.

Apenas Respire [FINALIZADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora