Capítulo 31

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— Vitor! — Jasmine gritou, descendo as escadas. Ela estava ali havia pouco mais de uma hora e eu já havia perdido a conta de quantas mini discussões tinha presenciado entre os irmãos. Se antes pensava que nada poderia se comparar a confusão habitual de crescer sendo uma Campos, agora começava a cogitar que dividir o teto com os Lee me mostraria o contrário. — Onde está o meu tapete?

— E eu é que sei? — Respondeu fazendo pouco caso sem sequer olhar para a irmã. Talvez se não estivesse tão concentrado em desempacotar sua coleção de bonecos Funko Pop, teria tido a preocupação de medir melhor as palavras e evitar o olhar mortal que nascia na garota. — O tapete é seu, oras!

— Não se faça de engraçadinho. — Com as mãos na cintura, andou até parar ao lado dele. E, aproveitando que ele estava agachado ao chão e desprevenido, lhe deu um chute no cócxix. — Você tinha se encarregado dele.

— Pra que essa violência toda? — resmungou esfregando a região atingida e finalmente lhe dando a devida atenção. — Sonhou que eu sequestrei seus futuros filhos ou o que?

— Não, mas se não achar este tapete quem nunca vai ter a oportunidade de ver seus filhos é você. Então onde está?

— Não sei, Minnie. São muitas coisas. Você já viu na caixa onde estão as cortinas?

— Já. Não está lá. — Ela coçou a testa, frustrada. — Por favor, me diz que você lembrou de trazer.

— Claro que sim. — Recebeu um olhar irritado da irmã. — Não precisa ficar assim logo vai aparecer. É só questão de organizar tudo.

— Acho bom, caso contrário você já sabe, né? — Passou uma mão pelo pescoço como se o cortasse. — Omma vai comprar uma passagem pro Brasil especialmente falar na minha cabeça até que a nossa última geração seja enterrada. Cê tá cansando de saber como ela fica nostálgica com essa coisa de cada membro da família costurar um pedaço.

— Eu sei. Eu sei. Eu prometo que se não aparecer, eu mesmo lido com ela.

— É bom mesmo. — resmungou e virou de costas, voltando a subir as escadas. — Tô muito velha pra levar a culpa por você.

— Deve ser um tapete muito bonito — comentei de forma casual, enquanto chupava um pirulito, tentando entender o motivo pelo qual um simples tapete provocaria tanto desespero.

— Na verdade é a coisa mais feia que eu já vi na vida — retrucou, largando por fim a caixa que mexia e se sentando no braço do sofá. — É feio, desbotado, meio furado. Mas tá na família há anos. Meio que uma relíquia sentimental dos Lee o que acaba tornando-o lindo. — suspirou. — E é por isso que preciso lembrar onde guardei.

— Entendo. — Minha família nunca teve um objeto que passasse entre as gerações, então obviamente não sabia como era compartilhar algo. Mas guardava comigo pequenas recordações dos meus pais que esperava que nunca se perdessem com o tempo.

— Sinto um pouco de tensão por aqui — uma voz calma e inesperada comentou de súbito, me pegando de surpresa e prendendo meu olhar à porta.

— É aquele ditado, né chefinho? — Vitor falou como se Fernando já estivesse ali há eras. — O que seria da vida sem um pouco de emoção?

— Creio que nunca ouvi essa antes — Se sentindo encorajado Fernando empurrou o carrinho de bebê, se afastando da porta para adentrar o espaço bagunçado.

— Pois ouviu agora. Total autoria de Vitor Lee. Lembre-se disse quando for repassar o ditado.

— É... — Fez uma careta. — Não acho que isso dê um bom ditado. Mas continue tentando, quem sabe um dia? — Tapei a boca, ocultando a vontade de rir. Mas bastou que sua atenção recaísse sobre mim para que a vontade morresse. — Estava passando pelo bairro e resolvi dar uma palavrinha com a Lara. — Sua atenção se desviou de nós, focando na bagunça que permeava toda a sala. — Mas já não sei se é uma boa hora. O que vocês estão fazendo aqui?

Apenas Respire [FINALIZADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora