Capítulo 11

53 17 11
                                    

Em duas semanas, já estava completamente confortável com a nova rotina. Apesar de não ter um conhecimento aprofundado sobre flores, estava me saindo bem. Sempre que o serviço ficava mais tranquilo aproveitava para folhear as diversas revistas que Fernando guardava no escritório. — Ele sempre separava um exemplar das vendas, para uso próprio. — Assim ia diferenciando os pequenos detalhes que cada uma trazia. Ainda não era capaz de entender seus ciclos de produção, mas tampouco era algo que deveria caber a mim.

A princípio, Fernando iniciou as entrevistas em busca de duas atendentes, uma para os clientes físicos e outra para os do site. Todavia, a minha menção sobre cursar ciências contábeis gerou uma nova possibilidade. Ele, que já estava buscando uma chance de permanecer mais tempo ao lado da esposa, ao invés de me oferecer o cargo específico para serviços na rede, propôs também que o auxiliasse na contabilidade da floricultura. Tecnicamente deveria começar ajudar apenas em coisas pequenas, afinal estava apenas começando o primeiro período na universidade. Mas verificando os documentos que estavam no computador, percebi que 70% envolviam algo que já era habituada — fruto das minhas horas vagas.

Assim enquanto Lídia ficava no balcão atendendo aqueles clientes que ainda não estavam rendidos à tecnologia e seu clique único, eu ia e vinha do escritório para a oficina — local onde ficavam as flores que não estavam expostas no salão de entrada e onde montávamos os arranjos.

Todos os dias, Fernando passava pela loja. Nos primeiros, abria e fechava o local. Quando percebeu que já estávamos pegando o controle, passou a abrir e ficar por pelo menos duas horas, para garantir que não estávamos tendo nenhum problema. Era também o tempo que levava para revisar as planilhas e verificar se eu não estava cometendo algum erro, averiguar se as flores estavam bem conservadas pela câmara, entre outras tarefas.

Quando finalizava suas funções, ia inspecionar o trabalho de Lívia. Não durava mais do que meia hora, pois logo a garota enxotava-o da loja. Não por afrontamento ou algo do tipo, mas porque ele logo começava a andar de um lado para o outro, verificando o celular a cada cinco minutos enquanto soltava longos e pesarosos suspiros. A loira — que não tinha nenhuma habilidade em lidar com a inquietude alheia — em um instante se irritava, soltando algum comentário ácido.

Geralmente, por estar em outro cômodo, só ouvia alguns pedaços da conversa. Naquele dia, no entanto, pude presenciar a cena.

— Minha tranquilidade é sinônimo de cliente feliz e cliente feliz é sinônimo de dinheiro. Então, cai fora!

— Olha só onde fui amarrar meu burro. — Quem visse a cara amarrada dele pensaria que Lívia estava a ponto de ser demitida. Pelo menos foi o que pensei nas primeiras vezes. Porém logo o aborrecimento em sua face se desvanecia.

Chegava a me perguntar se o que impedia-o de rebater era a genuína vontade de voltar para casa ou se sua passividade era tamanha. Talvez um pouco dos dois.

— Sem dramas pelo que sabe ser verdade. — Analisou as unhas fazendo pouco caso de toda a situação. E mais uma vez fiquei admirada com a indiferença com que lidava com a situação. Era inegável que sua postura era de uma líder e, por um segundo mínimo, senti inveja. Não porque quisesse seu lugar, mas porque sabia que jamais seria capaz de rebater alguém sem gaguejar, evitar contato visual ou corar. E convenhamos, é bastante simples para alguém inverter a sua opinião nessas situações — quando você involuntariamente coloca todos os seus pontos fracos à mesa.

O sorriso em seu rosto só brotou quando a porta se abriu, trazendo consigo um novo freguês. E tirando do peito uma cordialidade que carregava apenas nesses momentos, ela se mostrou solicita a todas as dúvidas do cliente, perguntando qual era a ocasião, se o presenteado possuía algum gosto específico e tudo o mais.

Apenas Respire [FINALIZADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora