Capítulo 28

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Havia uma infinidade de defeitos que eu odiava em mim. Poderia listá-los com uma facilidade que não possuía para encontrar boas qualidades. O pior deles, e também o que mais me afetava, era a minha incapacidade em dizer não em situações de estresse.

O almoço tinha sido recheado de indiretas, sorrisos falsos e conversas vazias. Uma parte de mim tentava ser agradável e manter a cordialidade, enquanto a outra contava os minutos para ir embora. Eu tinha feito um trato comigo mesma e se eu conseguisse socializar por pelo menos três horas, poderia me recompensar mais tarde com muito chocolate e sorvete.

Eu só não contava que Oscar quisesse estender a tarde numa festa. Tentei me esquivar, mas ele podia ser bem insistente quando queria ou talvez fosse eu quem cedia muito facilmente. Não importava qual das alternativas era a correta, o resultado era o mesmo.

Dentro de algumas horas eu me vi entrando na UFA, num campus que até então não conhecia e se localizava na outra ponta da cidade. Esperava que por tratar-se da mesma universidade o espaço seria parecido, porém a afirmativa não poderia ser mais falsa. Se o lugar onde eu tinha aulas era moderno e novo, aquele parecia ser antigo e bem menos impessoal.

Seguimos por um caminho de pedras, cercado por árvores atravessando todos os blocos até chegarmos a uma enorme quadra de futebol, onde algumas pessoas já se encontravam espalhadas. Oscar parou próximo a um grupo pequeno formado por duas garotas e dois caras, nos apresentou, e logo me vi em meio a uma conversa que não me despertava interesse algum. Quase desejei voltar para o clima desconfortável da casa de Oscar, tamanho era o meu desagrado com a atual companhia. Tinha que fazer um esforço sobrenatural para manter um sorriso no rosto e responder as perguntas que me faziam sem parecer grossa. Nunca fui tão agradecida por receber tão pouca atenção ou pela música alta que me permitia fingir não escutar alguma piada que era engraçada somente para eles.

Era curioso como você nunca conhece alguém verdadeiramente até ver como ele age em seus diversos ciclos sociais. Os amigos de Oscar pareciam e falavam como riquinhos. Tudo bem que eu tampouco era um exemplo de maturidade e não tinha nenhum direito de julgá-los, mas toda a interação me soava muita estúpida. Ou talvez fosse eu quem já estivesse entrando num estado de humor onde nada agradava. Era uma possibilidade válida levando em consideração a dor de cabeça que me atormentava e o fato de já ter presenciado Oscar ao lado de seus amigos anteriormente.

A recordação do casal era o principal fator que me fazia ficar em dúvida se o problema não era eu. Afinal, eles tinham sido bastante agradáveis comigo. Eram também parte do motivo pelo qual eu não resistira a vir. No fundo, nutria esperança de que a presença deles pudesse tornar o resto do dia mais suportável. Realmente tinha gostado deles e não podia me sentir mais decepcionada ao ver que os outros amigos de Oscar em nada se assemelhavam.

— Onde estão as outras pessoas? — questionei sem me conter, tocando seu braço quando tive uma oportunidade de conversa sem que pudesse ser ouvidos pelos outros.

— Quem? — perguntou meio arrastado, evidenciando o fato de já estar meio bêbado. Foi a primeira vez no dia que o invejei. Seria ótimo se eu pudesse me agarrar ao álcool para tornar aquele momento mais suportável. — Oh! — Levou a mão à testa ao compreender. — Você fala do Estevão e da Camila? Eles não vêm.

— Por que? — Não pude esconder a minha decepção, embora não tivesse pretensão alguma de permanecer naquela festa por mais de uma hora.

— Porque eles tão um porre! — Uma morena chamada Taís gritou me surpreendendo e deixando claro que eu não tinha sido tão discreta quanto pensava. — Se a gente convidasse, eles acabariam com a nossa festa. Isso se aceitassem vir.

Tentou passar o braço pelos nossos ombros de modo que ficasse no meio, mas Oscar logo se distanciou, deixando-nos sozinhas enquanto ia falar algo com sua outra amiga. Taís então virou de frente para mim continuou a gritar. Não sabia se pelo som alto ou por estar meio embriagada. Tive que me refrear para não tampar o ouvido. A voz fina irritava mais meu ouvido do que a música. Ela não era de todo ruim e havia se mostrado bem simpática comigo, contudo não conseguia evitar a sensação de desconforto.

Apenas Respire [FINALIZADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora