Parte 19 - Brian Wright -

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Paris França
Lizie:

Aquele desastroso dia, havia chegado ao fim juntamente com o pôr-do-sol, e nada melhor do que um café, no conforto de uma pequena, mas aconchegante, cafeteria parisiense.
Eu tentava tirar meus sentimentos do foco, permitir me deixar guiar pela razão, porém, é difícil quando a razão está em conflito com os sentimentos. Eu simplesmente não podia virar as costas para o meu passado e me jogar de cara em algo não concreto. Mesmo se ele abrisse mão dela, não há garantia que fiquemos juntos, não há garantia de que irá dar certo.
Eu não posso pensar em um futuro com ele, não quando ainda há cicatrizes do passado, e não quando a outra pessoa envolvida. Eu lembro-me como se fosse hoje, a dor dilacerante que foi aberta no meu coração naquela maldita noite.
Eu deveria ter me libertado daquela relação abusiva antes de chegar ao extremo, antes dele colocar outra mulher na nossa cama, na minha cama, a cama que eu havia ralado para comprar, enquanto limpava o chão imundo de uma lanchonete. Ele gastava o dinheiro da mãe, e o pouco que ganhava como fotógrafo, em um bar e novos instrumentos para fotos. Eu não me importava em pagar as todas as contas, desde que ele voltasse pra casa ao final do dia. Mas isso gradativamente foi deixando de acontecer, a cada dia aumentava uma hora que ele passava na rua, e o comportamento agressivo chegou. Ele destruía todos os objetos que estava no seu caminho até o sofá, quando o álcool dominava cada fibra do seu ser. Então veio a agressão psicológica, e eu parei de viver, parei de fingir para as pessoas que estava tudo bem, comecei a pensar que era tudo minha culpa, assim como ele dizia.
Quando chegamos ao estágio da agressão física, eu estava prestes a desistir, mas então houve o pedido de casamento, e eu disse sim, este estado de felicidade se prolongou por exatamente cinco dias. O quinto dia foi quando eu havia chegado em casa, voltado do trabalho, e lá estava ele com uma outra mulher na nossa cama.
Eu poderia dizer que doeu, mas isso não aconteceu, o que acarretou foi eu finalmente conseguir enxergar o fato, de que ele havia me destruído. Não havia nada em mim, para que ele pudesse arruinar.
Então eu pedi ajuda, meus pais me acolheram, minha mãe me levou a um grupo de apoio, eu voltei ao teatro. E no grupo encontrei a Carly. Um tempo depois eu soube que ele havia ido para a Suíça, com a mulher daquela noite. Na época eu desejei que o avião deles caísse, mas hoje, vejo que aquela mulher foi a melhor coisa que me aconteceu. Ou aconteceu ao Brian. Brian, não veio atrás de mim, nada de promessas, nada de "agora vai ser diferente ", ou "eu mudei", e sou grata por isso, não sei se seria forte para dizer não, eu estava frágil em pleno estado de reconstrução.

- Você não deveria ingerir tanta cafeína à noite, senhorita Walker - Diz Logan. Ele está como meu motorista está noite, ele esteve sentando em uma mesa próxima, por cerca de uma hora antes de finalmente se aproximar.

- Só estou no quarto copo, pode me chamar de Lizie - Digo. Faço um gesto para que ele se sente.

- Esse é o sexto ou oitavo na verdade - Diz Logan. Ele têm cerca de dois metros de altura, e a largura de um armário. Duvido que alguém tenha coragem para enfrenta-ló.

- Quem se importa - Digo com um levo sorriso.

- A senhora está bem? - Pergunta Logan.

- Estou, não se preocupe - Digo, e olho para a noite parisiense, através da vidraça da cafeteria.

- Qualquer coisa, estou aqui para ajudá-la​ - Diz Logan.

- Você não pode me proteger, de mim mesma - Digo e sorrio. Pego meu cartão na bolsa e chamo o garçom para pagar à conta.

- Isso é verdade - Diz Logan.

Quando estamos saindo da cafeteria, não noto que um funcionário está carregando algumas caixas, e acabo por esbarrar nele sem intenção. Quando me viro para poder o ajudar, meus olhos se encontram com malditos olhos castanhos, o cara que um dia fez com que eu perdesse a mim mesma, está bem na minha frente. Eu queria não sentir nada, mas a raiva reprimida durante anos ainda está aqui.

- Senhorita Walker - Logan diz. Se postando ao meu lado.

- Vamos embora Logan - Digo. Fico surpresa como minha voz soa firme. Viro para ir embora e sinto sua mão em meu braço. Quando volto a mim, minha mão livre já tinha ido de encontro ao rosto de Brian Wright, e ver a marca da minha mão em seu rosto límpido me da uma sentimento de satisfação que poderia salvar meu dia, se não fosse toda a carga emocional.

- Nunca ouse encostar em mim novamente, ou quem te dará um corretivo será Logan - Digo.

- Izzy - Brian diz. Tenho que dar tudo de mim, para não acertar seu rosto com um soco.

- Vamos embora Logan - Digo. Saio da cafeteria sem olhar para trás.



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