Simon

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Naquele alto céu nublado, dentre aquelas inúmeras nuvens cinzentas recortadas por feixes de luz entrometidos, não haveria um trouxa ou mesmo bruxo que imaginasse que naquele instante dois bruxos menores de idade estavam passando sobre várias cidades, com duas vassouras de quadribol e sem nenhuma experiência em viagens sem ser por trem ou por lareira. O frio do dia nublado se misturava ao que Scorpius sentia na barriga, seus olhos seguiam fielmente as estradas e as luzes fortes dos carros, seu coração acelerava a cada vez que achava ter se perdido de Albus, mas como sempre ele estava ali, dois ou três metros distante para manter um espaço seguro, mas estava. As mãos de Malfoy já estavam suadas de tanto segurar o cabo da vassoura, que apesar de muito confortável não tinha o poder de tirar seu nervosismo. Ele queria poder ter certeza se aquela carta era de Rick, a letra parecia a mesma, mas durante aquele tempo aprendera a duvidar de tudo, até mesmo de um "presente". Pensava em como a família de Albus deveria estar ao perceber a ausência dos dois e das vassouras, pensou em como estariam preocupados. Ele suspirou e continuou a manter a vassoura no prumo, observando as casas e cidades que passavam rapidamente sob eles, mal havia notado que estavam indo na direção certa, onde o trilho do trem nove três quartos seguia serpenteando a sua frente, num brilho bruxuleante que só algo mágico preservaria tão bem. Scorpius olhou para a direita e viu Albus também concentrado no caminho, tinha os olhos focados, mas parecia aéreo e preocupado, Scorpius acreditava parecer da mesma forma.
Após quilômetros voando sobre os trilhos e pequenos morros, Albus gritou seu nome chamando-o a atenção, ele apontou uma lago mais à frente, que era dividido por uma ponte que continuava o trilho, tinha o formato de um oito de lado, e havia apenas vastidão ao seu redor, nenhuma árvore, nenhuma casa, nem ninguém. Seu ar convidativo fez Scorpius concordar e logo eles estavam inclinando as vassouras em direção ao lago.
Ter contato com o chão após horas era algo maravilhoso, Scorpius sentiu as pernas bambearem um pouco e se deitou na grama verde que revestia tudo ao seu redor, lembrava-o de um campo que fora certa vez que era tão bonito e taciturno que a sua calma parecia se espalhar entre todos por lá, de um verde único e com plantações de narcisos nas quais Scorpius se perdia a tarde e voltava com dor de cabeça para casa pelo cheiro forte, seu pai lhe dissera que ele havia inventado aquilo, mas ele sabia o porque de tanto segredo sobre o lugar, até mesmo porque o próprio já havia descoberto onde era, era no País de Gales, onde sua avó paterna, Narcisa, estava vivendo por estar com a saúde frágil. Draco nunca quisera tanta interação entre ele e os avós, dizia que se apegar a pessoas assim o deixaria fraco, pois logo logo eles o deixariam também. Scorpius não gostava de pensar dessa maneira. Sem perceber, Malfoy estava quase sorrindo ao lembrar dos seus breves e esquecidos dias no País de Gales e isso não passou despercebido ao namorado que estava de joelho perto da água lavando o rosto.
-Por que o sorriso? -perguntou Albus se levantando e dirigindo-se para o lado dele.
-Porque... eu queria um narciso. -disse rindo e se sentado, os olhos colados nas águas do lago que espelhavam o céu cinzento. -Sabe, um dia um fui no País de Gales, e lá era tão lindo... minha avó está lá, ela e meu avô. -ele suspirou e olhou para Albus, que encarava a grama aos sob seus pés, combinava perfeitamente com seus olhos e os cabelos escuros o deixavam com a aparência de um herói de livro. Scorpius riu olhando-o. -Sinto que eu não devia devia estar rindo ou mesmo sorrindo tanto. Não estamos a passeio.
-Gosto de quando você está sorrindo. -Albus disse baixo, mas Malfoy conseguiu ouvir e deslizou a mão até a sua. -Eu juro, Scorpius, eu não me arrependo de nada.
-Está tudo bem. -Scorpius sorriu e acariciou a mão dele. -Todos dizemos coisas que para nós parecem certas, mas as vezes estamos nos expressando errado.
-Eu não quero que nada aconteça. -Albus disse respirando fundo. -Estou dizendo que vou me sentir culpado de qualquer coisa acontecer com você. Eu não quero que se arrisque por mim.
-Certo. -Scorpius assentiu. -Não vai acontecer nada. Você está aqui comigo, e eu vou estar aqui com você. Até o fim. -aos poucos seus olhos foram marejando sem ele sentir, as palavras de Katherine voltavam a sua cabeça, as crianças possuídas, todas mortas. Albus segurou seu rosto preocupado.
-O que foi?
-Albus, não vamos sair ilesos disso, pode dizer que é má fé, mas é verdade. Eu... -ele foi interrompido por um soluço e fechou os olhos tentando controlar as lágrimas. -Eu estou com medo.
Albus o abraçou, mas teve sua preocupação aumentada várias vezes. Ver o namorado chorando o atordoava demais e agora tudo que passava na sua cabeça era provar a Scorpius que ele estava errado.
-Vem aqui. -sussurrou e se levantou levando-o pela mão. Eles subiram a inclinação do morro em direção a algumas árvores. -Pode ser clichê, mas é o melhor que posso fazer agora. -ele tirou uma faquinha que enfiara no bolso correndo ao sair de casa e começou a traçar duas retas no tronco da árvore para formar um "A". Scorpius sorriu ao perceber oque ele fazia.
-Pode ser clichê, mas é lindo.
-A partir de agora, toda vez que passarmos por aqui, seja de vassoura ou de trem, esse lugar aqui vai ser nosso. -ele fez um "+" e iniciou um "s" meio torto. -Vamos ter que por um traço aqui sempre que viermos aqui. Vai ser nosso esconderijo.
-De quem? -Scorpius encostou o queixo no ombro dele e sorriu.
-Do mundo que nos odeia, das pessoas que nos fazem de idiotas, da família que não tem fé em nós. Não precisamos de todos eles, não é? Eu, você, Clary, o time. Já somos uma família perfeita.
  -É, somos ótimos juntos.
  Albus se virou para ele guardando a faca e o beijou, puxando-o pela nuca e pondo a outra mão nas suas costas. Scorpius aceitou aquele beijo como se fosse o melhor da sua vida, pois ele não sabia quando seria o próximo. Ao se afastar ele olhou profundamente nos olhos verdes do namorado e sorriu.
  -Desculpa por hoje de manhã.
  -Eu te amo. -Albus disse ignorando o pedido de desculpas.
  -Eu também te amo.
  -Nós temos que voltar a voar. -ele acariciou o rosto de Scorpius e o deu um selinho. -Podia ficar aqui para sempre.
  -Antes de ficar aqui para sempre, temos que concertar algumas coisas.

-x-

  Chegar em Hogwarts a partir daquele ponto foi fácil, as paisagens eram conhecidas e assim ficava mais fácil de saber quando estavam chegando ou não. Finalmente, avistaram a sombra escura do castelo, viram o lago brilhar sob o Sol daquela tarde e também a floresta proibida se estender densa e sombria. Os dois desceram dos céus para as grandes portas de carvalho de entrada, estavam cansados da viagem exaustiva, não era muito cedo, e por isso o Sol não foi um aliado na viagem. Eles desmontaram das vassouras e empurraram as portas, entraram no Hall de Entrada, mal iluminado como nunca fora antes, no meio estava a professora Minerva, Rick, Kevin e Susan, Scorpius não aguentou e olhou a porta que levava as masmorras, estava enegrecida, resquícios do presentinho de Rose. Ele suspirou e seguiu com Albus para junto dos amigos e da diretora.
-Bem que disseram que viriam. -disse Minerva, seus óculos redondos na ponta do nariz os analisando dos pés as vassouras. -Vieram escondido, imagino.
-Sim, não precisamos envolver muitas pessoas nisso, não é? -respondeu Albus. -Não nos deixariam vir também.
-Theresa está desaparecida a dias. -disse McGonnagal agitando a varinha, as vassouras flutuaram dos ombros dos dois garotos e sumiram ao lado da escada. -Receberam notícias dela? Ou que parecesse ser algo Dela?
  -Não. -responderam em uníssono, mas quem continuou foi Rick, entre todos ele era o mais animado para achar a amiga. -Eu já disse diretora, ela simplesmente sumiu.
  -Professora, podemos ir na torre da Grifinoria? -pediu Susan. -Ver se ela deixou alguma coisa.
  -Claro, subam.
  Enquanto o time subia, Scorpius notou o breve desconforto de Albus, sabia que ele não queria ir, ele segurou sua mão tentando o da apoio e ao chegar nas escadas para o segundo andar ele interrompeu o grupo.
  -Nós vamos a ala Hospitalar. -disse Scorpius os parando. -Vocês checam a Torre, nós vamos ver o Simon.
  -O que o Simon tem a ver com isso? -perguntou Susan franzindo a testa. -Scorpius, temos que achar a Tessa.
  -Vocês não acham estranho um coma tão prolongado? -Albus falou, um argumento muito válido para Scorpius que só queria o livrar de ir a um lugar que ele não queria. -Não estou dizendo que Simon sequestrou Tessa. Só que... ele já devia ter acordado.
  -Mas... -tentou Susan e aparentemente Kevin havia entendido os dois lados do que eles queriam dizer. Kevin pôs uma mão no ombro dela chamando-a a atenção.
  -Vamos, assim vamos ser mais rápidos.
  Rick e ela concordaram relutantes, mas seguiram por um caminho diferente ao dos dois garotos, que em silêncio caminharam pelo corredor silencioso e sombrio de Hogwarts. A Ala Hospitalar nunca parecera tão vazia, no canto eles viram Simon, o garoto continuava como sempre, respirando, mas apagado como se estivesse dormindo. Eles se aproximaram, um de cada lado da cama, e ocorreu a ideia a Scorpius de que se um raio havia o acertado haveria algum indício, então ele levantou com cuidado a cabeça dele e procurou alguma falha ali que indicasse um raio. Não havia nada.
  -Albus, ele nunca foi acertado por um raio. -sussurrou Scorpius. -Eu tenho quase certeza. Um raio deixaria ele pelo menos sem alguns cabelos.
  -Afasta. -pediu Albus, ele puxou a varinha e a apontou para Simon. -Ennervate. -o feitiço saiu da varinha como uma conta de luz e atingiu Simon no peito, esse arfou e abriu os olhos, pôs uma mão o peito e procurou manter a respiração calma.
  -S-Scorpius? -chamou Simon que agora olhava tudo ao seu redor, parecia apavorado, procurava alguma coisa. -Como eu cheguei aqui?
  -Simon, você está aqui a quase três meses, o que aconteceu?
  -Três meses! -exclamou tentando se sentar e voltando a deitar meio tonto. Albus observava calado. Não sabia se era atuação, mas de qualquer jeito, não confiava em Simon. -E-Eu estava voltando do treino, na chuva, e então... eu vi aquele menino! Qual o nome dele?! Ele é da Sonserina também.
  -Não tenho a mínima ideia, não me dou com a casa. -disse Albus jogando os ombros.
  -Ele é da sua turma, me deixe pensar... -ele fechou os olhos e respirou fundo. -V...Van... não, acho que é com "P".
  -Vincent?! -exclamou Albus. Agora até fazia sentido, porque alguém dormiria tanto sempre se não fosse apenas para ouvir a conversa de alguém? Albus se sentia um idiota e pela expressão de Scorpius, ele havia pensado o mesmo. Vincent esteve lá o tempo todo, sempre dormindo como um porco, mas afinal nunca esteve dormindo. Rose sempre esteve infiltrada na escola de algum jeito, e eles nunca descobriram como, agora entendiam. O estômago de Scorpius revirava, como nunca notara que Rose estava dormindo na cama ao lado?

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Eu sei que eu sou uma escritora muito desnaturada de vocês kkkk

Mas eu vim aqui para deixar meus agradecimentos e dizer que ocorrerá uma segunda temporada

Obrigado por lerem até aqui, ainda virão por aí mais três capítulos, e então está acabada, pelo menos essa primeira parte.

De novo, obrigado por fazer parte da primeira fanfic que eu realmente levei a sério

Amo muito vocês <#
Até a próxima <#

Poisonous Love// Scorbus (Em Edição)Onde histórias criam vida. Descubra agora