A Garota Perdida

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Narrando em Primeira Pessoa.
Versão de Ellie Morgans.
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ORFANATO INFANTO-JUVENIL DE WOBURN, MASSACHUSETTS

Hoje completo dezessete anos. Eu deveria estar feliz não é mesmo? Ao menos se eu tivesse um lar, uma família, pessoas que me amassem, talvez eu estivesse. Mas ninguém está psicologicamente preparado para entender, muito menos aceitar meu caso raro de paranormalidade, como os médicos dizem.
   Antes que comecemos definitivamente com a minha história, devo-lhes minhas apresentações. Eu me chamo Ellie. Ellie Morgans. Mas podem estar me chamando de El também.
Dando início ao meu primeiro mês de vida, meus pais biológicos deixaram-me dentro de uma cesta de madeira em frente à um orfanato. Eles queriam dar-me a chance de uma vida melhor. Infelizmente não foi assim que ocorreu.
Eu entrei no orfanato, minha ficha foi preenchida no mesmo, havia uma fila de pessoas querendo adotar-me. Fui a criança mais procurada de toda a cidade naquele local. Eles nunca haviam passado por aquilo antes. Até que pesquisas e pesquisas dentre as pessoas na fila de espera para adoção, fui adotada por um casal que infelizmente não receberam a benção de terem filhos biológicos. Os mesmos tinham uma vida financeira boa, poderiam me dar tudo que eu necessitava, até muito mais que isso.
Passei minha infância toda indo à melhor escola da cidade. Tinha sorvete toda vez que eu saía da mesma. Tinha amigos e podia brincar com quem quisesse sempre. Eu definitivamente era amada, mas eu nunca soube da adoção. Até que semanas depois, após completar quinze anos, meus pais então resolveram contar-me sobre a minha adoção. Isso gerou-me uma revolta interior, afinal eu não queria que eles escondessem nada de mim. Eu os amava, porém me sentia traída. Eles poderiam ter me contado a muito tempo atrás, talvez eu não me sentisse tão mal agora.
A raiva passou a tomar conta de mim, eu não obtive controle, nem se quer me lembro como isso ocorreu, apenas algumas cenas circulam minha mente frisando a casa que fora incendiada, e a culpada pela ação havia sido eu.
Eis então que passei a morar novamente em um orfanato comandado por freiras, especialmente para garotas adolescentes. As madres do convento contrariavam-me, castigavam-me e a única amiga que eu tinha, deixei ser adotada em meu lugar. Eu já não tinha esperanças de vida melhor. Tinha medo que aquilo me ocorresse novamente e eu perdesse meus pais. Na verdade meus verdadeiros pais jamais serão substituídos.

Pais verdadeiros que menciono aqui, foram os pais que me criaram. Não posso ter sentimento naquilo que nunca convivi. Amor é convivência.

Eu frequentava a escola do próprio local, era em um prédio ao lado do cujo orfanato. Eu sempre levava broncas, as vezes diversas reguadas das freiras por não me vestir como elas desejavam. Eu não conseguia engomar a saia como elas queriam! Parecia impossível para mim. Foi desta maneira que novamente passei a demonstrar-me de forma sobrenatural. Todas as minhas raivas eram descontadas em minhas forças, um tanto mágicas por assim dizer. Da última vez que me lembro, apenas com a energia de minhas mãos destronquei o pescoço de uma das madres. Não foi minha intenção, jamais desejei, muito menos imaginei matar alguém. Outras madres e freiras estavam presentes nesse ocorrido. Direto mandaram-me para um quarto, e a única coisa que me lembro é de estar amarrada em uma cama com correntes, e havia um padre fazendo orações em latim, o qual eu não conseguia entender nem uma se quer palavra. Óh, espere! Eu entedi. Eles estavam tentado exorcizar-me. Mas seria necessário? Não consigo enchergar necessidade nisso.
Acusavam-me de possuída, as vezes de praticante de bruxaria por conta dos meus gosto peculiares com relações a livros e filmes de ficção o qual envolvia bruxaria, me tornando solitária. Essa história passou a percorrer por todo o orfanato e todas as aquelas garotas que comigo dormiam no quarto, que as vezes "bom dia" me davam, já nem se quer me olhavam.
Me arrumaram um quarto para que eu ficasse sozinha, e lá só havia eu, a janela do prédio e um livro. Todas as noite eu começava a ler um livro novo, e estudar? Não mais. Eu apenas saía do quarto quando havia pessoas interessadas a me adotar, mas nunca me levavam. Eu só pensava em envelhecer, ter idade para logo sair de lá. Acostumada com a solidão, queria continuar meu caminho assim. Fazia de tudo para dar uma má impressão aqueles casais que vinham a minha procura.
   Uma das irmãs, na realidade, uma em especial, freira ou noviça... não me recordo bem como eles a chamavam. A mesma tinha pena de mim naquela situação que de certo modo sentimentalmente precária, impulsionando-a à levar um livro novo todas as noites antes que eu adormecesse, que ela pegava escondido da biblioteca do orfanato, pois sabia que aquela solidão me dava insônia e que meu fascínio por literatura faria o tempo passar mais rápido.
Estava pronta para dormir, já havia vestido o meu pijama e deitado-me na cama como de costume, estava me cobrindo quando irmã Lucy abriu a porta lentamente para que não rangesse passando a deixar em minha mesa mais um livro. Eu sorri enquanto ela aproximava-se e com carinho depositava um beijo em minha testa.

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