Caverna Da Caveira

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Narrado em primeira pessoa.

• Versão de Pan:

   Eis então que eu, Pan, deixei o acampamento nas mãos de Felix para tomar conta dos meus garotos, enquanto tinha Ellie a acompanhar-me pela floresta até a orla da praia.
- Peter... quer dizer, Pan. Para onde vamos agora? Desculpe-me pela curiosidade, porém não consigo conter-me. - Ela dizia um tanto acanhada, parecia não ter liberdade para iniciar um diálogo comigo. Gostava disso nela, podia sentir um suave e breve medo a acariciar seu coração. Arquei a sobrancelha direita para ela, e nenhuma palavra saíra dos meus lábios.
- Tudo bem, Pan... não precisa me dizer... - Suspirou com a cabeça baixa ao adentrar no bote comigo. Ela ajudava-me a remá-lo, porém sem conter-me com o silêncio decidi então retornar o diálogo com aquela garota que não aparentava estar nada animada.
- É a Caverna da Caveira!
- Ham? - Ela deu um pulo, com certeza não esperava que eu a respondesse depois de longos minutos circulados pelo silêncio de nossas falas. Apenas o som das ondas do mar nos rodeavam ecoando em nossos ouvidos.
- Perdoe-me, Ellie. Me referia a onde iriamos agora. Consegue vê-la daqui?
- Sim... é linda. - Arregalei meus olhos, mutando para um olhar curioso. Achei peculiar seu comentário, jamais imaginei que aquela garota acharia aquela ilha linda.
- Aconteceu algo? Está quieto e agora me fita com esse olhar curioso. - Ellie revirou seus olhos para mim, parecia estar cansada de minhas atitudes "difíceis".
- Você revirou os olhos para mim, Ellie? - Odiava e odeio esse tipo de reações extravagantes, desafiadoras. - Ellie, você realmente fez isso? - Passei a contrair meus dentes por dentro da boca com os olhos a avermelhar de raiva.
- Não! Não! Quer dizer... ah, sim, eu o fiz. - A garota tornou a revirar seus olhos. Fechei minha mão direita, com força esmurrei o banco do bote.
- Não faça isso novamente, Ellie! Não me contrarie! Ou sofrerá as consequências. - Eu dizia em tom alto, rude, e com a voz embargada pelo alvoroço que a raiva me trazia.
- Qual o teu problema, Pan? O que aconteceu com você? - Ela indagava-me espantada por minha atitude.
- Não é da sua conta! Apenas cale a boca!
- Escuta aqui, seu moleque mimado! Você não vai me tratar como trata seus garotos perdidos! Não lhe dou esse direito de gritar comigo! - Espantei-me com sua reação, era tão meiga e carinhosa que jamais imaginei existir uma personalidade tão forte dentro da mesma.
- Ellie, você está apenas me enfrentando pois não sabes o que sou, e do que sou capaz!
- Um garotinho perdido mimado dono de uma ilha acabada com poderes que comando um bando de moleques babacas que você chantangia? Ou você esqueceu que eu não tenho nada à perder na merda dessa minha vida. Dá para remar mais rápido essa porcaria? Quero terminar logo essa importunante jornada pela Ilha. - Eu gargalhava sarcasticamente de suas palavras até retornar a minha fisionomia raivosa ao fitá-la diante de mim.
- Você deveria bloquear mais suas emoções, agora aprendi a sentir o que sente, do mesmo modo que você faz comigo. Acredito que se precisa da minha ajuda para sobreviver nesta Ilha, terá que fazer por merecer. Não é assim que você joga? Aprendi com o tal. - Ela cruzou os braços virando seu rosto para o mar, deixando-me a remar solitário.
- Você não venceu esse diálogo, Ellie. Eu nunca falho, você também deveria sentir isso.
- Óh, que diferença isso faz na minha existência? Você quer minha ajuda ou não? Se não for como quero, não à terá. Ponto final, Peter Pan! - Esbravejei com um grito de raiva, por impulso saltei dentro do mar terminando a jornada à Caverna da Caveira com rápidos nados.
   Estava a esperar a donzela — termo irônico — Ellie a chegar com o bote na Caverna, o que demorou diversos minutos do meu precioso tempo. Escorado na parede, balançava a perna, roia as unhas, até avistá-la vagarosamente a se retirar do bote.
- Dá para ser um pouco rápida, ou fica difícil?
- Fica difícil, senhor autoridade total.
- Não comece novamente, Ellie! - Agarrei-a por suas madeixas ruivas e encaroladas, encarando-a dentro dos olhos. Senti que o corpo da mesma estava a molecer sobre minhas mãos, seus suspiros eram intensos e duradouros. Enquanto eu soltava seus cabelos, seus olhos iam se cerrando vagarosamente, seus lábios se aproximavam dos meus num tanto que eu poderia sentir intensamente sua respiração fadigada aquecer meu rosto. Sendo cauteloso no momento dei um breve pulo para trás, como de costume minha expressividade, arqueando a sobrancelha direita.
- O que pensa que está fazendo? - Indaguei de forma retórica.
- Nada, seu troglodita! - Respondeu-me rudemente mesmo assim, dando-me as costas. Desta vez era eu quem havia revirado os olhos neste instante. Cemi-abri meus lábios para iniciar minha fala quando fui interrompido por Ellie.
- O que há de tão importante aqui?
- Eu ia começar a falar, porém você me cortou. Está com tanta pressa assim, vá embora! Não há motivos para estar aqui ainda. Não existe só você no mundo para me ajudar a concluir meus planos.
- Qualé, Peter. Pega leve, mermão! - Ela gargalhava alto e de certa forma nunca havia ouvido um tipo de palavreado como aquele. Apenas sabia que estava gozando de minha cara.

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