17. Susto e Companhia.

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"O passado é lição para se meditar, não para se reproduzir." - Mário de Andrade

Charlie Bennett

O dia na Old Art correu bem, rotina chata, mas precisa. Almoçar com as minhas colegas de trabalho foi muito bom. Necessitava de um pouco de atenção feminina, porque tudo o que tenho na mente ultimamente é um sujeito rude e solitário.

Em frente ao espelho observo a tatuagem abaixo do seio esquerdo. Já não existe marcas vermelhas, mas ainda assim aplico uma pomada de forma a cuidar da marca. Se a minha mãe fosse viva, talvez eu não tivesse feito tais traços permanentes. Isso leva-me a pensar que gostaria imenso de homenagear também o meu pai enquanto ele é vivo. Conheço alguém que me pode ajudar a escolher algo tão íntimo.

Suspiro e sento-me na minha cama. Ele não me sai da cabeça, nem por um minuto sequer. Depois do que vivemos na minha cama e todas aquelas confissões, faz o meu coração doer por ele.

- Charlie. – Ouço a voz do meu pai interromper-me.

Levanto-me e sigo até aonde o som da sua voz ecoa. Ergo a sobrancelha quando denoto que ele não encontra-se na sala, como é costume, mas sim no seu quarto. Bato á porta e depois de obter a autorização adentro o seu quarto de cores neutras. Avisto Samuel Bennett deitado na sua cama com um rosto pálido. Imediatamente fico aflita.

- Pai? – Chamo ao aconchega-lo melhor nas cobertas, de seguida estico a minha mão na sua testa. – Estás a arder em febre!

Um nó forma-se na minha garganta. Não me permito ficar aflita e somente respiro de forma a pensar melhor.

Busco o termómetro para saber quantos graus tem de febre, depois corro até á cozinha e alcanço um pano e uma bacia com água. No seu quarto, torço o pano e coloco-o em cima da sua testa.

- A febre veio de repente? Apanhaste muito frio? – Questiono preocupada com ele.

O termómetro apita, retiro debaixo do seu braço e noto que está a quarenta graus o que não é nada bom!

- Eu não saí de casa. – Confessa. – É só uma pequena febre.

Não é só uma pequena febre, como ele faz parecer que é. Subitamente perco o ar e realmente começo a ficar aflita. Se a febre apareceu não devido ao frio, isso significa que... Perco as palavras, não quero pensar no pior.

Volto a torcer o pano e colocar na testa novamente. Tenho de cuidar dele.

- Pai diz-me a verdade. – Peço, agarro uma das suas mãos e entrelaço os nossos dedos. Estou com medo. – Tomaste os medicamentos corretamente, não é?

Samuel normalmente fica ofendido por eu perguntar tal coisa, mas desta vez ele limita-se a abanar a cabeça em afirmação. Ainda assim não me sinto aliviada, mas também não vou pensar no pior.

- Certo. – Concluo. – Vou preparar uma canja quente e buscar algo para a febre passar, caso continue terás de tomar banho gelado. – Anuncio e ele abre a boca para resmungar. – E nada de resmungar! Volto já.

Granger sobe na cama do meu pai e o deixo acompanhado pelo gato preguiçoso. Desço as escadas a correr aonde preparo a canja de galinha que ele tanto adora. São oito horas da noite quando termino salva de queimaduras. Coloco a canja, água e um remédio em cima de um tabuleiro para lhe levar.

Ao dirigir-me para o quarto do meu pai ouço-o conversar com o gato, fico escondida ao ouvi-lo.

- Sabes Granger, a nossa Charlie faz sempre uma explosão em pouca pólvora. – Comenta e eu abano negativamente a cabeça. – Ela está muito preocupada comigo, mas é apenas uma pequena febre.

Desenhos Solitários - Harry Styles PTOnde histórias criam vida. Descubra agora