20. Pai, Porto-Seguro.

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"A dor é inevitável. O sofrimento é opcional." - Tim Hansel


Charlie Bennett

Várias lágrimas derramavam pelo meu rosto, o taxista inspecionava-me curioso algumas vezes através do espelho do veículo, embora se mantivesse calado o que eu agradecia. O meu aspeto deveria estar miserável com a maldita maquilhagem borratada e cabelos desgrenhados, mas o meu interior estava bem pior que o exterior. Dentro de mim eu sentia o peito a arder, o coração no chão ainda em choque pelo que eu fiz: aceitar o que ele quer para si. Saber que não o terei mais para mim é terrível, pois habituei-me á sua presença, mas mais do que isso, habituei-me a amá-lo e o afastamento só irá causar-me dor.

Este é o meu primeiro coração partido, contudo mantenho a esperança que será por pouco tempo, afinal acredito que ele volte para mim. A nossa madrugada significou o mundo para mim e tenho a certeza que para ele também foi especial, a menos que eu tenha sido iludida durante todo este tempo.

- Menina chegamos ao destino. – O taxista avisa, dou-lhe o dinheiro e saio.

Em frente a minha casa eu tento recompor-me, embora não consiga. Tudo o que mais quero é chorar na minha cama, debaixo das cobertas como uma típica adolescente.

São seis e meia da manhã quando rodo a chave e entro em casa. Encosto-me na porta e tento esconder as lágrimas só por mais alguns minutos até chegar ao conforto do meu quarto. Contudo, uma sombra aparece na minha frente e rapidamente me viro de costas. O meu pai está estático atrás de mim enquanto limpo os meus olhos, o rímel suja as minhas mãos acredito que esteja a parecer um estúpido panda.

- Charlie? – Samuel chama e contínuo de costas voltadas para ele, não tenho coragem de o olhar. – Meu amor, o que aconteceu?

Granger aparece aos meus pés, olha para cima e assusta-se com o meu rosto. Em outra altura eu iria rir, mas agora tudo o que mais quero é chorar.

Respiro com dificuldade enquanto travo o choro dentro de mim a muito custo. Porém, eu preciso de uns braços para me acalmarem e me dizerem que tudo ficará bem e que ele voltará para mim. No momento, preciso do meu pai. Viro-me para o homem que me criou e não consigo olhar nos seus olhos. Ele vê o estado lastimável em que me encontro e logo aproxima-se de mim envolvendo-me num abraço protetor de urso. Agarro-me a ele e choro no seu peito ali no hall de entrada. Uma das suas mãos afaga os meus cabelos longos e começo por me sentir melhor por ter um porto-seguro.

O meu pai leva-me para o quarto e deita comigo a meu lado. Volta a abraçar-me até o meu choro se acalmar. Penso sobre o que aconteceu nesta madrugada, desde o momento em que ele disse que eu não parecia eu com este vestido ridículo; desde que nos embriagamos; quando contamos coisas engraçadas um sobre o outro; quando ele atirou no meu rosto que não precisa de mim e da minha ajuda; quando nos envolvemos e, por fim, quando parti com fotografias dos seus desenhos.

Se Harry se esforçasse um pouco ele entenderia que tenho sentimentos por ele, daí eu quer ajudá-lo com tudo o que tenho. Mas o sujeito rude não quis ver o que estava diante dos seus braços e preferiu magoar-me, esmagar o meu coração.

- Estás melhor minha filha? – Samuel pergunta cauteloso limpo as minhas lágrimas e aceno com a cabeça, embora eu esteja devastada. – Dorme um pouco, precisas disso.

Ele levanta-se e olha para mim preocupado. Não quero que ele vá e me deixe sozinha, preciso da sua presença.

- Pai, não. – Peço e agarro na sua mão. – Por favor, fica. Não quero dormir eu... - Mordo o lábio para não cair em outra crise de choro. – Eu não quero ficar sozinha, não agora.

Desenhos Solitários - Harry Styles PTOnde histórias criam vida. Descubra agora