IRREPARÁVEL

Capítulo 1

Saí do trabalho um pouco mais tarde naquela noite. Bob precisou de ajuda já que um bando de adolescentes fez a maior bagunça no que parecia ser uma despedida de turmas. Eu não podia julga-los. Na nona série eu fiz a mesma coisa com os meus colegas. Só que aquilo tinha que acontecer justo no dia que eu estava sem carro? O pior era que o meu celular estava descarregado, então nem ligar para os meus pais e pedir carona eu podia.

Checando a minha bolsa atrás das chaves eu andei distraidamente pela rua deserta até um carro parar ao meu lado.

-Andando na rua sozinha a uma hora dessas amor?

Uma corrente elétrica passou pelo meu corpo quando ouvi aquela voz. Virei a cabeça para o lado e vi Erick sorrindo para mim daquele jeito que me causava calafrios. Eu odiava quando ele sorria pra mim daquele jeito. Era quase doentio.

-R-Rick? -Tentei soar firme mas falhei miseravelmente. -O que você está fazendo aqui?

-Sabe como é. Eu estava dando uma volta por aí...

-Estava me vigiando. -Concluí com a voz indignada.

- Por que não? -Me encarou intensamente. Recuei um passo. -Não é porque a gente terminou que eu vou deixar de cuidar do que é meu.

Lá vinha ele com aquele papo de novo. Por que diabos ele não conseguia aceitar o fim do nosso namoro? Seis meses já não tinham sido o bastante?

- Eu nunca fui sua Rick. -Expliquei com a voz cansada.

Ele assentiu sorrindo de lado e apoiou o braço na janela do carro.

-Esse é o problema amor. Mas vamos resolver isso.

Não tive tempo de me perguntar o que ele quis dizer com aquilo. A porta de trás se abriu e me puxaram com tudo pra dentro do carro.

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Dias atuais...

Olhei bem para o estabelecimento a minha frente e respirei algumas vezes tomando coragem para entrar. Aquilo seria bom pra mim e para o Gabe, então eu não podia voltar atrás.

Entrei na academia e encontrei um pequeno grupo de pessoas se alongando. Fui para um canto e comecei a imita-las. Nunca precisei ir a uma academia em toda a minha vida, logo não sabia quais eram as regras. Não me senti deslocada pelo fato de ser a única mulher ali a usar uma regata larga e uma legue até o meio da canela (estava ali para aprender defesa pessoal e não para exibir o meu corpo) mas sim porque de todos ali eu era visivelmente a mais sedentária.

Alguns minutos depois um homem passou pelas portas trazendo uma bolsa enorme com ele. Pela quantidade de músculos com certeza ele devia ser o nosso instrutor.

- Muito bem, primeiramente boa noite a todos. -Respondemos um uníssono "boa noite" de volta. - Eu quero que fiquem todos um do lado do outro.

Fizemos como nos foi instruído e eu acabei entre uma negra alta e curvilínea e um cara gigante cheio de músculos. Me senti pequena no meio de tanta massa muscular. O instrutor começou a caminhar lentamente e a analisar cada um de nós com seus olhos azuis calculistas.

-Vamos as apresentações. Meu nome é Alex, sou ex militar e vou ser o instrutor de vocês pelos próximos meses. -Prosseguiu a lenta caminhada. -Primeiro eu quero deixar claro que isso aqui não é uma aula de box, muito menos de violência gratuita. É uma aula de AUTODEFESA. Ou seja, tudo que for aprendido aqui só pode ser usado em situações de perigo.

Apesar de rouca, a voz dele era alta e clara. Até um pouco autoritária eu ousaria dizer, e eu já queria ir embora dali. Falavam comigo naquele tom todos os dias da minha vida fodida, não precisava de mais um para entrar na lista.