Capítulo 18

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     Uma semana se passou.

     Uma maldita e infernal semana se passou sem que tivéssemos notícias de Erick ou do meu filho. Alex quase foi preso por agredir verbalmente e quase fisicamente os policiais quando fomos à delegacia saber como iam as coisas. Fomos todos os dias ao longo da semana, mas sempre ouvíamos as mesmas coisas.

     “Ainda não encontramos nada” ou “Estamos fazendo de tudo para encontra-lo”. Sempre saía perturbada e contrariada. A mim não parecia que estavam fazendo de tudo. Queria todo o exército, a artilharia do Tio Sam, as bombas nucleares... tudo atrás de Erick. Aí sim poderia concordar com eles quando afirmavam estar fazendo “de tudo” para encontrar meu bebê.

     Toda a minha família (sem exceções) foi para Boston ao saber do sequestro. Mel teve a bondade de resumir toda a minha história no caminho e eu me senti aliviada. Naqueles últimos dias não vinha tendo forças nem para sair da cama. Era como se estivesse morta. Uma morta-viva. Estive seriamente à beira da depressão e só não me afundei de vez porque Alex, Lin e minha família estavam ali para me apoiar e me colocar de pé.

     Depressão não traria meu Gabe de volta.

     A casa estava cheia, e eu vagava como um espectro. Sabia que estava com olheiras profundas resultadas pela falta de sono e pelas horas chorando mas não me importava. Não conseguiria dormir enquanto ele não voltasse intacto. Porque se aquele miserável encostasse as mãos no meu filho as coisas iam ficar feias. Muito feias.

     Fui pega de surpresa quando dois braços fortes me abraçaram de repente. Não era meu tio Leo (ele estava com Alex buscando meios alternativos de chegarem até Erick) nem tampouco Carter (estava ao telefone falando com seus contatos, juntamente com Tom que tinha muitos olhos e ouvidos nas ruas). Todos os homens estavam ocupados tentando mover céus e terras para me ajudar, então logo aquele só poderia ser meu pai. Seu cheiro inconfundível de colônia masculina e couro estava como sempre misturado ao cheiro de canela da minha mãe. E ali nos seus braços eu queria ter tido alguma reação, nem que fosse empurra-lo fracamente, mas não consegui. Estava imóvel. Fria.

     Vazia.

     O escutei fungar e logo estava com suas mãos grandes acariciando meu rosto. Seus olhos preocupados e avermelhados me fitavam intensamente.

     -Filha... me desculpa. –Falou rouco. Notei que todos ao meu redor pararam para observar a cena e continuei imóvel com o olhar fixo nos seus olhos. Ele continuou. –Eu nunca deveria ter falado aquelas coisas. Você é minha filha. –Fungou com os olhos marejados. –E eu me orgulho da mãe e da mulher que você se tornou.

     Meu peito se condoeu pelas suas palavras e mesmo odiando a mim mesma eu o perdoei. Ele estava mal, magro, triste... quase tão ruim quanto eu. Meus olhos se encheram de lágrimas e eu tive uma crise de choro, tão forte que precisei de um calmante (que vinha sendo o meu fiel companheiro naquela semana). Eram muitos sentimentos fortes e meu corpo estava fraco. Eu estava fraca, e me odiei por ser tão frágil. Eu precisava ser forte pelo meu filho, não ficar chorando pelos cantos como uma alma atormentada.

**********************

     Quando despertei na minha cama Alex estava se vestindo perto da cômoda. Me sentia mal então virei um pouco o rosto para vê-lo de um melhor ângulo.

     -Aonde você vai? –Perguntei com a voz rouca.

     -Me ligaram da delegacia. Acho que encontraram algo.

     Freei a onda de esperança que ameaçava se formar. Não queria me decepcionar com alarmes falsos.

     -Eu queria poder ir, mas não me sinto bem. –Resmunguei com o corpo ainda sentindo os efeitos do calmante. Estava mole sobre os travesseiros e mal tinha forças pra mudar de posição.

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