Capítulo 10

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     Gabe chorava sem parar enquanto eu o balançava tentando acalma-lo.

-Filho, por favor.... -Implorei.

Eu estava no meio do corredor do mercado e ele estava tão dengoso naquele dia... Ainda podia me lembrar de quando o segurei pela primeira vez e me senti completa. Aquele pedacinho de mim tinha ganho o meu coração no primeiro segundo em que pus os olhos nele.

- Com licença.

Me virei e vi uma asiática com aproximadamente cinquenta anos. Ela sorria para mim mas eu não consegui retribuir o gesto por conta do estresse.

- Sim?

- Você parece com problemas para acalmar o pequeno. -Pareceu hesitante em continuar. -Posso?

O modo como ela ergueu os braços na direção de Gabe indicou que ela queria tentar acalmar a fera. Olhei de um para o outro mordendo o lábio inferior mas quando Gabe respirou fundo se preparando para mais uma sessão de choro eu rapidamente o entreguei para ela.

A mulher segurou ele de um jeito estranho e o sacudiu cantando baixinho. Arregalei os olhos surpresa quando o choro de Gabe cessou completamente. Ela só podia ser uma bruxa asiática porque eu tentei de tudo e o menino não parava de chorar de jeito nenhum.

- Você é boa nisso. -Observei quando ela ninou Gabe até que ele dormisse.

Ela sorriu amavelmente para mim.

-O meu Robert era do mesmo jeito nessa idade. -Gabe resmungou e ela o sacudiu de leve. -Calma pequeno.

- Eu não faço ideia de como fazer ele se acalmar. Que grande mãe eu sou.

-Mãe de primeira viajem? -Anui e ela balançou a cabeça. -Ninguém espera que você acerte tudo de primeira. Não cobre tanto de si mesma.

Guardei aquelas palavras enquanto ela me entregava o meu anjo. Coloquei ele no bebê conforto e olhei agradecida para ela.

-Obrigada. Você salvou a minha vida...

-Lin. -Estendeu a mão para mim.

-Prazer Lin, sou Tamy.

Eu não sabia, mas ali estava se iniciando um laço muito forte. Lin viria a ser uma pessoa muito importante na minha vida.

********

Lin dormiu na minha casa naquele sábado (depois de muita insistência), então no domingo se ofereceu pra levar Gabe para passear. Eu teria ido com eles mas dificilmente tinha tempo livre então resolvi fazer uma coisa que não fazia há anos: correr.

Depois de vestida corretamente eu saí de casa prendendo os cabelos em um rabo de cavalo e iniciei minha corrida pelo bairro. Enquanto saía da calçada da minha rua eu via algumas mulheres (daquelas que vão para as esquinas da rua para fofocar) me olhando torto. Claro, eu não tinha uma família feliz como todos daquele bairro aparentemente tinham. Morava sozinha com o meu filho pequeno e só tinha como companhia a minha babá e também única amiga. Minhas "primas" me visitavam de vez em quando e eram só eles que eu recebia na minha casa. Depois que uma dessas "adoráveis" senhoras foi na minha casa na companhia de duas amigas com a desculpa de me dar uma cesta de café da manhã como boas-vindas ao bairro (isso quando eu já estava ali há quase um ano) e ficou fazendo insinuações sobre como o meu filho precisava de um pai e sobre como era difícil criar uma criança sozinha eu delicadamente as mandei pegar o caminho da roça.

Onde já se viu, ir visitar a pessoa pra ficar dando palpite sobre a vida dela. Que absurdo! Mas foi bom porque depois disso ninguém veio me visitar de novo, o que eu considerava um enorme alívio. Antes só do que mal acompanhada. Palavras de uma pessoa muito sábia que devia ter vizinhos tão ruins quanto os meus.

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