-Você sabia que podia cair dali?!
Um garoto de cabelo pintado de platinado, olhos azuis - hipnotizante -, boca fina, estatura física alta me impediu de pular do edifício, que revolta.
-Sabia... -Digo olhando para ele triste, sem reação.
-Então por que estava la? -Ele me olha.
-Não é da sua conta garoto. -Digo desviando o olhar.
-Dylan moça.
-Kartnay.
-Por que estava la em cima? -Diz apontando para a beirada
-Já disse que não é da sua conta. -Digo me levantando.
Pego minhas coisas e saio do terraço deixando-o sozinho. Vou para meu andar - terceiro andar - entro em casa, subo as escadas - Sim, apartamento duplex - e vou para o meu quarto, sento na cama, suspiro e apoio meus braços no joelho e debruço.
- Falhei novamente com minha tentativa - penso.
Começo a chorar, sozinha, sem ninguem para desabafar, um ombro amigo. Com o rosto meio inchado, resolvo tomar um banho, ligo o chuveiro e espero a banheira encher. Entro ali e fico pensando em como sou uma covarde.
Se aquele garoto nao tivesse aparecido...
Enquanto sinto a água em minha pele, fico chorando e pensando que mais uma vez eu falhei em tentar ser feliz, falhei na tentativa de tirar minha dor eternamente. Vejo toda aquela agua e vejo uma tentativa de suicídio ali mesmo. Coloco minha cabeça de baixo daquela agua, e em torno de milésimos de segundos uma imagem aparece em minha mente, minha mãe... Eu estava brincando e ela no banco do parque que havia no edifício, eu tinha apenas quatro anos, tinha acabado de machucar o joelho e fui chorando até ela...
-mamãe, esta doendo. - Digo em meio aos soluços.
-Calma, eu estou aqui, sempre estarei com você minha pequena. Daqui a pouco melhora tabom? - Diz Helena com um sorriso sincero que eu adorava, depositando um beijo no machucado.
Aquele sorriso me alegrava todo dia, aquilo sim era sorriso sincero.
-Kartnay, acorda. Você não pode desistir assim. -Diz uma voz que parecia com a da minha mãe -Eu sei que a vida esta difícil, mas você tem que ser forte. Acorda Kartnay!
Levanto ofegantemente de dentro da água. Tampo meu rosto com minhas mãos e choro.
-mãe... -Digo aos choros.
••••••
Outro dia se passa, vou para a escola como se nada tivesse acontecido, como se minha vida estivesse ótima e feliz. Entro na sala e me sento, logo a professora Cíntia começa a falar:
-Pessoal, é inicio do ano letivo. Vocês sabem que semprem fizemos um acampamento de boas vindas, certo? Ficaremos em um acampamento durante quatro dias. Espero vocês todos aqui, sexta-feira, as sete da manhã. - A Professora se vira e começa a dar aula que eu nunca presto atenção direito.
Várias horas se passaram e a única coisa que me concentrava era na paisagem e no meu desejo de morrer. Bateu o sinal para o intervalo e logo Bianca veio até mim.
- Vamos la Kartnay, se segura, se acalma. -Penso.
-Kartnay, eu falei que você me pagava por ser suspensa. -Diz Bianca olhando as unhas.
-A culpa não é minha...você que começeu com a intriga... -Digo a olhando com medo
Ela me pega pelo colarinho e me levanta da cadeira, aproximando meu rosto ao dela.
-Olha aqui garota mal amada, cuidado com a boca. - range os dentes. - Eu disse que você iria pagar e irá pagar agora mesmo.
As meninas me empurram para fora da sala até o pátio, onde todos ficam para lanchar. Elas foram até o meio do pátio e logo me jogaram no chão. O pessoal que antes falava, estava em silêncio nos olhando e fazendo uma roda em volta da gente. Quando me levanto, Bianca joga um balde de água em mim - por que isso? Ja chega... -. As pessoas começam a rir, vejo Yan entre aquela multidão aglomerada em minha volta, me olhando com um olhar triste e preocupado. Empurrando todo mundo, Yan vem em minha direção me entregando seu casaco e me tirando daquele local, me levando até o vestiário de educação física - sempre deixo uma roupa extra la -, coloquei uma camiseta regata azul e por cima uma blusa de frio preta com uma calça jeans escura.
Yan fica do lado de fora me esperando e quando eu saio, ele me olha.
-Você esta bem? -Pergunta Yan.
Estou de cabeça baixa mas logo levantei gritando aos choros.
-Por que você quer saber?! Por que se preocupa comigo?! Me deixa em paz! Por que não faz que nem os outros e me zoa também?! Eu não mereço ser ajudada! Sou um lixo humano!- Digo saindo correndo, o deixando sozinho ali, na entrada do vestiário feminino.
Vou até minha sala e encontro minha professora Cíntia mexendo em alguns papéis, com seu óculos e cabelo preso em um coque.
-Oi professora, eu posso ficar aqui na sala? -Pergunto.
-Pode Kartnay, aconteceu algo? Seu rosto esta inchado, estava chorando? - Pergunta Cíntia preocupada.
-Não professora, estou bem. -Mostro um sorriso simples e falso.
Sento em minha carteira, me debruço e começo a chorar, me segurando para não chorar alto e nem soluçar para a professora não ouvir.
Nada melhora, tudo piora, quero apenas morrer para que tudo isso acabe, eu não aguento mais viver, eu quero a morte, eu não aguento mais... Eu...-Kartnay.
-Já falei que to bem professora, muito obrigada por se preocupar. - Digo sem levantar minha cabeça, fungo.
-Você não está bem kartnay, vem aqui. - Cíntia me puxa e me envolve em seus braços. - Vai ficar tudo bem, sei que a vida é difícil, mas um dia ela melhora, só espere pelo tempo e não desiste sobre o que a vida ira fazer com você, a tempestade sempre se acalma algum dia, só espere e aguente o máximo que der tudo bem? Eu vou estar aqui para o que der e vier, não sou só sua educadora.
E ali em seus braços eu choro mais ainda.
-Eu não aguento mais tudo isso...
E ali, desabafo com minha professora...
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O Grito Silencioso (Livro I)
No FicciónKartnay leva uma vida dificil na escola e em sua casa, sem ninguêm com quem conversar, kartnay se entrega à auto-mutilação com um único objetivo. Tirar sua dor. Apesar da vida ser difícil ao extremo, Kartnay acha que um dia pode ter uma vida de paz...