Antes da decisão - Cap:14

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Fazem exatos quatro dias que me encontro nesse porão, sem comida, sem água, sem banho. Meu corpo está ficando fraco, já não aguento mais minhas pernas.

A idéia de ir na janela para chamar alguém no outro dia falhou, pois no mesmo momento Márcia entrou, viu e me puxou pelos cabelos novamente a tempo de eu pedir ajuda, me fazendo cair naquele chão gélido. Não consigo dormir direito por conta do frio e desconforto, já não posso mais andar, meu corpo se sente pesado, sem a força do poder de se movimentar. Os objetivos de Márcia estão ocorrendo bem, logo irei morrer, para a sua felicidade.

Esperando que a morte chegasse, uma bola passou pela janela, deve ter sido as crianças jogando bola. Pera, a bola esta aqui! Eles vão vir aqui! Eles iram me ver e vou ser salva!

Ouço o rangido da porta se abrindo, era Marcia. Entrou com cara de vencedora e olhou para mim rindo.

—Não foi dessa vez kartnay. —Pegando a bola e saindo dali novamente.

Eu só queria sair daqui... E eu não tenho nem minhas lâminas para passar meu tempo, ou talvez me matar... Quero o Dylan...

Se passaram algumas horas, já era de tarde, estava chovendo, fazendo o porão ficar mais gélido e com algumas gotas de água, que descia da janela escorrendo até o chão.

Ouço o rangido da porta, já sei que é a Márcia. Só quero que tudo isso acabe logo...

—Kartnay?

Reconheço a voz e levanto minha cabeça rapidamente, não cabia tanta felicidade dentro de mim, não aguentei de tanta felicidade, comecei a chorar. Finalmente eu sairia daqui... Eu iria continuar viva, mesmo que eu não queira, mas estou muito feliz por ele abrir a porta, me ver e me tirar.

—Dylan... —Choro.

—Sabia que tinha alguma coisa errada, Marcia enganou todos falando que você viajou, mas vinha direto aqui no porão, comecei a desconfiar, desculpa não ter vindo antes Kartnay...

Pondo a mão em meu rosto, Dylan encosta sua testa na minha, colidindo seu nariz com o meu, consigo sentir sua respiração, sua temperatura que se encontra quente, muito quente. E esses olhos verdes, me fitando querendo ver o que acontece em minha alma, tentando descobrir quem sou, querendo ver além de minha alma, alguem normal...

—Vem, vou tirar você daqui. —Dylan olha a porta para checar se não tem ninguém.

—Eu não consigo andar, não como a dias...

Dylan me pega no colo e me tira dali as pressas, subimos pelas escadas até seu apartamento, abrimos a porta de sua casa e entramos.

Dylan me coloca no sofá delicadamente.

—Você deve estar morrendo de fome, sede, e com uma bela vontade de tomar banho né? —Fala dando uma pequena risadinha.

—É bom ter alguém que ri até nos momentos sérios, fazendo-me esquecer dos problemas... —sorri de leve.

—Ainda bem que sou esse alguém.

Sempre nas horas certas Dylan esta do meu lado para me salvar, mesmo que na maioria das vezes não queira ser salva... Algo em mim esta despertando em relação ao Dylan, será que estou a gostar dele?...

—Quer tomar banho primeiro? —Pergunta Dylan.

Apenas assenti, o mesmo me pega no colo e me leva para o banheiro, ele me senta no vaso sanitário e me olha.

—Consegue sozinha? — Pergunta ele com um pouco de vergonha.

—Sim, obrigada. —Digo sorrindo.

O vejo indo até a porta.

—Qualquer coisa chama Kartnay.

—Obrigada de novo e... Por tudo... —Digo abaixando a cabeça, fitando o chão.

—Não precisa agradecer, sou seu... Amigo para isso, quero te ajudar como eu já disse, agora toma banho para você comer tabom?

Dylan toca em meu rosto encostando sua testa na minha, fazendo-me sentir sua respiração.

—Obrigada por estar na minha vida Dylan...

Dylan da um sorriso simples e se retira do banheiro para que eu possa tomar banho. Me levanto com muita dificuldade e olho no espelho. Encontro-me suja, o gorro que peguei no porão esta sujo junto de minha calça de algodão e minha blusa de manga longa rasgada no ombro direito, com sangue de alguns dias atrás.
Tiro minha roupa, e vejo meus cortes nos pulsos, coxas e alguns até mesmo na barriga. Estou horrível — Sou horrível —, suja, marcada, ninguém irá me querer assim. Nunca me quiseram essa é a verdade. Sou apenas uma pobre garota, fraca, que nunca terá ninguém, apenas se entregando para a auto-mutilaçao, esperando a morte vir. Desisti de mim mesma faz tempo, e ainda acham que tem jeito um erro como eu, nunca terei concerto. Quantas vezes já sentei em minha janela pensando em pular, mas algo me impedia de fazer — Infelizmente —. Agora estou aqui, como o mundo queria me ver, sofrendo. Por que não acaba logo com isso e finalmente me deixe descansar? Gosta tanto de me ver sofrer, de ver minhas lágrimas e meu sangue caindo ao chão da meia noite? Estou me esgotando, o sangue esta acabando e a última gota será do meu último suspiro que darei a todos vocês da Terra.

O Grito Silencioso (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora