Snow || Ezria

Capítulo 1- Congelada como picolé (Ezra)

─ Atrasado ─ Disse Toby ─ vinte minutos Ezra, seu apartamento é ao fim do quarteirão, não havia como vir correndo? ─ Ele tira o capacete deslizando no gelo até a porta da quadra, onde eu me mantia parado segurando uma lista de livros a procurar e resumos que tinha que fazer. Uma caneta estava atrás de minha orelha e outra em minha boca. Desespero é tudo que eu consigo sentir no momento, como fui capaz de deixar quatro resumos atrasados? Ainda há uma reunião com o departamento de Oxford hoje. A neve só forma mais e mais montes, e todos os noticiários falam sobre a nevasca que está se aproximando da cidade.

─ Não posso jogar.

─ Claro que pode, ninguém vem à quadra hoje por causa da neve, estamos sozinhos. ─ Diz ele ajeitando seu cabelo loiro.

─ Eu tenho trabalho pra fazer, a biblioteca está fechada e tenho que pegar a chave com Sid.

─ Está nevando. ─ Ele diz como se tentasse me alarmar.

─ Quatro resumos Toby, quatro!

─ Nevando. ─ Tobias diz novamente.

─ Que horas são? ─ O pergunto batendo meus pés uns nos outros, havia deixado meu celular em casa para que não ficassem me ligando ou que eu sentisse necessidade de responder alguma mensagem do meu irmão, já que era o único a procurar sinal só pra me mandar foto no snap.
Toby puxa a manga da camisa olhando as horas em seu relógio de pulso.

─ Nove e meia, nevando.

─ Merda! ─ Digo batendo a caneta na folha, dando meia volta.

─ Está nevando Fitz! ─ Exclamou Toby pela milésima vez, mas ignorei pela milésima primeira.

Depois de passar no café do campus, e comprar quatro cafés para que garantisse certeza de que eu não morreria de frio ou de sono, lendo todos os livros possíveis sobre a segunda guerra mundial. Peguei a chave com Sid em seu dormitório e fui correndo para a biblioteca. Seguro a folha em minha boca, segurando o papelão que prendia os copos do café com firmeza, tentando não estremecer ao máximo minhas mãos nua, expostas aos flocos gelados que caíam sobre elas. Ao destrancar a porta empurrei com força a abrindo. Aquele ar quente conservado por tempos veio diretamente em minha cara, aquecendo rápido meu corpo. Entro correndo e coloco o café na mesa. A janela perto das estandes permita ver o outro lado do campus, tendo assim visão do completo branco e algumas pessoas totalmente cobertas saltitando pela neve. Quem fica saltitando na neve a manhã de sábado?

─ Está aberto? ─ Escuto um voz feminina parando na porta entre-aberta, um rangido vindo da madeira recua todo o local.

─ Não. ─ A respondo rápido.

─ Por favor, tenho um trabalho a fazer e os computadores estão sem internet.

─ Deveria ter feito antes.

─ Pra você estar aqui também deveria ter feito o seu antes. ─ Touché.

─ Entra, mas só você. ─ A porta é empurrada e uma garota, não tão alta, entra. Seus cabelos eram curtos e castanhos, estavam quase sendo escondidos por uma touca branca. A garota fecha a porta e fica de frente.

─ Fitz. ─ Montgomery. ─ Dissemos ao mesmo tempo assim que se reconhecemos. Não era como se fôssemos amigos ou colegas. Apenas conhecidos. Eu era conhecido, ela era conhecida. Seria difícil nenhum dos dois ter ouvido falar do outro. Eu nunca tinha realmente a encontrado. Era sempre capa de jornal ou noticiário. Depois de ter sido sequestrada e se tornado uma das cinco, foto de Aria era quase um panfleto de Rosewood, todos já viram em algum momento.

─ A tempestade já chegou ao norte da cidade, acho melhor não demorarmos muito aqui dentro. ─ Ela diz ao perceber que meu olhar estava fixado nela.

─ Sim. ─ Devio a atenção andando até a prateleira com placa dourada escrito "História" em branco. Passei o dedo em cada livro como se automaticamente algum sobre Hitler ia se materializar com meu toque. As coisas não funcionam assim, mas por pura coincidência ao fim do corredor lá estava ele. O puxo, e ao mesmo tempo o livro da prateleira a frente é puxado também. Aria franze o senho ao me ver, e eu dou de ombros.

─ Literatura?

─ História?

─ Sim ─ Respondemos juntos ─ Uau.
─ Falamos novamente e rimos. Pego o livro e vou o equilibrando em meu dedo como se fosse uma bola de basquete, nunca fui tão bom em esportes, deve ser por isso que ele caiu. Minha facilidade era literatura, me invejava seu trabalho, debates de conhecimento é algo tão colegial, mas os pontos são altos pro meu curso. É um saco estudar história, mas é isso ou ficar se matando pras provas. Aria senta em outra mesa pouco a frente a minha, mas mesmo assim não eram próximas. Ela é linda, tenho que admitir, porém, não deixa de ser algo demais para mim.

Depois de algum tempo o silêncio se tornou minha única parceira naquela manhã. Foi como se o nada dissesse "Vamos ficar quietos?" E assim qualquer som respeitou e se calou.

A luz começou a piscar até que se apagou. Escuto um suspiro fundo, era mais de medo que raiva. A neve começou a se colidir com a biblioteca, o vento era completamente forte e pesado. Só havia um problema maior que a falta de luz: A biblioteca tinha no mínimo quatro à cinco pinheiros em sua volta, que seguravam neve por três dias.

Não demorou nem cinco minutos para que toda a neve caisse e nós ficassemos presos juntos.

─ Droga! ─ Montgomery exclama assim que sente o calor acumulado começar a se tornar frio.

─ O aquecedor.

─ Estamos presos Ezra, enterrados em neve. ─ Aria praticamente me espanca com suas palavras. Levanto com rapidez quase batendo meu corpo em todas as mesas até ir ao balcão do bibliotecário, pego uma lanterna de pescador do armarinho escostado no chão, proximo a cadeira de rodinhas. Coloco em cima do balcão ligando a mesma. E por intuído, ou sensatez a olho com vigor. Aria por algum motivo misterioso estava tremendo de frio, a menina começou a se contorcer e nada falava.

─ Está congelando. ─ Eu disse tirando minha jaqueta, depois o moletom de baixo, e a entrego ambos.

─ Eu sei. ─ Foi tudo o que me respondeu.