Capítulo 2

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A voz do outro lado da linha soou mais rouca que de costume, e com uma ponta de impaciência.

Ela sorriu, divertida.

— Como sabia que era eu?!
— Quem mais me telefonaria às duas e meia da manhã? — devolveu Youngjae, num bocejo.
— Nossa! É tarde assim? Sinto muito.
— Sente nada!
— Se bem que, se não fosse tão cabeça dura, podia receber algum telefonema mais interessante vez ou outra.

Ele bufou com exasperação.

— O que foi dessa vez?
— Está zangado mesmo, Youngjae? — murmurou ela, surpresa. — Por acaso
estava... ocupado?
— A essa hora? O que esperava que eu estivesse fazendo?
— Bem, numa noite de sábado... — Hyemi hesitou por um instante. — Podia estar acompanhado.
— Hyemi, eu estava dormindo! E sozinho!
— Não precisa ficar nervoso!
— Sem comentários! E para responder sua próxima pergunta, passei a noite jantando com meus pais.
— Que perda de tempo, Oppa! Como espera encontrar a mulher dos seus
sonhos desperdiçando seus fins de semana, assim?
— Acha que se eu estivesse com alguma mulher aqui, iria lhe dizer?
— Por que não? — retorquiu ela, em tom de ingenuidade. — Não seria o fim do mu...
— Nunca — interrompeu ele, áspero. — Por acaso iria gostar se eu ficasse
bisbilhotando sobre seu encontro de hoje à noite?
— Não teria nada de mais! Mesmo porque foi um desastre. Ele não parava de me chamar de Hyomi?
— Sei... Afinal de contas, para que me ligou?
— Ah! Antes que eu me esqueça: deu um beijo em seus pais por mim?
— Dei. Também disse o quanto gostaria de ter ido comigo, e que se não fosse por esse inadiável compromisso...
— Não precisava exagerar!
— Precisava, sim. Minha mãe ficaria decepcionada se soubesse que preferiu jantar com um sujeito qualquer a comemorar conosco seu aniversário.
— Ah, meu Deus! — Hyemi deu um tapa na testa, morta de vergonha. - Esqueci, Youngjae, mil perdões!
— Eu sei que esqueceu.
— Parabéns, mesmo assim!
— Obrigado.
— Podia ter dito a eles que era um jantar de negócios.
— Não acreditariam. Neste caso eu teria ido com você.
— É mesmo. — Ela suspirou. — Agora, mudando de assunto, foi por isso que
liguei. Lembra-se de Meghan?
— Claro! Acabei de sonhar com ela.
— Sério?!

Ele riu.

— Estou começando a achar que é verdade. — Hyemi torceu o nariz. — Enfim, estive pensando que o nome dela seria perfeito para o nosso perfume. Aposto que Meghan gostaria de se ver associada à Bonjil Cosmetics.
— Quer dizer que não gostou dos nomes que sugeri.
— Youngjae... honestamente! Acha mesmo que eu iria gostar?
— Não. Nunca gosta. — Ele soltou um bocejo. — Não poderíamos conversar
sobre isso amanhã. Ou melhor, segunda-feira no escritório?
— Por que não agora?
— Porque é de madrugada!
— E daí?
— Hyemi, não me obrigue a mudar de telefone.
— Não faria isso. Sabe que sou mais criativa nestas horas.
— Para azar meu.
— Antipático! Que tal tomarmos café juntos, amanhã? Nove horas está bem?
— Aí ou aqui?
— Aí, lógico! Esqueci de comprar pão, hoje... — Hyemi riu, desligando antes
que ele pudesse retrucar.

Apagou a luz do abajur e afundou nos travesseiros com um suspiro. Às vezes tinha a impressão de que Youngjae não dava a mínima para a Bonjil. Muito menos para ela.

Às nove da manhã em ponto, Hyemi fechou a porta do apartamento atrás de si e desceu escada abaixo, agitada. A idéia de residirem no mesmo edifício havia partido de Youngjae. Tinha argumentado que, se era ele quem precisava socorrê-la cada vez que houvesse um fusível queimado, uma torneira pingando ou alguma colher entupindo o ralo da pia, não queria mais atravessar meia Seul para isso.

Sem dúvida, tinha sido um grande exagero da parte dele. Porém o apartamento vago mostrara-se bastante aconchegante. Tanto que, em seis meses, havia mudado.

Não obteve resposta ao bater à porta de Youngjae, e o jornal de domingo
permanecia sobre o capacho da entrada.

— Preguiçoso — resmungou e, sem pensar duas vezes, apanhou sua cópia da chave na bolsa.

Não percebeu sinal de vida ao entrar no apartamento e, assim, foi direto para a cozinha preparar o café. Correu os olhos pelas notícias do dia enquanto aguardava o ciclo da cafeteira, então serviu duas xícaras e carregou-as numa bandeja para o quarto de Youngjae.

Encontrou-o esparramado na cama larga, o rosto semi-oculto pelo travesseiro. Olhou o jogo de lençóis com motivos modernos em gelo, preto e vermelho, satisfeita.

Tinha sido um presente seu no último Natal. Havia alegado que todo homem solteiro precisava de um daqueles para qualquer emergência... Mas até agora Youngjae não se mostrou muito agradecido.

Observou-o em silêncio. Ele era tão bonito! Mesmo com a barba por fazer e os cabelos pretos em desalinho. Tinha pele um pouco bronzeada e físico um pouco atlético, com os poucos músculos definidos que tinha, se destacavam mesmo sob os ternos bem cortados que costumava usar. Agora o lençol escorregava até a cintura, expondo as costas largas e um pouco bronzeadas.

Hyemi balançou a cabeça. Não entendia como Youngjae podia continuar sozinho.

Não era, nem um pouco, de se jogar fora!

Passou a xícara de café sob o nariz dele e apoiou-a no criado-mudo, antes de instalar-se ao pé da cama.

— Bom dia! — saudou alegremente, quando ele abriu um olho e sustentou-se num cotovelo, atordoado.
— É muito cedo! — grunhiu.
— Não encontrei pão. Onde escondeu?
— Também esqueci de comprar, ontem.
— Ah, gracinha! — Hyemi tomou um gole de café. — Se eu soubesse, não
tinha levantado tão cedo.
— Então concorda que é cedo... —Youngjae sentou-se na cama, puxando as cobertas até a metade do peito. — A que devo a honra dessa visita ao meu quarto?
— Bati à porta, mas não atendeu, então entr... Está com vergonha?! — ela exclamou divertida, ao dar-se conta do rubor na face de Youngjae.
— Há de concordar que esse tipo de atitude não é muito comum, mesmo entre amigos.
— Mas também não é exatamente anormal, pelo amor de Deus! Você é homem, Youngjae! Ter uma mulher no quarto não deve ser nenhum bicho de sete cabeças.
— Não é esse o caso.
— Ah, claro! É porque não está usando pijama e gostaria de que eu saísse para
poder se vestir. Tudo bem... Apesar de que eu já o vi sem roupa antes. Costumávamos tomar banho juntos, lembra-se?
— Mas isso quando tinha dois anos e eu quatro!
— Tá bem, tá bem. Se quer que eu saia...
— Quero. Podia dar um pulo até a esquina e comprar os pães enquanto tomo um banho?
— Pensei em convidá-lo para almoçar, para comemorarmos seu aniversário. E aproveitarmos para discutirmos a respeito de Meghan.
— Não quero passar o domingo conversando sobre perfume. Vive criticando minha precária vida social, mas só sabe pensar na Bonjil Cosmetics!

Hyemi ergueu o queixo, com desdém.

— Pelo menos eu tenho uma vida social.

Será que é AMOR? || Yoo Youngjae B.A.P || Onde histórias criam vida. Descubra agora