Era pouco mais de cinco da tarde, porém o inverno já teceu seu manto negro no céu e as luzes da avenida adornavam o início da noite feito jóias.
Hyemi cruzou o estacionamento, parando ao lado do carro de Youngjae.
Suspirou, tomada por uma estranha sensação de solidão. Não se sentia disposta a atravessar Seul sozinha na noite escura e fria, tendo um apartamento vazio como destino.
— Que tal uma partida de buraco ou um filminho no vídeo daqui a pouco? — perguntou. — Posso pedir sanduíches pelo telefone.
— Hoje não, Hyemi — Youngjae negou com a cabeça. — Quero ficar por aqui
mesmo e trabalhar um pouco.
— O que há de tão importante, para querer fazer hora extra?...
— A campanha para o novo perfume, ora!
— Pensei que a agência de publicidade estivesse cuidando de tudo.
— Praticamente. Vamos começar as fotos dia primeiro.Então, Meghan estaria de volta em dois dias, concluiu Hyemi, a contragosto.
— Pensei que Meghan fosse ter mais algum tempo de folga.
— Ela já teve uma semana.
— Nossa, quanta generosidade...
— Não fui eu quem determinei isso. É também interesse de John dar cabo
desse compromisso o mais breve possível.
— Na certa ele tem medo de que ela comece a sonhar com banana-splits se ficar muito tempo parada... — ironizou ela. — Mas se os anúncios já estão encaminhados, o que mais resta fazer?
— A publicidade em si. Meghan é notícia. Se conseguirmos capitalizar sobre isso, vamos obter ainda mais resultados.
— O que está planejando?
— Telefonei para um programa de entrevistas esta tarde e marquei uma para o final da semana que vem. Não imagina o que há de repórteres correndo atrás de uma chance de conversar com Meghan.
— Todos homens, sem dúvida...
— Não senhora — Youngjae lançou-lhe um olhar de desagrado. — Esse contrato é um furo de reportagem: uma top model associando-se a uma indústria de cosméticos de renome.
— Espero que John reconheça o tanto que tem feito pela carreira da "pupila" dele — observou ela, com malícia.
— Estou fazendo isso pela empresa — contestou ele. — Qualquer publicidade alcançada por Meghan agora será dinheiro nos nossos bolsos, não se esqueça disso.
— Ah, claro que não! Além de também não fazer mal nenhum a ela.
— Também.
— Sei. — Suspirou. — Bem... Antes que se tranque no escritório, que tal
planejarmos algo para o reveillon, amanhã?Youngjae demorou a responder, visivelmente embaraçado.
— Não posso.
— Essa não!... Vai virar o ano sem mim? Que desaforo! — o tom de zombaria na voz dela não ocultou de todo sua decepção. Não se lembrava de ter passado um só reveillon sem ele.
— Não vou a nenhuma festa — explicou Youngjae. — Tenho um encontro.Hyemi engoliu em seco. Quis dar uma resposta apropriada como: "Fica para a próxima, então" ou "Não faz mal, divirta-se". Mas, por alguma razão, não se conteve:
— Essas saídas com Meghan aumentaram um bocado sua autoconfiança, não? — ouviu-se dizendo, com despeito.
— Talvez. O que já não posso dizer em relação a você... — Youngjae abriu a porta do carro, permitindo a entrada de uma rajada de vento.Esta, porém, não foi a causa do frio que tomou conta de Hyemi. Recordar o que tinha acontecido no Natal ainda a desnorteava.
— Youngjae?! — chamou, antes que ele se afastasse. — Quem é ela?
Ele baixou o corpo para encará-la pela janela.
— Meghan — respondeu, simplesmente, batendo a porta.
Depois do calor humano reinante na casa dos Yoo, o pequeno apartamento pareceu a Hyemi mais frio e deprimente do que nunca. O pó tinha tomado conta dos móveis, a árvore de Natal pendia, ressecada, a um canto.
Olhou ao redor, combatendo uma onda de desânimo. Faria como a mãe dela. Iria descarregar a frustração na sujeira, decidiu, apanhando o aspirador.
Mas, afinal de contas, por que estava frustrada?, perguntou-se, confusa. Por que não teria a companhia de Youngjae? Não precisava ficar enfurnada em casa no reveillon, por causa disso! Era só pegar a agenda de telefones.
Isso se a maioria dos homens supostamente disponíveis já não tivesse programa, reconsiderou.
Ora, e quanto a Honggi? Tirando o fato de ele insistir em chamá-la de Hyomi, haviam se saído muito bem no último encontro...
Não. Honggi era capaz de nem reconhecer o nome dela ao telefone.
Taehyung estava fora da cidade e Himchan fora de cogitação: tinha arrumado uma namorada.
Suspirou, longamente. Talvez devesse desistir de procurar companhia e ir
sozinha a uma das muitas festas para que foi convidada. Torceu o nariz. Uma mulher "extra" era sempre bem-vinda nessas ocasiões.Mas não queria ir desacompanhada a lugar nenhum!, decidiu com rebeldia.
Meia hora depois, o aspirador permanecia no meio da sala. Hyemi tinha removido o primeiro saco de poeira sem problemas, mas não vinha tendo a mesma sorte com a colocação do novo. Cada vez que acionava o interruptor, restos de pó espalhavam-se pelo carpete.
"Precisa dar um jeito neste infeliz sozinho", comandou a si mesma. Não vou chamar Youngjae!
Mudou a posição do saco, insistente. Ligou o aspirador e uma nuvem de poeira tornou a salpicar a sala.
— Droga! — praguejou, correndo o braço pela testa.
O telefone tocou nesse instante e ela se pôs de pé, de um salto. Podia ser Youngjae reconsiderando a proposta para os sanduíches.
— Alô!
— Hyemi? — Uma voz familiar atravessou a linha. — Sou eu, Taemin.
— Ah!... Oi!
— Oi, eu... — ele gaguejou, ansioso. — Escute, Jihye vai dar uma festa de Ano novo, amanhã.
— Quanta originalidade.
— O quê?Ela suspirou, sem paciência.
— Nada, nada.
Taemin silenciou por um minuto, parecendo confuso.
— Taemin? — Hyemi chamou, estalando a língua. Estava sendo injusta, reconheceu, arrependida.
— Eu queria saber se não gostaria de ir comigo — aventurou-se ele, de uma só vez.Ela coçou a cabeça.
— Taemin, não sei se Jihye iria gostar muito da idéia.
— Vai ser num restaurante! Ela alugou um dos salões.
— Não naquele em que fomos outra noite, espero?... — A observação escapou antes que ela pudesse se conter.
— Ah, não. Esse é ótimo.
— Sei. Sinceramente, Taemin, Jihye...
— A festa é minha também - interrompeu ele, apressado. — E você é a única garota que eu me sinto à vontade para convidar."Que lisonjeiro!...", Hyemi refletiu, desanimada.
— Desculpe-me ter telefonado assim, em cima da hora — Taemin prosseguiu, nervoso. — Deve ter mil programas para amanhã à noite, não?...
Ela teve vontade de rir. Que tipo de programa? Ficar em casa e fazer a unha? Assistir à televisão? Limpar de novo o apartamento?...
— Eu gostaria muito de ir com você, Taemin.
— Sério? Gostaria mesmo?Também não precisava ter exagerado. Hyemi fez uma careta. Apesar de que se recusava a passar o reveillon sozinha só porque Youngjae tinha outros planos. Já estava farta de depender dele.
— Nossa! — O rapaz suspirou, aliviado. — Deixe só Jihye saber disso.
Hyemi bufou em pensamento. Não gostaria de estar na pele dele quando isso acontecesse.
Resignada, deu a Taemin o endereço, concordando em estar pronta às oito.
Depois recolocou o fone no gancho, voltando-se para o aspirador com determinação:
— Muito bem, engraçadinho, não vai haver mais Youngjae por aqui. Somos só eu e você, agora! — Torceu o bocal do saco, encaixando-o com um tranco.Ligou o interruptor e o aparelho pôs-se a funcionar, obediente.
Boquiaberta, ela levou as mãos à cintura.
— Não acredito... — Riu.
Youngjae, afinal, não era tão indispensável assim!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Será que é AMOR? || Yoo Youngjae B.A.P ||
FanfictionA cidade estava adormecida. As ruas, cobertas de neve, lembravam fitas de cetim enfeitando às luzes de Seul. Hyemi cismava na janela de seu apartamento, se perguntando como o rumo de sua vida mudou tanto em tão poucos dias. Youngjae, seu amigo, seu...