Depois de um dia cansativo de trabalho imersa entre processos e audiências intermináveis me vi cercada de gente chata, mal humorada que por si só acabam com qualquer ser. Eu estava esgotada precisando desligar, minha cabeça latejava e meu corpo todo doía, minhas dores certamente era o peso do dia vivido, misturado à rotina maluca a qual estou mergulhada há anos.
Sentada em minha mesa de trabalho o clima no escritório me sufocava, acompanhava atentamente o ponteiro do relógio que brevemente decretaria o fim do expediente. Fui tomada por uma euforia momentânea, estaria fora dali, porém logo caí em si, iria para casa, embora cá entre nós, este não era exatamente o lugar para onde eu gostaria de ir. Ultimamente ando sem a menor vontade de voltar para casa, mas é onde moro, então não me restava outra alternativa.
O táxi me deixa na frente do meu prédio, exausta aguardo no hall a chegada do elevador, por sorte ele não demora muito. Ao entrar me olho no espelho e meu estado é assustador, semblante cansado, olheiras profundas delineiam meu olhar, a conclusão parece obvia, isso não é vida!
Entro em casa e como de costume o apartamento está em silêncio, sou a primeira a chegar, isso me deixa feliz de certa forma, tenho tempo para relaxar antes da chegada do Marco. Liberto-me dos sapatos, tiro a calça, ando pela casa de camisa e calcinha, adoro a sensação do chão gelado sob meus pés. Abro a porta que dá acesso à varanda e deixo o ar entrar.
Sabe, existem duas combinações perfeitas que me reinventam sempre em dias como este, pareço não precisar de mais nada, música e vinho combinação perfeita, meus elixires de vida. O vinho é meu passaporte de possibilidades, ele me transporta para outros mundos, além de me relaxar é claro. Com a taça e a garrafa nas mãos sento em uma das cadeiras da varanda com o único intuito de esquecer o que não importava.
A minha varanda é o lugar que mais gosto em meu apartamento, adoro ter tempo para ficar ali observando o dia, as pessoas que transitam nas ruas próximas, ouvir os pássaros que visitam as copas das árvores. Passar algum tempo naquele espaço me fazia bem e eu estava precisando deste momento.
Com calma servi-me de uma generosa taça de vinho, com os pés sobre o Puff fui me desligando de tudo, sorvendo vagarosamente cada gole. Aos poucos minha mente foi se esvaziando, meus ombros e corpo relaxados, minha tensão desaparecendo como num passe de mágica.
Fazia um fim de tarde típico de primavera, temperatura agradável e uma linda lua cheia tomava conta do céu. O canto dos pássaros, o vento tocando meu rostos e a paz da minha casa, fui para outro mundo. As horas foram passando e nem parecia que eu havia tido um dia tão cansativo.
Perdida em meus pensamentos inspirados pelo meu Merlot passei a pensar nas relações humanas e todas as possibilidades que elas nos oferecem. Pensei nos motivos e por quês de algumas historias ficarem paradas em alguma parte da nossa vida. Sabe o período em que classificamos como fases?
Impressionante como de maneira recorrente voltamos no tempo e somos tomados por sentimentos e sensações que marcaram a nossa história de vida. O passado em alguns momentos tem sabor de fruta fresca, nos desperta á analisa-lo. Pensar no passado é perder-se em lembranças, ora pelas pessoas que nos marcaram, ora por situações vividas que nos causam sensações.
Deixei-me levar e pensei: quantas pessoas conhecemos diariamente? Quantas deixamos pelo caminho? Quantas nos são importantes hoje e amanhã, tornam-se nomes perdidos no mar de gente que nos relacionamos ao longo da nossa história de vida. Elas marcam um período, um momento vivido e simplesmente passam, perdem-se de nós e desaparecem, deixando um gosto, um cheiro, uma música que nos remetem a elas. Algumas com maior e outras com menor importância, perdem-se nos caminhos que percorremos dentro e fora de nós mesmos e como não lembrar?
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Doze Horas
RomanceDoze Horas é um romance leve e divertido que narra a descoberta de sentimentos e desejos inusitados no ambiente de trabalho. A trama acontece em um dos mais renomados escritórios de advocacia do país. Tudo começa quando o celular da Dra. Maria...