Doze Horas

Capítulo 3

Subindo para meu apartamento dei de cara comigo mesma no espelho do elevador, por algum motivo a resposta que escutei mexeu de uma maneira maluca comigo. Com que direito a Raquel brincava com os meus sentimentos?

Diante de mim mesma, minha cara estava péssima e parecia que um balde de água fria havia caído na minha cabeça.
Entrei em casa e fui direto para o banheiro, nada melhor que um bom banho para desfazer cara feia, lá fiquei por quase duas horas, precisava tirar de mim tudo aquilo que estava me dominando, me alucinando e para a minha total surpresa eram meus sentimentos que estavam criando raízes, ganhando cad vez mais espaço.

Saí do banheiro e desliguei meu celular, não queria acordar com surpresas no meio da noite. Fui até a cozinha e fiz uma xícara de chá. Sentei no sofá e permaneci ali, no escuro quieta por algumas horas ainda. Pensei aonde isso poderia me levar. Perguntei por que eu estava dando tanta importância para tudo isso?

Sem muitas respostas me joguei na cama, precisava esquecer essa história. O Marco estava dormindo e nem percebeu a minha chegada, me enrosquei em suas pernas e adormeci ali, implorando para o dia terminar.

Acordei cheia de amor para dar, me sentindo culpada e a pior das esposas. Logo de cara peguei o Marco de jeito, dei-lhe uma chave de perna e ali perdemos uma horinha. Estar em seus braços me equilibrava, me trazia de volta a minha vida.  Marcamos de jantarmos juntos pois precisava  cuidar um pouco mais do meu casamento e do meu marido.

No escritório fui direto ter uma conversa com o meu diretor que andava num mau humor terrível, minha consciência fez-me pensar que eu poderia ser a causadora daquele estado. Há semanas estava completamente mergulhada na minha história com a Raquel, assim como eu estava negligenciando meu casamento, poderia estar fazendo o mesmo com o meu trabalho. Passei a manhã inteira trancada com a minha equipe de trabalho, fomos incumbidos de assessorarmos um cliente importante de uma das nossas contas, a empresa estava prestes a fechar uma nova parceria e precisava de seus advogados.

A sede da empresa ficava em outro estado em Vitória no Espírito Santo exatamente, sendo assim, meu diretor disse que ficaríamos uns cinco dias em Vitória, eu, o Ricardo e a Jaque, embarcaríamos amanhã de manhã no primeiro voo. Eu achei ótimo, ficar cinco dias fora do escritório, estava precisando mesmo dar uma arejada e melhor seria impossível.

Saímos para almoçar, aproveitamos para acertar alguns detalhes para viajarmos com tranquilidade.Meu celular não tocou o dia todo, nem vi a Raquel e fiquei aliviada por isso. Passei o restante da tarde estudando o perfil da empresa que atenderíamos. Finalizamos relatórios, preparamos a papelada das despesas com a Mariana do financeiro e tudo estava pronto para viajarmos pela manhã.

Com tudo pronto, saí do escritório mais cedo para jantar com o Marco, passei em casa tomei um banho e fui encontra-lo no restaurante. Era impossível não compara-lo com a Raquel, quando estava com o Marco era normal eu escolher tudo, o restaurante, o vinho e até o que comeríamos, fazia parte da nossa rotina e pela primeira vez percebi o quanto isso me incomodava, gostaria que ele me surpreendesse, que preparasse a nossa noite e não sempre eu.

As coisas eram assim lá em casa. Isso me remeteu a diaba da Raquel, em como o nosso jantar tinha começado de uma maneira perfeita, ela preparou a nossa noite, pensou em tudo em cada detalhe e inevitavelmente minha tentativa de voltar a minha vida parecia ter naufragado, jantamos, conversamos sobre assuntos diversos e eu não parava de pensar nela.

No aeroporto esperando o Ricardo e a Jaque minha cabeça estava a mil, pensava na vontade maluca que eu estava sentindo de ver a Raquel e me perguntando porque o Marco não me trouxe ao aeroporto? Não demorou muito eles chegaram no horário marcado e embarcamos.