Capitulo 20

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Parada na frente da casa dos meus pais o mundo girava numa velocidade maior do que a normal, minha cabeça latejava e parecia que iria explodir. Toquei a campainha e minha mãe abriu o portão visivelmente surpresa com a minha presença, só de me olhar ela sabia que eu não estava bem, essas coisas malucas que só mãe tem. Ela me abraçou forte e meus olhos marejaram instintivamente. A casa dos meus pais ainda era meu porto seguro, sempre que eu cruzava os portões as lembranças da minha infância me tomavam, o som de risos e a alegria dos dias aqui vivido me conforta.

Me via correndo pelo jardim nas tardes de domingo, os almoços e aniversários infindáveis, a casa cheia de parentes, meus primos e amigos. Uma sensação de conforto e segurança envolvia-me, uma sensação bem parecida com a que senti na casa da Raquel.

Abraçadas caminhamos até a varanda sentei em um das cadeiras e em silêncio nos olhávamos, a minha mãe sempre fora uma mulher serena e muito calma, eu comecei a chorar copiosamente sem saber por onde começar. Ela percebendo que eu precisava me acalmar, ainda em silêncio levantou-se entrando para a casa, minutos depois voltou com uma travessa cheia de morangos, uvas e com uma jarra de suco de abacaxi com hortelã.

Eu ainda chorando tentava acalmar a torrente de sensações e pensamentos que me tomavam naquele momento, equilibrar todo este sentir, junto com a memória dos dias vividos e todas as sensações que ainda estava fresca em minha mente se manifestava em lágrima, transbordando o que eu não conseguia mais guardar. Buscando as palavras certas para dar início a nossa conversa, servi-me de um copo de suco e olhando fixamente nos olhos da minha mãe disse-lhe:

- Mamãe, sabe quando você de repente não espera mais nada da vida, dos dias e tudo dá uma reviravolta sem que você faça nada para que isso aconteça?

- Como assim Filha?

- Ahhh, eu estava quieta, mergulhada em minha rotina de trabalho e vida pacata de mulher casada , sabe? Mas confesso que insatisfeita e infeliz. Mesmo diante de tantos indícios de que as coisas não estavam bem, eu nem percebi. Talvez exatamente por isso eu não estava em busca de nada.

- Agora entendo o que você está tentando me dizendo filha, você não será a primeira e nem a última mulher casada a viver essa insatisfação, o casamento muitas vezes e a maior parte do tempo é isso, quando seus filhos vierem vai melhorar, você terá outras preocupações e muito mais tarefas.

- Não Mamãe, a senhora não está entendo, eu não quero esperar os filhos!

- Se acalma filha, isso passa.

- Mamãe fui surpreendida pela vida e estou completamente apaixonada. Não quero e nem posso mais esconder isso de vocês, me apaixonei por uma pessoa fantástica, encontrei o que me faltava finalmente.

- Como assim?

- Eu não sei exatamente como isso aconteceu, quando dei por mim eu não pensava em mais nada que não fosse nesta paixão. Meus dias ganharam um novo colorido, meus olhos passaram a denunciar o que eu estava sentindo, me permiti sentir, os dias foram passando, fui me acostumando com a ideia e hoje estou tomada por esse amor. Eu não aguento mais guardar o que sinto só para mim, minha alma transborda o amor que sinto.

- Nossa Filha!

-  Encontrei leveza e alegria em meus dias, alguém que me renova, que me faz ser melhor e diferente, que me motiva a buscar novas possibilidades e que me faz feliz como nunca fui. Ah mamãe, como ela me faz feliz, como ela me vê, me enxerga como verdadeiramente sou. E tudo aconteceu muito rápido, quando percebi, me vi de uma outra maneira. Comecei a questionar a mim mesma e não demorou muito para eu ter certeza que não me cabia mais na vida que levava.

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