- Afonso, está tudo bem?
Ele não me respondeu
- Afonso?! - apertei-lhe a mão.
- Desculpa, não te ouvi!
- Está tudo bem? É que ficaste estranho!
- Eu... eu.... Estava a olhar para aqui e a reviver o que me disseste, e estava a imaginar se tivesse acontecido comigo e é horrível só de imaginar...
- Não queiras viver... - respondi-lhe triste.
Ele puxou-me para mais perto, abraçou-me e depositou um beijo na minha testa. Sentamos no muro que tinha lá à beira do mar.
- Não te faz confusão vires aqui?
- Ao início fazia mais, mas foi aqui a última vez que os vi com vida. Já se passaram dois meses e quando paro neste lugar ainda os sinto vivos, comigo...
- Não sentes raiva em relação ao outro condutor?
- Raiva? Raiva não! Revolta sim! O acidente foi investigado e ele não teve culpa. Segundo os peritos da polícia o pneu do carro do meu pai rebentou e despistou-se indo para a outra via, o outro condutor ainda tentou travar, os polícias disseram que haviam marcas de uma travagem brusca no lugar, mas já não foi a tempo e embateu com o carro no lugar de pendura, onde ia a minha mãe.
- E sentes revolta porquê?
- Eu sei que ele não teve culpa e que tentou evitar, mas eu perdi os meus pais nesse acidente. Se dissesse que não sentia nada ia estar a banalizar a morte dos meus pais e eu amo-os demasiado para fazer isso!
Um silêncio instalou-se entre nós, ele pegou na minha mão e entrelaçou os nossos dedos, colocou-a sobre a sua perna e com a outra fez-lhe carinho. Encostei a cabeça ao seu ombro e ficamos mais alguns minutos olhar a para o mar!
- Tu gostas de futebol? – perguntou.
- Sim, porquê?
- Como amanhã é sábado e há jogo, gostava de saber se gostavas de ir comigo...
- E se eu te dissesse que não sou do Porto!
- Eu ia perceber e convencer-te a mudar para a melhor equipa do mundo! Mas tu és portista não és?
- Sim sou portista!
- Ainda bem! Sempre soube que tinhas bom gosto! Também basta olhar para mim, deixaste-me ser teu amigo e sou lindo!
- Palerma! - bati-lhe no braço.
- É melhor irmos antes que me atires ao mar!
- Atira-te ao mar e diz que te empurraram!
Lembrei-me da canção com o que ele disse e cantarolei um bocadinho porque achei que encaixava perfeitamente na situação.
- Beija-me a boca e chama-me Tarzan! - o Afonso continuou
- Menos Afonso, muito menos!
- Que foi? Eu só continuei a música, mas diz lá que não gostavas de receber os beijinhos aqui do Afonso - mandou beijinhos.
- És tão idiota, nem sei como é que deixei que fosses meu amigo!
- Porque eu sou uma ótima pessoa e um bom companheiro para todas as horas!
- Está bem, tenho que concordar, mas não enchas demasiado o ego, faz mal em demasia!
- Está bem chefe! Vamos? Já é tarde!
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Lótus (Afonso Silva)
Teenfikce"- Mas depois apareceste tu... - sorri - deixaste-me cair, mas ajudaste-me a levantar e a recuperar da queda, ajudaste-me a ganhar gosto novamente pela vida e ensinaste-me que é possível amar alguém neste mundo sem achar que nos vai largar quando a...