Epílogo

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Eu já não sei distinguir as gotas de água do chuveiro das minhas próprias lágrimas.

Vim a chorar todo o caminho desde a praia até ao meu apartamento e quando entrei a força do choro ainda se intensificou mais ao ver os nossos quadros e o cheiro do Afonso em todos os cantos e lugares. Entrei dentro do chuveiro e permiti que tudo saísse de dentro de mim.

Porque é que nos momentos de maior felicidade vem sempre alguma coisa destruí-la?

Deixei-me estar mais algum tempo debaixo da água e depois saí, sequei-me, vesti o pijama e agarrei a almofada que era do Afonso a chorar.

Ouvi a porta do apartamento a fechar e fui a correr para a sala.

Quando vejo a figura do moreno à minha frente a minha reação é ir em direção a ele. Começo a bater no seu peito com toda a força que tenho - Porquê? - pergunto - Porquê? - Continuo a bater-lhe e já não tenho mais controlo sobre as minhas lágrimas.

Paro cansada e o Afonso puxa-me para um abraço, tento resistir, mas não consigo, não tenho mais forças para comandar o meu corpo.

Ele afaga-me os cabelos enquanto o único som que se ouve naquele lugar são os soluços do meu choro.

- Porque é que fizeste isto? – sussurro.

- Se ouvisses o que tinha para te dizer até ao fim e não explodisses logo ias perceber o porquê!

- Pequeno déjà vu... - sussurrei novamente.

- Posso falar agora? - pergunta receoso.

Afastei-me dele e sentei-me na poltrona oposta ao sofá em que ele se sentou. Ele mexeu nos cabelos visivelmente triste.

- Porque é que fugiste daquela maneira? – perguntou.

- Só podes estar a gozar com a minga cara! - ri sarcástica, levantei-me e fui até à porta - Se vieste esfregar na minha cara mais uma vez que não queres mais nada comigo, sai!

- Espera! Eu não quero mais namorar contigo, é certo, mas deixa-me falar!

- Afonso, por favor, sai antes que eu diga algo que me arrependa!

- Aurora, qual a parte de ouvir antes de explodir é que ainda não percebeste? Deixa-me falar até ao fim caramba! - arregalei os olhos quando ele se levantou e falou daquela maneira – Podes-te sentar e ouvir o que tenho para te dizer sem interrupções desta vez?

Fui novamente para a poltrona e sentei-me a olhar para ele, ergui a sobrancelha à espera que ele continuasse e ele assim o fez.

- Já reparaste que eu disse sempre que já não quero mais namorar contigo e não disse que não queria mais estar contigo?

- E não vai dar tudo ao mesmo?

- Sem interrupções! – exclamou.

- Interrompendo - disse irónica - Se vens falar com esse tom de voz todo autoritário, podes sair, por favor!

- Desculpa Aurora, desta vez fui eu que explodi... - olhou arrependido e continuou - Respondendo à tua pergunta, não, não vai dar tudo ao mesmo! -respirou fundo - Uma coisa é eu não querer estar mais contigo, quebrar para sempre os laços e deixar tudo que construímos para trás, outra coisa é eu não querer namorar mais contigo porque quero mais, porque quero construir novas memórias e viver momentos contigo não como teu namorado, mas sim como teu marido! - baixou a cabeça e deu um sorriso triste

Eu estava sem saber o que fazer, o que pensar. As minhas mãos tapavam a minha boca que estava aberta com a surpresa daquelas palavras.

Afonso

Lótus  (Afonso Silva)Onde histórias criam vida. Descubra agora