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- Oh, por favor!

- Não Afonso, já disse que não!

O Afonso esteve a última meia hora a tentar convencer-me a contar-lhe quem me saiu no amigo secreto, mas está a ter azar porque não está a conseguir o que quer e está a parecer uma criancinha quando alguém lhe recusa dar um doce.

- É uma rapariga, não é? - perguntou-me.

- Já te disse que não te vou contar!

- Tenho a certeza que é! Estás aí a embrulhar uma caixinha da CPJ que eu estou a ver!

Estávamos no meu escritório na empresa, como tivemos esta interrupção na universidade por causa do Natal vimos todos os dias de manhã e de tarde para adiantar o trabalho. O Afonso em vez de estar na sua secretária a fazer o seu trabalho está a observar cada movimento que eu faço para ver se descobre alguma coisa sobre o destinatário do meu presente.

- Meu querido, a CPJ faz apenas peças femininas por acaso?

- É... Tens razão! Mas podes parar de tentar me enganar que eu vi o lacinho rosa! – exclamou.

- Sempre pode ser para um rapaz, já passou a época em que rosa é para as raparigas e azul para os rapazes!

- Não me vais mesmo dizer? - perguntou a fazer beicinho.

- Não!

- Chata! – sussurrou.

- Eu ouvi isso!

- Amo-te! – sorriu.

- Pois sim, claro...

- Vá-la! Dá-me uma pista!

- Uma pista?

- Sim, apenas uma! - exclamou entusiasmado.

- Está bem.... Deixa cá pensar... É da tua família!

- Desmancha prazeres! - mostrou-me a língua e atirei-lhe um beijo.

- Amanhã descobres! Já não falta assim tanto, tu sobrevives! - mandei-lhe um beijo.

- Que piada...

- E tu? – perguntei.

- Eu o quê? - perguntou confuso.

- Quem é que te saiu no amigo secreto?

- Não me dizes o teu e queres que te diga o meu?

- Sim! - respondi-lhe com um enorme sorriso.

- Está bem! - levantou-se e veio até à minha secretária. Afastou a minha cadeira da mesa e encostou-se na mesma, puxou a minha cadeira de volta e pousei a minha cabeça nas suas pernas, ele colocou a sua mão nos meus cabelos e começou a mexer nos mesmos - Eu vou dar ao Zé!

- Aquele que tem a minha idade? - inquiri mantendo-me na mesma posição.

- Sim, esse mesmo!

- O que é que lhe vais dar? Já compraste a prenda?

- Sim às duas perguntas! Comprei à um mês...

- Isso é que foi rapidez!

- Eu acho que vai gostar, tenho a certeza absoluta. Eu comprei logo porque sabia exatamente o que lhe oferecer...

- Tendo em conta que só descobri quem me saiu esta semana até nem demorei tanto tempo assim.... - disse com um tom de voz cada vez mais baixo, porque a massagem que o Afonso me estava a fazer estava a dar-me sono.

Lótus  (Afonso Silva)Onde histórias criam vida. Descubra agora