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5 anos... 5 anos já se passaram desde o pior e melhor Natal que tive na minha vida. Foi o primeiro Natal sem os meus pais, sem o cheiro dos salgados e doces da minha mãe, sem o meu pai a tentar convencer-me de que o pai Natal existe para manter aquela magia de quando era criança... Mas também foi o primeiro Natal que passei ao lado da pessoa que mais amo, com uma nova família que posso também considerar minha, com novas tradições e também com muito amor e admiração.

Já se passaram 5 anos e como o tempo passa depressa.... Concluí a minha licenciatura e fiz diversos workshops e comecei o curso de design de forma a continuar com o sonho da minha mãe. O Afonso concluiu o mestrado em administração e tem um papel crucial na CPJ.

Ontem foi lançada a última coleção que a minha mãe desenhou. Inicialmente tínhamos previsto que os desenhos dessem para 4 anos de coleções, mas encontramos uma grande quantidade de desenhos que foi bem gerida e deu para mais um ano que o inicialmente esperado. Tal como eu tinha pedido, o primeiro anel que a minha mãe desenhou e foi sempre aperfeiçoando foi o único que não entrou e não vai entrar em coleções, quero guardar aquele desenho para mim é o mais especial de todos.

Decidi que a última coleção da minha mãe fosse apresentada e lançada ontem, véspera do dia dos namorados. Escolhi esse dia porque a primeira coleção que os meus pais lançaram também foi na véspera do dia 14 de fevereiro e acho que tinha todo o sentido a última também o ser.

Sentada num dos sofás do terraço do meu apartamento, com uma manta sobre as pernas e uma chávena de café nas mãos, assistia ao nascer de um novo dia. O Afonso estava com a cabeça deitada no meu colo e fazia círculos no meu braço que estava repousado no seu peito. Tinha se tornado, desde que o Afonso se mudou para cá há 3 anos atrás, um costume nosso em dias especiais ver o nascer do sol tal como hoje.

- Hoje vamos fazer um à praia. - falou enquanto brincava agora com a minha mão.

- Mas amor, hoje é dia de trabalho e sabes que vamos ter reuniões por causa do feedback da nova coleção e não dá tempo de sair da empresa ao almoço. - respondi com voz triste.

- E quem disse que era à hora do almoço? E não te preocupes que eu já avisei o Pedro que saímos às 4 da tarde e ele vai ficar a tomar conta da empresa até à hora dele de saída.

Baixei a minha cabeça e dei-lhe um beijo no nariz.

- Podes descer mais um bocadinho, não tem problema nenhum!

Com isto segurou no meu rosto com uma mão e beijou-me delicadamente. Coloquei no chão a chávena do café. O Afonso sentou-se ao meu lado e puxou-me para junto do seu corpo e abraçou-me.

- Tu nem sabes o bem que me fazes! - sussurrei ao seu ouvido.

- Eu amo-te! - sussurrou de volta.

Dei-lhe muitos beijinhos no pescoço e senti a sua pele arrepiar toda.

- Sabes ainda temos um tempinho até ser a hora do costume de sairmos de casa... - falou pegando-me ao colo, deu um gritinho com o susto.

- Estúpido! - falei a rir.

- Que tu gostas! - deitou-me na nossa cama e olhou-me nos olhos.

- Amo! - respondi sem desviar o olhar e beijei-o...

Lótus  (Afonso Silva)Onde histórias criam vida. Descubra agora