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Afonso

Passou um mês desde que contei a verdade à Aurora. Um mês sem trocar uma palavra a não ser o típico bom dia e boa tarde ou algo relacionado com a empresa. Isso estava a consumir-me, a destruir-me aos poucos.... Estava cansado, não tenho dormido praticamente nada, ando a deambular por este mundo basicamente.

O que mais me custa é ver a Aurora neste estado também, está mais magra, o sorriso que tanto ilumina o seu rosto ultimamente faz raras e breves aparições e isso ainda me faz pior, não a consigo ver assim...

- Afonso? - chamou o meu irmão quando chegou do treino.

- Na sala! - respondi com uma voz fraca.

Ele chegou à sala e colocou o saco no chão e sentou-se ao meu lado.

- Não vais ficar sempre assim, pois não?

- Queres que fique como? A pular pela casa como se a vida fosse feita de arco-íris e unicórnios?

- Quero que faças algo para mudar esta situação? Já não suporto ver-te mais nesse estado!

- Tens bom remédio, fecha os olhos assim já não me vês!

- Afonso deixa de ser infantil e vai atrás dela!

- Mas ela mal fala para mim! Eu disse que ia esperar pela decisão dela e é isso que vou fazer!

- Para de ser casmurro, isso não te leva a lado nenhum. Vai ter com ela e diz-lhe o quanto a amas!

- E achas que eu não fiz isso? Eu disse-lhe e ela mesmo assim decidiu dar um tempo!

- Dizer um amo-te é simples, mas demonstrar que se ama é completamente diferente! - olhei para ele confuso - Vai atrás dela e mostra-lhe o quanto a amas, faz qualquer coisa. Mas não fiques aqui parado sem fazer nada, olha que o comboio passa e podes perder a viagem! - bateu-me nas costas, pegou no saco e foi para o quarto dele. Fiquei sentado a pensar no que ele me disse e tenho que lhe dar razão. Eu tenho que mostrar que a amo.

Fui para o meu quarto pensar no que haveria de fazer até que encontrei a ideia perfeita...

- André? - chamei-o do meu quarto.

- Diz puto.

- Vou precisar da tua ajuda...

Contei-lhe o que estava a planear e ligamos para o local para ter tudo pronto.

- Vamos almoçar fora? - perguntou-me.

- Sim, vamos.

Fomos até a um restaurante de comida típica porque eu queria comer francesinha e o André comeu algo mais leve.

Voltamos para casa e liguei a confirmar se estava tudo pronto e a resposta foi positiva. Quando estavam a aproximar-se as 17:30 fui me preparar. Tomei banho, vesti-me, ajeitei o cabelo e coloquei perfume. Peguei na carteira, chaves do carro e de casa, no telemóvel e fui para a sala.

- Já vais? - perguntou o André.

- Sim! - respondi ansioso.

- Vai tudo correr bem, vais aí todo jeitoso! - falou a última parte com a voz mais afeminada e eu ri.

- A sério, eu tento mesmo perceber como é que somos irmãos e ainda não consegui entender, e ainda por cima sendo tu o mais velho!

- Querias tu ser como eu! - disse com um ar todo convencido.

- Ser como tu e fugir para o quarto para dar uns beijinhos num peluche para não perder o jeito? Não obrigado! Eu tenho a minha Aurora!

- És mesmo estúpido! - atirou-me com uma almofada do sofá.

- Mas não vivias sem mim, sem o teu irmão favorito, diz lá?

- Também não tenho outro! Agora vai lá e só voltas para casa quando as coisas entre vocês estiverem resolvidas. Já não aguento ver-te triste pelos cantos da casa. Vai lá, oupa!

- Fica a torcer por mim! - pedi quando estava a ir para a porta - Até logo!

Saí de casa e fui buscar a minha encomenda, após tê-la na minha posse fui para a casa da Aurora.

Aurora

Já se passou um mês desde que tomei a decisão que agora vejo que foi a mais estúpida de sempre. Fiquei muito magoada com o que aconteceu, mas nunca pensei que iria estar neste estado e vê-lo sempre cabisbaixo deixa-me ainda pior.

Ele disse que me amava... E tinha razão quando disse que eu sentia o mesmo por ele. Eu também o amo... E feita a maior parva da história o que eu fiz? Isso mesmo! Separei-me dele... Diz-se que quem ama sofre, mas sofre ainda mais quando se ama e o sentimento é recíproco, mas não deixa que ele aconteça ou coloca-o para longe como eu fiz...

Peguei num lenço que tinha em cima da cama e limpei as lágrimas que teimavam em cair. Ouvi a campainha, a muito custo levantei-me e fui até à porta, quando a abri não encontrei ninguém estava a fecha-la quando reparo num bouquet de túlipas brancas no chão, as minhas favoritas! Olhei para os lados e não encontrei ninguém. Fechei a porta e fui par a cozinha pegar numa jarra para as colocar, quando as estava a pôr dentro dela reparei que tinha um bilhete com o meu nome escrito do lado de fora.

"Mas precisas de saber que não tive intenção de te magoar. Sei que é difícil de perdoar, mas basta querer."

Afonso

As lágrimas começaram a ameaçar cair...

Tocou a campainha novamente e fui lá. Quando abri tinha lá outro ramo, mas desta vez de túlipas vermelhas. Levei-as para dentro e coloquei-as ao lado das outras e peguei no bilhete. Quando o abri as lágrimas começaram a cair, posso não ser a maior fã de Pessoa, mas ele quando quer deixa a confusão de lado e consegue me pôr a chorar.

"Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além que te amo, se o que quero dizer é que te amo?"

A campainha tocou novamente, abri e o Afonso estava do outro lado a segurar um ramo com túlipas brancas e vermelhas, só de olhar para elas sabia perfeitamente o que ele me queria dizer. Olhei para ele já com as lágrimas a ameaçarem cair novamente e disse o que já há muito deveria ter dito.

- Amo-te tanto Afonso!

O olhar que antes estava no chão direcionou-se para mim, ele abriu um sorriso enorme e os olhos dele brilhavam.

- Tu não sabes o tempo que esperei para ouvir isso! - abraçou-me.

Entrou, fechei a porta e fomos para o sofá. Deu-me o ramo e olhou para mim

- Acho que não preciso de dizer nada, tu sabes o que elas significam...

- Sei sim! - peguei nele e inalei o cheiro das flores.

- Aurora perdoa-me!

- Afonso... Eu acho que eu já te perdoei à muito...

- A sério? - perguntou confuso. Assenti. Ele levantou-se e ficou de frente para mim. Analisou cada pedacinho do meu rosto - Então porque é que não me disseste nada?

- Porque sou uma estúpida! Só me mentalizei que a dor e mágoa que estava a sentir naquele dia, não se compara à dor que sinto por ter afastado a pessoa que mais se importa e se preocupa comigo da minha vida... E que é realmente importante para mim!

O Afonso puxou-me para ele e abraçou-me fortemente. Deixei-me ficar nos seus braços, era este o melhor lugar do mundo, sentia-me protegida, em paz e sobretudo feliz por estar novamente nos seus braços...

Lótus  (Afonso Silva)Onde histórias criam vida. Descubra agora