..::I'M A BOY::..

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Tyler tinha muitas cicatrizes; dentre elas, as mentais. Todas as coisas que ele vivenciou em sua adolescência, o ódio na escola, as discussões com sua mãe e o desprezo pelo seu próprio corpo são marcas que vão ficar em sua cabeça para sempre. Por mais que ele se esforce para esquecer e tenha a ajuda de terapeutas e psicólogos, as lembranças de uma jornada sofrida estão marcadas à ferro quente em sua vida.

Já outras marcas eram físicas. Ele tinha pequenas e grandes cicatrizes espalhadas pelo seu corpo bronzeado. Algumas delas, aquelas que eram quase imperceptíveis a olho nu, foram causadas por uma agressão específica em sua adolescência. Outras foram perque Tyler sempre foi um desastrado, e por onde andava ele tropeçava e sangrava.

Tyler odiava suas cicatrizes.

Menos duas em especial. Eram cicatrizes que ficavam abaixo de seu peitoral, uma do lado esquerdo e a outra do lado direito. Diferente das outras, elas ainda estavam avermelhadas, se aproximando de um tom rosado. Aquelas eram as cicatrizes da sua cirurgia de retirada de mamas, a mastectomia.

Tyler havia feito há  alguns meses, quase um ano, uma dupla incisão. Existiam outros modos de se fazer a retirada das mamas, mas esse era a única que o seu dinheiro podia pagar. Por mais que seu pai tivesse lhe emprestado dinheiro o seu namorado também, essa não era uma cirurgia barata. As outras que mal deixavam marcas nem se fala.

As cicatrizes podiam ser feias aos olhos de outros, mas aos olhos de Tyler elas significavam vitória. Elas eram o símbolo de um marco na vida do homem. Elas eram liberdade.

Seus seios sempre pareciam zombar dele, fazendo-o acreditar que ele nunca seria um homem de verdade, fazendo com que ele se odiasse.

Agora que eles foram embora Tyler podia finalmente saber o que é gostar do seu corpo. Ele ia à praia sem a mínima vergonha, sentir a brisa bater contra o seu peito desnudo era tão gostoso. Poder vestir as roupas que quisesse sem duas bolas odiosas o atrapalhando era magnífico. E ele conseguia dormir de barriga para baixo!

Tyler amava suas cicatrizes.

Todas elas faziam parte dele e contavam a sua história. Uma história longa e tortuosa, mas que não estava perto de acabar. Muito pelo contrário, Tyler acreditava que tudo o que ele viveu só foi um prólogo para a grande narrativa que viria, uma narrativa feliz, ele sonhava.

Suas cicatrizes eram o começo de tudo.

Respirando fundo, Tyler apertou o passo. Ele andava pelas ruas de Columbus pensativo, porém já estava atrasado para encontrar o seu namorado, Josh, ou como ele gostava de chamar, o amor da sua vida.

Ele havia passado o dia com a sua melhor amiga, Jenna. A mesma iria se casar com um cara chamado Daniel e Tyler era o padrinho. E por ela não ter outras amigas, Tyler tinha que ajudá-la a escolher vestidos, coisas para decoração e todas as bobagens que envolvem um casamento.

Não é preciso dizer que Tyler achava isso massacrante, mas ver a alegria nos olhos cor de oceano de sua amiga valia a pena.

Jenna havia sido a melhor amiga possível nesses últimos anos, o mínimo que Tyler podia fazer era ouvir ela tagarelar sobre buquês e bolos o dia todo.

Tyler estava tão distraído que nem notou um homem andando em direção contrária a dele, o que resultou num forte escorão entre os dois. Tyler levou imediatamente a mão ao ombro atingido e  massageou, xingou baixinho e levantou a cabeça para ver a pessoa que lhe atingiu como um furacão.

Sua boca despencou.

Fios loiros, nariz fino e olhos verdes. A pose arrogante e o corpo magro eram inconfundíveis. Apesar do homem estar nitidamente mais velho, com uma barba espessa e com os traços masculinos totalmente formados, aquele era sem a menor dúvida Joey Winston, o maior pesadelo da adolescência de Tyler.

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