Pouco depois já Sílvia estava sentada numa mesa do Alcântara café aguardando por Beatriz viu-a sair do carro e entrar no café.
- Então querida como foi o resto do passeio com os teus primos? – perguntou Sílvia.
- Foi bom, eles perguntaram se tu eras a minha nova namorada. – disse Beatriz sorrindo.
Sílvia com espanto perguntou.
- Mas eles sabem que és gay?
- Sim sabem, aliás toda a minha família sabe tive uma namorada há alguns anos que me obrigou a sair do armário e assumir-me a toda a família.
- E como correu? Os teus pais aceitaram bem?
- No inicio não, acho que os pais ainda têm aquela ideia romântica de os filhos ou filhas casarem terem filhos e viverem numa casa com um cão e uma cerca branca, mas com o tempo foram se habituando à ideia, apesar de se recusarem a fazer perguntas, preferem assim e eu não forço.
- Pois entendo, os meus nunca se quiseram confrontar com as evidências e então ficámos neste limbo de certeza/incerteza, mesmo com a Paula que conheceram e tratavam muito bem, nunca me colocaram a questão diretamente e quando tudo acabou também não fizeram muitas perguntas a minha mãe apenas perguntou uma vez se nos tínhamos zangado ao que disse que sim, por um lado foi melhor assim não tive que explicar e dissecar aquilo que na altura foi um momento complicado.
- Hum então a Paula era a tal que te ia buscar ao trabalho que a Carina me contou? – perguntou Beatriz com ar de quem queria saber mais.
- Sim era ela, estivemos juntas muito tempo e muito dele feliz e bom, mas a separação foi foi um pouco complicada.
- Por acaso essa minha namorada que me fez falar com os meus pais ainda hoje somos amigas, as coisas acabaram quando tinham de acabar, foi tudo muito pacifico quando penso sobre isso acho que a nossa relação tinha um deadline muito definido, sempre fomos excelentes amigas mas tínhamos visões muito diferentes do futuro, ela queria a determinada altura ter filhos e sinceramente nunca fez parte dos meus planos não me sinto capaz de educar um ser humano e para fazer asneira deixo para os outros, sempre pensei assim e até hoje não mudei amanhã não sei. E tu gostavas de ter filhos?
Sílvia sentiu naquele momento que a conversa começava a ter um rumo mais sério.
- Não sei, acho que no fundo nunca foi uma questão que me tirasse o sono, mas, no entanto, nunca a pus totalmente de parte. Acho sinceramente que seria perfeitamente capaz de educar uma criança, é obvio que contribuis em muito para o resultado final mas nem tudo é controlável pela nossa vontade, até porque nem pode ser, acredito que nunca nos podemos esquecer que uma criança é um ser pensante, com vontade e gostos próprios, sou totalmente contra quem acha que um filho tem que ser um reflexo dos pais.
- E já agora como verias a concepção dessa criança?
- Sabes, acho que nos preocupamos demais em por uma criança no mundo quando existem tantas que já cá estão e só querem quem as ame e trate delas, a ter um filho seria quase de certeza uma adopção. E tu?
- Eu confesso que a ser mãe gostaria que fosse sangue do meu sangue, acho que esse laço é insubstituível.
- São pontos de vista e respeito o teu claro. – disse Sílvia com um sorriso.
- E a relação com Paula o que aconteceu? Desculpa se calhar não queres falar sobre isso, esquece a pergunta. – disse Beatriz.
- Não faz mal querida – respondeu Silvia acariciando-lhe a mão - não te preocupes já vai sendo tempo de falar sobre isso, ela traiu-me eu apanhei-a e nunca mais nos falamos até hoje.
- Ok desculpa é realmente um assunto delicado. – disse Beatriz agarrando-lhe a mão.
- A sério não faz mal, sei que um dia terei de por um ponto final em tudo e ter uma conversa com ela, apenas tenho uma questão a colocar-lhe, porquê? Não que vá mudar alguma coisa do que ficou para trás, mas queria saber se valeu a pena deitar fora 8 anos de relação.
- 8 anos bem isso foi um casamento!
- Sim realmente foi! Recordo-me perfeitamente do momento em que ficou claro para mim que aquela era a mulher da minha vida, mas a vida troca-nos as voltas e o que hoje é verdade amanhã deixa de o ser mas continuo a achar que apesar de tudo a nossa história merecia um final diferente daquele que teve, sei lá, acho que esperava mais dela!
- O ser humano erra, é obvio que não sei se a tua ex-namorada considerou um erro o que fez mas qualquer pessoa com princípios nesse tipo de situações passado algum tempo pensa que gostaria de ter feito as coisas de outra forma, já passei por isso, sim já trai gostaria de não o ter feito mas acima de tudo espero nunca mais o repetir. – disse Beatriz pensativa.
Sílvia olhou profundamente para os olhos de Beatriz e conseguiu claramente ver remorso, mas não pode deixar de pensar que sabia muito pouco sobre a mulher que tinha á sua frente.
- Sabes há uma frase que para mim nos define enquanto pessoas que vivem relações com outras pessoas é um pouco fatalista mas acho que muito verdadeira Somos tudo o que vamos perder acredito que o que perdemos define-nos muito melhor do que o que alcançamos. – disse Sílvia aguardando alguma reacção de Beatriz.
- Hum não sei se entendo e sim realmente é fatalista. – disse Beatriz.
- Pensa bem na tua vida amorosa até agora, sim tiveste momentos felizes e bons mas quando pensas nos mais marcantes, nos que ao fazer uma retrospectiva tem vêm automaticamente á memória esses momentos geralmente são os de perda, os de término, seja tua a culpa ou não isso não é relevante mas são esses que saltam imediatamente á memoria, certo? E muito sinceramente se assim não foi não amaste essa pessoa de verdade pois só não amando é que não podes sentir a perda. – disse Sílvia.
- Sim entendo, mas não concordo que a perda defina a relação o que a poderá definir é o todo, os bons e os maus momentos. – respondeu prontamente Beatriz.
- É claro que não define a relação mas define aquilo que levamos dela. – disse Sílvia defendendo as suas crenças.
- Ok, não aceito a 100% mas entendo o teu ponto de vista.
A conversa continuou por vários assuntos, ambas sentiam que aquela noite tinha sido muito importante para se conhecerem melhor, acabaram a noite cada uma na sua casa, por mais estranho que pudesse parecer após 3 horas de conversa entre elas queriam cada uma o seu espaço como que para digerir o que tinha sido dito, para analisarem a pessoa com quem estavam a iniciar uma relação, Sílvia entendeu que Beatriz era uma mulher madura e muito bem definida e com certezas muito concretas e entendeu também de toda aquela conversa que Beatriz não procurava uma relação demasiado séria, sim queria estar com ela mas não queria se prender, marcou-lhe a frase acredito que depois de uma relação tão séria como a que tiveste com Paula não queiras outra tão cedo, sim Beatriz definitivamente queria acreditar nisso e pensando bem Sílvia achava que até era melhor assim, entendeu agora a barreira invisível que existia naquela relação a que tinha sentido desde o primeiro momento em que se envolveram era bom estar com outra pessoa, uma pessoa nova com hábitos e formas de estar diferentes de Paula no entanto era importante que Sílvia não fizesse planos a longo prazo pois dificilmente esse prazo existiria, mas também tinham existido com Paula e do que lhe serviu?
No silencio de sua sala Sílvia encontrava-se deitada na chaise long do sofá esta uma noite quente e muito calma tinha apenas vestida uma camisa de homem branca que por vezes usava para andar por casa, não conseguia dormir, já tinha ido para a cama por duas vezes mas era impossível dormir com tudo o que se passava na sua cabeça, tinha sido uma noite demasiado agitada e emotiva, tinha agora inevitavelmente de aprender a viver uma relação de maneira diferente do que estava habituada, acabou por adormecer ali ainda viu o dia clarear.
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Simplesmente Aconteceu (romance lésbico)
RomansaSílvia era uma jovem e linda mulher na casa dos 30 que tinha posto fim a uma longa relação com aquela que pensava ser o amor da sua vida, uma relação que terminara abruptamente com uma traição, mas muito havia ainda por contar e o seu verdadeiro amo...