Segunda-feira
O céu amanheceu revolto e indeciso. Nuvens cinzas e pesadas deslocavam-se rapidamente, escondendo ou desvelando o sol alternadamente.
− Hora de acordar, Priscila – chamou Marina com uma xícara na mão.
− Ai, parece que eu estou zonza... — respondeu Priscila esfregando o rosto e encostando-se a cabeceira da cama. Em um segundo toda a noite de sábado tomou conta de sua mente — Por culpa de vocês: suas malditas bruxas! Eu não vou à escola de jeito nenhum. Faz ideia de como as pessoas vão olhar para mim? Vão me chamar de louca...
− Cale a boca! – Interrompeu Marina − Tome esse chá.
− Não vou beber nada. — rejeitou a xícara com uma das mãos — E Gustavo, o que deve estar pensando de mim? E Rebeca, com aqueles Olhos da Deusa! Você tem noção do poder que ela tem? Acabou para mim...
− Se continuar a falar assim, eu vou desistir de você! Começo a desconfiar de que é louca, aliás, que é burra, já não me resta dúvida.
− Loucas são vocês! Só podem estar me usando para alguma magia negra. Cansei — Priscila voltou a se deitar na cama.
− Escute uma coisa – falou Marina enquanto segurava a prima, fazendo-a beber o chá – isso vai te acalmar. Você vai praticamente nem perceber que estão olhando ou falando sobre você. Em pouco tempo terão esquecido o ocorrido.
Priscila terminava de engolir o chá quando sua mãe entrou no quarto.
− Oi filha, está sentindo-se melhor? – Ela passou a mão em sua testa − A febre passou, que ótimo. Você me preocupou, nunca te vi daquele jeito, tão grogue e febril.
− Eu disse tia, aquele remédio era tiro e queda — Marina abriu um sorriso doce.
− Você será uma excelente médica – completou Carmem enquanto saía do quarto.
− O que aconteceu ontem? Febre? Eu só me lembro... Eu me lembro do que você estava fazendo no quintal e nada mais — Priscila permanecia encolhida na cama.
− Você desobedeceu às ordens de Perla: bebeu álcool e perdeu o controle. A magia não perdoa deslizes. Você pagou um preço alto pela sua burrice. – Marina aproximou seu rosto ao de Priscila, tocava testa com testa. − A energia invertida precisava sair do seu corpo. Você teve febre o dia e a noite inteira, até que o suor evaporasse, devolvendo a energia ao universo.
A garota fez uma careta, sentia um grande medo. Estava cada vez mais claro para ela o poder em torno daquilo tudo. A cabeça de Marina também fervia, se aqueles brincos forem verdadeiros Olhos da Deusa, ela teria que consegui-los. Precisava testá-los antes de tomar uma atitude. Isso precisava acontecer o mais rápido possível.
A escola parecia lenta aos olhos de Priscila. Ela mal percebeu que os amigos se preocuparam mais com a ausência de Rebeca do que com sua tão descarada passividade. Caio limitava-se a responder que a irmã quisera ficar um dia a mais no sítio da avó.
− As pessoas andam tão estranhas ultimamente que nada mais me espanta − comentou Carol com Igor na hora do primeiro intervalo.
O rapaz não respondeu, olhava a carteira vazia de Thaís. Carol olhava a porta fechada da sala do namorado, pelo menos nos últimos dias ele parecia ter retornado da tormenta, voltou a se interessar por ela, apesar de ainda ter ausências muito estranhas. Na noitada de sábado, ele oscilou entre grosseiras e rompantes apaixonados.
Na outra sala de aula, o professor não deu intervalo. Caio observou Lavínia ajeitar o coque e recolocar os óculos, que só usava dentro da sala de aula. Ele não soube colocar em palavras o que sentia, era um vazio tão grande. Naquela manhã, Carol o esperou na esquina para seguirem juntos para o colégio, ela já não tinha paciência para esperá-lo há algum tempo. Preferia gastar os minutos antes da aula fofocando com Priscila. Hoje não, queria estar com ele e ele também quis estar com ela.
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Os Olhos da Deusa (completo)
AdventurePRIMEIRO LUGAR NO CONCURSO DESEJOS. PRIMEIRO LUGAR NO CONCURSO ESCRITORES FANTÁSTICOS. SEGUNDO LUGAR NO CONCURSO ESTRELAS DE PRATA. SEGUNDO LUGAR NO CONCURSO ESTRELAS VESPERTINAS TERCEIRO LUGAR NO CONCURSO LEITURA NACIONAL MELHOR SINOPSE DE FANTA...