Pânico
Quando Priscila chegou em casa, encontrou Marina sentada na cama, no escuro tentando controlar a forte angústia que dominava seu peito. Se fosse a um psiquiatra, certamente seria diagnosticada com síndrome do pânico, as palpitações intensas e o medo de morrer.
Quando Priscila se aproximou dela agitada, falando quase sem respirar o que tinha acontecido, Marina entendeu que aquilo tinha a ver com Perla e com o poder daquelas pedras. Só não soube o que fazer de imediato, mas tomar consciência do que tinha acontecido a fez se concentrar e lentamente controlar seus sentidos até finalmente se acalmar e adormecer.
Na manhã seguinte tentou falar com Perla, sua intuição insistia que algo ruim se passava com ela. O celular estava desligado e o telefone fixo da Irmandade só chamava e não era atendido. Tomou coragem e telefonou para a irmã de Perla, também sacerdotisa da Irmandade.
— Bom dia, Tulipa, me desculpe a indiscrição, mas...
— Pode dizer Marina, meu coração também está apertado. Você pressente algo sobre Perla?
— Sim. Algo muito estranho aconteceu aqui ontem, uma trompa d'água trágica e imprevista pelos meteorologistas. E eu senti uma angustia tão intensa por horas... Eu acho que você deveria ir até lá e ver se ela está bem.
— Eu avisei a ela que era loucura se isolar com forças tão incalculáveis em jogo... Ela anda tão estranha no ultimo mês... — Tulipa falava quase para si mesma até se lembrar de Marina do outro lado da linha. — Obrigada minha querida, te mantenho informada.
***
Quando Tulipa chegou ao quintal do casarão, encontrou Perla caída no chão, a cabeça afundada nos restos da fogueira extinta. Em torno dela, a terra parecia ter circulado como um furacão deixando a fogueira como o olho imóvel, enquanto tudo teria girado em volta.
Ela tentou despertar a irmã de várias maneiras, mas não conseguiu. Então chamou a ambulância. Antes que a levassem, retirou o par de brincos de suas orelhas e os guardou no cofre da Irmandade.
Memórias
Na manhã seguinte ao desastre Rebeca acordou e foi para o quarto do irmão, ainda tinha a sensação de perda eminente pulsando no peito. Ele também já estava acordado, olhando sem ver seu baixo no canto do quarto. A única coisa em que conseguiu pensar foi na sorte de terem levados os instrumentos para o carro depois do show. Não teria como comprar outro tão cedo e jamais pediria ao pai nas circunstâncias atuais.
Quando Rebeca apareceu na porta foi como se um lampejo brilhasse em sua mente e sua memória transbordasse.
— Eu sonhei com aquilo! — assustou-se Caio. — Na noite anterior eu sonhei com a tromba d'água arrasando a tudo e a todos. E senti que você deveria lutar, que você seria capaz de vencer... Mas acordei me lembrando de quase nada, apenas sensações...
Rebeca apertou os lábios. Crescia nela o remorso por ter demorado a fazer alguma coisa.
— Se eu tivesse convocado a Deusa mais rápido, a tragédia poderia ter sido tão menor... Eu demorei tanto a agir... — Rebeca sentiu as mãos do irmão envolvendo as suas. — Simplesmente porque nunca imaginei que pudesse intervir em algo assim. Ainda é tão surreal acreditar que eu possa ter interrompido aquilo.
Feridas
Caminhar de casa até a escola não era coisa fácil naquela semana. Os pés machucados ou quebrados era o mais comum dos ferimentos. Aos poucos, todos tentavam retomar a vida normal.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Os Olhos da Deusa (completo)
AventuraPRIMEIRO LUGAR NO CONCURSO DESEJOS. PRIMEIRO LUGAR NO CONCURSO ESCRITORES FANTÁSTICOS. SEGUNDO LUGAR NO CONCURSO ESTRELAS DE PRATA. SEGUNDO LUGAR NO CONCURSO ESTRELAS VESPERTINAS TERCEIRO LUGAR NO CONCURSO LEITURA NACIONAL MELHOR SINOPSE DE FANTA...