A Lua Nova

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Estranhamento

A véspera do início das aulas foi, no mínimo, estranha. A galera se reuniu na casa de Marcos e Gustavo para assistir a alguns clipes e shows das músicas que pretendiam ensaiar. Era para ser apenas um encontro da banda, mas as garotas insistiram em ir.

– Quem sabe nós não ajudamos? – falou Carol ao Caio.

– Não vamos perturbar vocês, sério! – insistiu Rebeca. − Eu vou telefonar para o Marcos, aposto que ele não vai se importar.

– Ah, sei... O cara é o maior mal humorado! Mas, pensando bem, se você pedir, aposto que ele vai deixar – respondeu Caio.

– O que você quer dizer com isso? O Marcos é afim da Rebeca?

– Não foi isso o que eu falei, Carol. Afinal, todo mundo sabe que a razão da rabugice dele é o fora que levou da Thaís.

– Não distorce! Ele sempre foi mal humorado. Aliás, ela não deu nenhum fora nele porque ele nem chegou nela. Eles só dançaram juntos naquela festa... – disse Rebeca.

– Aí, ela deu mole para ele e quase deixou que ele a beijasse... Mas saiu correndo de repente – esclareceu Caio.

– Essa garota é doce, não é? Todo mundo já foi ou é afim dela! – reclamou Carol. − Você também já gostou dela, Caio?

– Não inventa, Carol! Esse papo já ficou chato. Liga para ele e ponto. Se ele não se importar, vocês podem vir comigo. Mas nada de chamar a Priscila!

– O quê? – irritou-se Carol. – Ela é nossa amiga! Vou chamá-la sim.

– Ela sempre atrapalha, Carol. Ela grita o tempo todo, dá ataque, é ridículo.

– Ridículo é o seu ciúme! Eu vou convidá-la sim.

– Quer saber? Faz o que você quiser.

Rebeca ficou assistindo a cena em silêncio. Algumas coisas estavam se tornando cada vez mais evidentes: o Caio estava irritado, e não era só com a Carol, mas era nela que ele descontava. E Carol estava cada vez mais arredia com ele e só piorava quando Priscila estava por perto.

− Podem vir – respondeu Marcos ao pedido de Rebeca.

Ele era realmente muito condescendente com Rebeca. Priscila o irritava, Carol era uma amiga com quem se permitia ser muito sincero e Thaís era algo mal resolvido.

Gustavo os recebeu no portão com um sorriso.

– Achei bom que vocês viessem, afinal eu também não sou da banda... Fiquei com medo de esses caras me expulsarem da minha casa!

– Esses roqueiros são pura fachada! – respondeu Rebeca. – Só sabem fazer cara de mau.

A princípio, aquele encontro parecia tão comum quanto qualquer outro, até que Priscila chegou. Tinha um ar sério e misterioso. Trazia um baralho de cartas de Tarô. Ela certamente não sabia jogar, trazia um pequeno manual. Queria fazer das amigas cobaias na arte que estava começando a estudar.

Priscila cochichou no ouvido de Rebeca e Carol. Ela estava tão curiosamente sedutora que parecia hipnotizar a ambas. Ali, ela quase retratava com fidedignidade sua prima Marina. Se não fossem suas intenções, ela estaria perfeita. Elas deixaram os rapazes assistindo aos clipes na sala estar e foram para a sala de jantar jogar as cartas.

– Primeiro você, Rebeca – ordenou Priscila, dispondo as cartas na mesa e indicando o que a garota deveria fazer.

Rebeca era fascinada por aquele jogo. Sempre se sentira atraída por essas coisas místicas. Lembrou que, certa vez, encontrou uma caixa na casa da avó, que guardava justamente um jogo de Tarô. Passou horas lendo algum futuro que não sabia distinguir. Até que sua mãe a flagrou e a proibiu: "O futuro a Deus pertence!" Ali, ficou muito clara a distância que separava sua mãe de sua avó.

Os Olhos da Deusa (completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora