Lua Crescente com aviso de gatilho

78 14 0
                                    

Atenção leitores: Esse capítulo aborda o tema tentativa de suicídio. Não há nada explícito, mas quem não se sentir à vontade, eu posso enviar um resumo no privado. Farei isso com todo carinho.  


Desespero

Rebeca entrou em casa com a alegria estampada no rosto. Levava consigo o gosto do beijo de Gustavo, seu olhar iluminado e seu toque, que provocava o bater de asas de borboletas dentro de sua barriga. Não percebeu o ar pesado na casa e nem a escuridão das cortinas fechadas. Caminhou sorrido na direção do quarto da mãe, queria dividir algo bom com ela, queria fazê-la sorrir. Quando empurrou a porta do quarto, sentiu um golpe de desespero.

Regina parecia ter se jogado na cama, cabelos sobre o rosto, pés para fora, braços moles. As portas do guarda-roupa destinado ao pai estavam abertas e vazias. Rebeca mal conseguia respirar, subiu na cama e sacudiu a mãe. Uma baba escorria de sua boca. Então, ela viu embalagens de remédios espalhados pelo chão. As mãos de Rebeca tremiam, as lágrimas embaçavam sua visão. Mas, ela precisava ser rápida, precisava tomar uma atitude. Olhou para o celular, mas não conseguia se lembrar do numero de telefone da emergência. Precisou respirar fundo para conseguir lembrar e ligar. O tempo entre a ligação e a espera pela ambulância foram os minutos mais longos e dolorosos de sua vida.

Sozinha, abandonada pela mãe e pelo pai, ela precisava escutar e executar o que o paramédico e enfermeiro pediam. "Ligue para um adulto responsável"; "encontre a identidade e o cartão do plano de saúde de sua mãe"; "leve seus documentos"; "fique calma". A visão de Rebeca voltou a embaçar, os ouvidos trabalhavam em lentidão, mas ela lutava para ser capaz de estar ali. O telefone da casa da avó não dava sinal, telefone rural às vezes não funciona. O pai não atendia o celular. O irmão também não. Então, tentou o tio Jorge, ele atendeu e, aos setenta anos, perdeu a voz ao escutar o que se passava com sua sobrinha.

Pelo menos encontrou um responsável, mas queria mesmo era seu pai. Não para culpá-lo, não porque ele não podia separar-se de sua mãe, mas por ela. Rebeca precisava de seu pai ao seu lado.

O tempo se arrastou e Rebeca estava sozinha na recepção do hospital quando seu irmão ligou.

− O que houve? A Carol falou que foi embora da escola sem falar com ninguém?

− Estou no hospital, irmão, vem para cá. É a mamãe...

Caio ainda tinha a última aula, nenhum responsável para autorizá-lo a sair do colégio mais cedo. Foi preciso colocar Rebeca no telefone com a coordenadora para convencê-la a liberá-lo. A coordenadora não duvidou. Aliás, já se sentia em dívida com a aluna. Tio Jorge foi direto para o sítio buscar sua irmã. Estela já pressentira tudo, estava pronta, aguardava no portão pelo irmão.

Os Olhos da Deusa (completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora