A Lua Cheia III

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Desejo

O sol brilhava no centro do céu. Marina adormeceu, por exaustão, depois que Perla aliviou suas energias negativas num ritual. A partir dali, Perla passou toda a manhã treinando Priscila.

"Estamos conectadas, mas isso, por si só, não é o suficiente. Você precisa aprender a canalizar toda sua energia para os meus comandos e bloquear qualquer energia indesejada que possa te perturbar." Explicou a voz de Perla, transmitida através do olhar para Priscila.

Sem os Olhos da Deusa, os desejos de Perla funcionariam como uma sugestão inconsciente na mente de Priscila. Com o poder das pedras, Perla comandava Priscila. Em alguns momentos, Priscila pensava que fazia algo por pura intuição e em outros, sabia que era o desejo de sua sacerdotisa.

− Isso é incrível, o poder dessas pedras nunca foi tão forte, tão concreto – Perla ergueu seu cajado ao ar – não posso perdê-las, minha Deusa. Quem saberia usar seus Olhos tão bem quanto eu?

Priscila estava deitada no centro do círculo mágico. Braços abertos, olhos fechados. Descarregando o quanto possível de sua energia confusa para absorver melhor os comandos de Perla. Precisava alcançar a quietude e estabilidade.

Perla se reuniu com Priscila e Marina depois do almoço. Olhou para cada uma de suas seguidoras, gozando diante do poder e lealdade que cultivava nelas.

− Temos que nos preparar, a Deusa exige cada vez mais de nós. E nos oferece cada vez mais poder em troca. – Perla, excitada, caminhava pela sala. −  Hoje acontecerá um evento raro: os planetas Vênus e Júpiter estarão muito próximos no céu. Logo quando começar a escurecer, na linha do horizonte, vamos ver os dois astros mais brilhantes do céu tão próximos que teremos a ilusão de que se tocam.    

− Júpiter favorece a ambição, a sorte, e potencializa o poder daquilo que já possuímos. – Marina olhou para os brincos de Perla. – Vênus favorece a feminilidade, a sexualidade, a satisfação e o amor. 

− Exato, Marina. Teremos muito trabalho hoje. Priscila busque pedaços de madeira e prepare uma fogueira. Marina prepare o ambiente e o altar. E, lembrem-se: já estamos realizando um ritual. Afastem as energias ruins, concentrem-se na missão.

A Lua de sangue

As lembranças dolorosas de Thaís ressoavam em Rebeca: cada cena vivida, cada medo sentido e cada ferida infligida. Ela não podia se calar diante de tudo o que viu quando seu espírito foi transportado para o universo da amiga. Não podia evitar que a angústia e dores de Thaís amargassem sua garganta.

− Aquele homem abusou de você! — Doía em Rebeca falar aquilo e mais ainda ver as lágrimas enchendo os olhos da amiga. — Você precisa reagir, Thaís. O que aquele homem fez com você... Precisa denunciá-lo.

− Você viu dentro de mim e não me entende. — Thaís franziu a testa, colocou as mãos sob a boca e olhou para o chão. —  Eu não devia ter saído do quarto no meio da noite. Não devia ter corrido para a sala vestindo uma camisola quando meu pai chegou em casa acompanhado daquele homem. E ler aquele livro me fez imaginar coisas que não deveria...

− Não! Você não tem culpa. Ele viu sua fragilidade e abusou de você. Ele foi covarde e nojento! — Rebeca segurou a amiga pelos ombros tentando encará-la.

− Minha mãe reprovaria tudo isso que eu fiz. Ela me culparia — respondeu Thaís quase sussurrando.

− Não acredito nisso. Sua mãe gostaria que você tivesse coragem de se impor, de reagir. O problema é que ela sempre fez isso por você, te colocou nesse lugar de garota frágil. Você não pode continuar se escondendo aí!

Os Olhos da Deusa (completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora