A Lua Crescente II

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Punição

Já se aproximava de meia-noite. Estela liberou os netos para voltarem para casa, dormiria com a filha no hospital.

− Ela tomou uma quantidade muito alta de hipnóticos. Poderia ter sido letal se sua neta não a tivesse encontrado a tempo, ela entrou em coma − explicou o médico. – Foi preciso fazer hemodiálise para filtrar o sangue e eliminar os barbitúricos.

Estela ficou a sós com a filha inconsciente, seu corpo doía de tensão. Era terrível ver a filha se destruir. Sentia suas forças diminuírem a cada minuto, mas precisava provocar uma reação em Regina, convoca-la para a vida.

− Você quase conseguiu tornar-se mártir. A tristeza maior é o castigo que impõe a seus próprios filhos. Rouba-lhes o direito de acreditar na felicidade. Você me acusa de ter lhe privado a felicidade e faz o mesmo? É assim que será uma mãe melhor do que eu?

A lua crescente emitia a energia capaz de mover o amadurecimento evocado por Estela. Ela tentava fazer o inconsciente da filha ouvir e trabalhar. Regina precisava despertar para a vida antes que fosse tarde demais.

Caio e Rebeca chegaram exaustos em casa. O corpo doía tal qual a alma. Responder a todas as mensagens dos amigos era também desgastante, difícil explicar o que tinha acontecido. Mas uma mensagem acalentou Rebeca.

"Se eu tivesse uma borracha mágica apagaria a dor do seu dia. Só deixaria a parte em que nos encontramos porque, se você tiver sentindo o mesmo que eu, foi a parte boa. Desculpe se eu tiver me excedendo, só queria te alegrar. Fique bem. Precisa de mim?"

"Preciso", respondeu Rebeca. Então, o sono veio, e ela não sonhou, porque a realidade já revelava coisas demais.

A manhã seguinte amanheceu carregada de nuvens. Thaís atravessou o portão do colégio e logo percebeu que o retorno não era algo simples. Era incômodo ver os colegas olhando-a com curiosidade. O alívio só veio quando avistou Carol e Igor dentro da sala de aula, mas havia um burburinho em torno deles.

− A mãe dela passou mal, vai ficar hospitalizada − falou Igor.

− O que ela tem? − perguntou uma colega.

− Nós não sabemos os detalhes. E eles não vão vir à aula hoje, ok? − falou Carol, tentando encerrar o assunto.

Igor tentava sair da própria carteira para respirar sem tanta gente em volta, quando viu Thaís. O sorriso veio mais rápido que o ar. Ele correu até ela e a apertou num abraço. Em seguida foi a vez de Carol, depois alguns outros colegas mais próximos.

− Cadê a Rebeca?

Carol e Igor se olharam sem saber por onde começar. A amiga mal saíra de uma depressão por perder a mãe e vinha a notícia sobre a mãe da melhor amiga.

− Vocês estavam falando da mãe dela?

− A história não é bem essa, mas sim, era sobre ela...

− A gente te explica melhor quando estivermos a sós − completou Carol.

Às oito horas da manhã, o médico a examinou. O quadro de Regina estava estável, em breve ela acordaria. Os irmãos ficaram no hospital para que a avó fosse para casa descansar. O pai ainda não tinha retornado a ligação.

− Eu vou mandar uma mensagem para ele − falou Rebeca.

− Que se dane. Não quero vê-lo.

− Ele é nosso pai, tem que se responsabilizar por nós enquanto a mamãe estiver assim. — sussurrou Rebeca.

Os Olhos da Deusa (completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora