O MUNDO DE UMA OITO (A SELEÇÃO)

A VIDA DE OITO

ILLÉA pode ser considerada um país em desenvolvimento, porém o desenvolvimento não chegou ao norte de Waverly.

Onde as casas são restos da terceira guerra, reformadas apenas o suficiente para não cair na cabeça de seus moradores.

Moro com minha mãe Lauren, minha irmã gêmea Melina e a vovó Zoe em uma casa minúscula.
Estava mais para um quarto na verdade, onde seus antigos donos adaptaram uma cozinha e um banheiro.
Essa casa também foi a única coisa que recebemos do meu pai, que para não deixar minha mãe grávida literalmente na rua, comprou a casa de um soldado que vivia ali para fazer vigilância na região, porem essa é uma área tao esquecida  pelo reino que nem se deram ao trabalho de manter os soldados por aqui, onde as ruas eram dominadas por rebeldes, bandidos, moradores de ruas e malucos.

Minha mãe acha que o homem que doou o esperma para fazer a mim e minha irmã ainda foi muito bom por ter comprado ao menos esse teto para morar, pois qualquer outro nem olharia para trás.

Sei que ela tem razão até um certo ponto mas ainda assim eu considerava esse doador de esperma um babaca.
Mamãe não gosta de tocar nesse assunto, tudo que sabemos ate hoje foi por juntar os pequenos pedaços de informação que ela deixava escapar vez ou outra.

Mamãe conta que trabalhou por quatro meses até sua barriga começar a crescer e os clientes não quiseram mais saber dela.

Foi nessa época que ela conheceu a vovó zoe, que adora contar a história de como minha mãe a salvou de um destino horrível.

Vovô Zoe morava na rua e vivia de migalhas, mamãe sempre partilhava alguma comida com ela quando possível.

Um dia depois de mais um cliente a rejeitar por causa da barriga, vovô Zoe se ofereceu para ajudar quando o bebê nascesse, assim mamãe poderia voltar ao trabalho o mais breve possível.

E foi assim que vovó zoe passou a morar  nessa casa também e como ela tinha idade de ser mãe da minha mãe, e a considerar como uma filha, crescemos a chamando de vovo.

Mamãe saia cedo e voltava tarde todos os dias, inclusive nos finais de semana.
 Ela possui vários clientes fixos que atende durante o mes.

Um deles era o Sr Quiet, um senhor já na casa dos sessenta anos, que tinha mulher, filhos e pertencia a casta tres.
Por ser professor e apaixonado por minha mãe, concordou em nos ensinar em troca de seus serviços.

Por sorte ele tinha fama de ser um benfeitor, um homem caridoso por ajudar os mais necessitados, levando comida e às vezes algum conhecimento naquele bairro esquecido por todos.

Sendo assim ninguém estranhava suas visitas diárias naquela região remota de Waverly.

Minha mãe é uma mulher linda, e apesar da vida difícil que levamos, ela nunca perdeu sua aparência jovial e alegre.

Melina e eu costumamos dizer que ela se parece com um anjo de uma imagem que vimos num livro do Sr Quiet uma vez.
Era uma figura feminina que tinha cabelos loiros claros e compridos, olhos azuis amáveis e usava apenas um véu transparente que cobria suas partes íntimas, e somente quem prestasse atenção na imagem perceberia que seus pes nao tocavam o chao por causa de duas grandes asas brancas.

Comentei a comparaçao ao senhor Quiet quando vi a foto, e sua cara de bobo mostrava que ele também pensava assim.

Por ser nosso professor ele era uma das poucas pessoas que sabia que minha mãe tinha duas filhas, ela tomava um grande cuidado para que não fossemos vistas por ninguém.

Mulheres das castas mais baixas como nós, somos consideradas como nada aos olhos das castas mais altas, por isso ninguém se importaria se fossemos estupradas ou torturadas, afinal estávamos no fim da fila da dignidade, o estorvo da sociedade, na qual fechavam se os olhos para as pessoas morrendo de fome ou frio por viverem na rua.

Sao raras as vezes que Melina e eu podemos ir para o lado de fora.

Temos um quintal estreito onde plantamos alguns vegetais, mas a terra não é muito fértil nessa região, apenas de vez em quando conseguiamos colher alguns tomates, cenouras e ervilhas.

Infelizmente nao posso dizer que nunca passamos fome, muitas vezes não tivemos o que comer, pois éramos quatro bocas e apenas mamãe trabalhando.

Ela era uma prostituta de luxo como gostava de se intitular, mas mesmo sendo considerada de alto escalão em sua profissão a comida quase não era o suficiente para nos quatro.

Quando um de seus clientes resolve lhe dar algum presente, eles raramente veem em forma de flores ou joias, pois sabem que o melhor presente para minha mãe vinha na forma de alimento.

Maçãs brilhantes, laranjas suculentas, e até pães e doces.

Mas na minha opinião o melhor presente de todos até hoje, foi quando ela chegou em casa com uma televisão.

Tínhamos treze anos de idade na época e para garotas que nunca saem de casa, aquela foi a melhor forma de conhecermos o mundo depois dos livros do Sr Quiet.

Depois que pudemos ver como era a vida das castas mais altas e até mesmo da realeza, Melina colocou na cabeça que queria ser uma princesa.

E eu queria apenas conhecer o mar.