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Oliver estava ferido. Sua respiração muito irregular e ele sentia uma vontade quase incontrolável de vomitar. Ele estava encostado em uma árvore,a mão no braço rasgado pelas garras de uma das criaturas que enfrentara mais cedo. A noite fria já havia caído e ele não achava que pudesse chegar com vida mais adiante. Pensou em Casser e se estaria bem,se teria aceito algum tipo de oferta da rainha de pedra. De uma coisa ele tinha certeza: Casser o estava odiando agora. mas ele não se importava,desde que o rei estivesse em segurança. Não sabia sequer se voltaria a vê-lo ou se visse(se todos saíssem bem daquilo tudo) se Casser o aceitaria de volta para servi-lo. Ele suspirou dolorosamente,e não era apenas pelo peito ferido. A floresta estava muito escura e dificultava sua visão para caminhar por ela,morreria ali. Oliver havia enfrentado com todas as suas forças mais três criaturas e por um milagre,havia conseguido aniquilá-las; mas agora sofria as consequências na pele. Com aqueles ferimentos,sabia que não poderia sobreviver. Começava a se perguntar porque havia enfrentado aquelas criaturas,quando era óbvio que sem seu cavalo não iria muito longe. Ele pressionou levemente a mão sobre o braço rasgado,a dor ficava insuportável a cada minuto. Ele se recostou contra o tronco da árvore e deslizou até o chão,não aguentaria caminhar e tinha perfeito conhecimento de que estava muito exposto a mais daquelas criaturas e seja lá o que mais espreitasse as árvores; mas não se importava.

Seus pensamentos vagaram de volta há dois anos atrás,quando ele havia entrado para o palácio de Casser a fim de fazer os testes para guarda do rei. Era ainda muito inexperiente,mas lutara com bravura com o oponente diante dos olhos do rei e vencera. Casser então decidira que ele deveria ser rigidamente treinado para integrar seus homens e ouvir aquilo o deixara extremamente contente naquele dia. Ele havia se assustado com o fato do rei ser alguém tão jovem,parecia ter quase a sua idade. Oliver teve pena daquele rapaz sentado no trono,sabia que o fardo que ele carregaria durante os anos não seria tão leve.

Agora,com o braço começando a latejar,Oliver soltou um sorriso sarcástico. Casser havia conseguido com sucesso driblar os obstáculos do reinado,é claro que houvera dificuldades; mas o jovem rei não deixara que isso fosse páreo para ele. Oliver o admirava muito,achava que no lugar do rei,ele não teria tanto equilíbrio. Ele jogou a cabeça para trás e gemeu,a dor em seu peito também intensificava e ele sentia a morte rondando-o devagar. Não poderia passar daquela noite,poderia? Ao menos gostaria de ter certeza que seu rei estava bem,que ficaria bem e se reergueria algum dia. O trono de Beelion fora dado a ele pela Rainha da Luz e pertenceria a ele até que fosse dito o contrário por ela. Ele fechou os olhos,o cansaço tomando conta de seu ser. Foi exatamente quando ele começava a esquecer a dor devido ao sono pesado que insistia em se apoderar dele,que ouviu algo á frente na floresta. Ele piscou e atentou-se,seriam mais criaturas de Lumi? Ou seriam outros seres perigosos da floresta?

Com a mão ainda sobre a ferida no braço esquerdo,ele aguardou. Não se esforçou para ficar de pé e lutar outra vez,pois suas forças se esvaíram. Se fosse a morte,ele não se importava;Contanto que a dor fosse embora de vez. Ele esperou o mais alerta que conseguiu,lutando contra o sono que lhe tomava e então a viu. A garotinha de olhos azuis que o havia ajudado mais cedo,que despistara os homens de Lumi para que ele tivesse tempo de fugir. Oliver não sabia se era algum tipo de anjo que o guiava ou não,aquilo não podia ser daquele mundo.

-Você precisa ir para casa. -Falou a menina. Os olhos continuavam tristonhos. Não,ela não poderia ser um anjo - pensou Oliver.

E então ele viu um cavalo surgir atrás da garota. Ela olhou para o animal e então de volta para Oliver,este estava perplexo.

-Ele vai te levar para casa ou para onde quer que possa buscar ajuda e estar seguro. -Explicou ela.

Oliver se mexeu com dor,a mão no peito agora. Não compreendia,quem era ela e por que o estava ajudando?

-Eu o peguei de um dos homens de seu inimigo. -Disse a menina olhando para o cavalo. -Agora suba nele e trote para longe.

Oliver se levantou com dificuldade,e quando o animal estava próximo o suficiente dele,ele o tocou para certificar-se de que ele era real e não efeitos alucinantes da dor que sentia. Talvez ele já estivesse morto. Oliver olhou para a garota.

-Quem é você?

Ela se afastou.

-Suba e trote para casa.

Ele baixou os olhos. Não iria voltar para casa pois ficava muito longe e provavelmente só chegaria lá pela metade do dia,não suportaria a viagem. Ele tossiu e sentiu o peito doer.

-Quem é você e porque está me ajudando?

-Você saberá depois. -Disse a garota. -Agora vá,é perigoso continuar por aqui.

Oliver estava cansado,então passou com dificuldade um braço por cima do cavalo marrom-escuro e se esforçou para subir. o rosto da menina se contorceu um pouco ao vê-lo gemer com as dores pelo corpo,mas ela não disse nada. Quando em fim Oliver conseguiu montar o animal,ela falou:

-Seus inimigos desistiram de procurar por seu rei. -Informou ela. -Não se preocupe,eu cuidei de tudo.

Oliver lançou um olhar de gratidão para a menina,mas ela tinha os olhos fixos para algo após ele. Ele se virou na direção de onde ela olhava e não viu nada,então quando se virou para agradecê-la,ela havia sumido. Ele agradeceu-a silenciosamente e disse a si mesmo que iria fazer outra vez quando a encontrasse de novo,se a encontrasse. Ele bateu com os pés na lateral do cavalo e trotou para algum lugar longe da floresta.

Clair sabia o que teria que fazer para ajudar seu rei,ela entendera cada lance de olhar dele na direção dela. Todos calculados e significativos. Estava contente e um pouco assustada ao receber a revelação de que os poderes dele estavam de volta,o que ele não poderia fazer agora? ela tinha pena da Rainha de pedra.

Clair tinha perfeito conhecimento de que o rei havia notado a ausência de Oliver,seu guarda comandante. Fora discreto,ele era bem treinado. Por sorte,a rainha havia cedido a Clair um aposento com janela,já que ela percebera que aquele castelo não possuía muitas janelas. Era uma janela pequena e coberta por uma tela fina,mas resistente de ferro. Clair daria um jeito naquilo,só precisava de uma abertura para enviar sua coruja até sua terra e pedir ajuda. Encarregaria Zink de fazer aquele serviço e sabia que a ave faria com sucesso,então quando fora deixada sozinha pelos guardas no aposento quase vazio,ela se dirigiu á janela.

Tinha certeza de que ao menos um guarda permanecia ao lado de fora atento,então teria que ser cuidadosa para não fazer nenhum barulho suspeito.

-Zink,a tela é resistente,mas suas garras dão conta dela,não dão?

Em resposta, a ave saltou para a janela e usou agilmente suas garras mágicas e afiadas para abrir passagem. Clair engoliu seco antes de prosseguir:

-Ótimo. Agora preciso que vá pedir ajuda em nossa terra,em Allu. -Disse baixinho e olhou na direção da porta. -Aguentaremos até ajuda chegar. Sabe o que fazer.

E então a ave voou alto,para longe do alcance dos olhos de Clair. Agora só restava esperar respostas de Allu e então erguer a bandeira verde para Casser.

Rei Das Cinzas. (Livro 01)Onde histórias criam vida. Descubra agora