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Lumi se sentia cansado quando retornou do porto onde embarcara sua família e Amanda com o pai para Chketu. Fora dificil convencê-la de que o melhor seria que ela partisse com o pai,a jovem ainda relutava ao chegar ao porto,mas Lumi a forçou a partir e dissera que tudo se resolveria. O pai de Amanda o olhara como se ele fosse o pior dos seres diante dele,como se a filha tivesse cometido o pior dos erros se apaixonando por ele. Lumi tentara o máximo ignorá-lo enquanto aguardava o navio que os levaria para longe daquelas terras.

Sua mãe ficara aflita por partir e deixá-lo e seu irmão mais novo insistira para que ele fosse junto deles,mas Lumi fora firme ao dizer que teria que permanecer em Tonder; Sabia que talvez aquela fosse a última vez que os veria,mas esforçara-se para transmitir tranquilidade a eles. Sua lealdade estava com os Pullpers e se ele deixasse Zion,declararia traição e as pessoas que ele amava sofreriam as consequências. Se mantê-las em segurança significasse colocar a própria vida a mercê da sorte,ele arriscaria sem pensar duas vezes;e foi o que fizera.

Lumi havia acabado de chegar ao palácio - que estava agitado devido aos preparativos para a guerra que explodiria - quando foi interceptado por uma das criadas.

-Senhor,estava mesmo á sua procura.

Lumi a encarou impacientemente,as mãos nos bolsos.

-Pois diga.

-Há alguém que deseja falar-lhe,na sala de recepção.

Lumi tinha outros deveres a fazer - o principal deles era falar com o mestre Pullper - mas a curiosidade venceu-o e ele se dirigiu para a sala de recepção.

A princípio,Lumi não sabai se seus olhos mentiam; ele poderia muito bem estar vendo coisas demais causadas pelo cansaço da manhã. Mas quando a figura alta se virou para ele e tocou-o,ele soube que era real.

-Há tempo não nos vemos,Ayola. -Falou Dicco morales.

Lumi enrijeceu-se e engoliu seco,afastou-se e contornou a mesa da sala de modo que ela ficasse entre Dicco e ele; Lumi forçou-se a manter a calma ao encarar Dicco novamente.

-O que faz aqui? Não deveriam ter permitido sua entrada no palácio. -Atirou Lumi.

Um meio sorriso frio curvou os lábios de Dicco.

-Não me viram entrar -Disse Dicco com um dar de ombros. -Os guardas estavam tão absortos em seus treinamentos no pátio,que não notaram minha presença. Quer um conselho,Ayola? verifique a competência de seus homens.

Lumi girou pensativamente uma miniatura sobre a mesa.

-Casser está a caminho. -Falou.

-É exatamente sobre ele que vim falar. -Disse Dicco,aproximando-se da mesa.

Os olhos de Lumi ergueram-se para Dicco,cautelosos

-Você falhou em matá-lo,não é mesmo?

Lumi arqueou uma sobrancelha cinza.

-É evidente,não?

Ele viu Dicco soltar a respiração pesadamente.

-Há algo que tem me intrigado,Ayola. -Falou. A expressão pensativa e uma mão sob o queixo.

Lumi o avaliava silenciosamente. Dicco havia emagrecido desde a última vez que se viram,a dor da perda em seus olhos ainda brilhava como o sol e ele parecia cansado,apesar do esforço para manter o rosto impassível.

-Clair Onorio - Dicco lançou um olhar frio para Lumi. -Você a conhece,não?

Lumi ponderou,desconfiado.

-Os dias de Casser e todos os seus estão contados,tenha certeza disso. -Rebateu.

A expressão gélida de Dicco se intensificou.

-Minha falecida mulher era amiga da mãe de Clair, -Contou -E segundo o que ela me dizia,a senhora Onorio era uma mulher de honra; tal como seu marido.

-Onde você quer chegar com isso,Morales?

-Acredito que a filha dos Onorio não se submeteria a servir alguém que tivesse as vestes manchadas se é que me entende. Alguém frio de coração.

Lumi engoliu seco,mas não vacilou.

-Casser matou os próprios pais e ainda suspeita que seu coração não seja frio?! -Gritou Lumi. -Quantas vezes tal conhecimento terá que ser transmitido a você?

Dicco espalmou as mãos sobre a mesa e encarou Lumi.

-Ele aceitou as regras da Rainha da Luz para governar Beelion e...

-Isso não o torna um bom soberano! -Interrompeu Lumi. -Não significa que el não tenha...

-Incendiado a Casa de Educação e tirado a vida de tantas crianças e educadores? de Lena?

Lumi silenciou-se,estudando o outro homem.

-Clair Onorio não serviria alguém que tivesse cometido tais fatalidades. -Continuou Dicco diante do silêncio de Lumi. -Não com a educação que tivera,segundo minha esposa.

Lumi não disse nada,mas recuou um passo e torceu para que Dicco não pudesse ouvir as batidas aceleradas de sue coração. O outro homem o avaliava friamente.

-Eu o vi hoje embarcando sua família e... -Deu um sorriso torto. -A ex professora de meus filhos.

O silêncio ainda reinava.

-Você e a professora,hein? -Dicco soltou uma risada curta de escárnio. -Quem diria que o coração de Lumi Ayola seria roubado.

-Tenho coisas mais importantes para fazer. -Lumi disse,finalmente. -Então,se me der licença..

-Sim,sim. -Disse Dicco contornando a mesa até estar diante de Lumi. -Não vou tomar muito de seu tempo,vim apenas lhe dar um aviso.

Lumi cerrou o maxilar,mas não recuou. Eram quase da mesma altura,de modo que os narizes estavam quase alinhados.

-Ouça Ayola,estive juntando algumas peças e as acusações contra Casser Sincer não batem,o fato de Clair Onorio o servir fielmente também não clareia minha visão de que o rei possa ter sido o responsável pelos feitos maléficos que ocorreram em Beelion e redondezas.

Lumi engoliu seco outra vez,mas manteve a postura.

-Estarei investigando e não descansarei,tenha certeza disso.- Dicco segurou-o pelo colarinho,os olhos emanando fúria. -E se eu descobrir que você teve algo a ver com a destruição da Casa de Educação onde meus filhos foram queimados...que tirou a vida de tantas crianças,MEUS FILHOS,AYOLA! Eu o farei sofrer,irei atrás daqueles que você mais ama e o farei implorar pela vida deles...antes de matá-los na sua frente!

Soltou brutalmente a camisa de Lumi e deixou a sala a pisadas fortes. Lumi esfregou o pescoço e lutou para deixar os pensamentos sobre Dicco para depois, ele deveria se apresentar ao Mestre Pullper agora,sem demora.

Rei Das Cinzas. (Livro 01)Onde histórias criam vida. Descubra agora