Capítulo 1

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Aquele era mais um dia chato, como de costume. E o que eu considero como "dia" pode ser entendido como a maior força de expressão da galáxia, já que eu não sabia o que era ver uma estrela surgir no horizonte de um planeta há alguns meses-padrão. A essa altura, me peguei pensando que em Tatooine havia duas e eu as desvalorizei a vida inteira, talvez porque o calor desgraçado daquela bola de areia ressecasse minha pele, e isso me dava uma sensação nojenta.

No momento em questão, eu estava fazendo o que me era de hábito: consertar as avarias do velho cargueiro – pois é assim que a vida de um ser com intelecto tão superior quanto o meu termina depois que se faz algumas porcarias com a República – e checando no datapad se naquele sistema estelar onde estacionamos não havia nenhuma recompensa pelas nossas cabeças.

Já o Niyv, o Nagai que me acompanhava na viagem, provavelmente estava por aí se divertindo com o holograma de alguma Twi'lek saliente. Gostaria de pensar que esse holograma fosse algum outro que não o que eu roubei de um viajante em Mos Eisley, pois me disseram que ele valia um bom dinheiro. Se for esse, prefiro abrir mão da grana a tocar nele de novo.

De qualquer maneira, viajando com o Niyv, pelo menos eu tinha algum sossego e bastante dinheiro para bancar meus projetos particulares. Era um ótimo acordo: eu mantinha a nave funcionando, o ajudava com os roubos e as caças e, com isso, podia construir meus brinquedos em paz. Muitos deles se tornaram bastante úteis, como o blaster de recarga rápida, algo que eu classifiquei como "a obra prima da engenharia bélica galáctica". Pena que, fora o Niyv e eu, não havia mais ninguém para testemunhar tal feito – os que conheceram o poder desse blaster, por exemplo, já não estão mais aqui para contar a história.

Tudo estava na mais perfeita calma até aquele momento, quando a nave indicou uma chamada não registrada e os meus planos de instalar dois canhões duplos na nave foram interrompidos.

— Ô SHIZOOOO! – Niyv gritava comigo como se eu estivesse a alguns anos-luz de distância.

— Pelo asteroide, o que que foi, homem?

— Atende o comunicador aí!

— E por que você não levanta essa bunda de aço daí e vai atender, seu desgraçado? – Esbravejei, esticando meus dois braços direitos para o maldito comunicador.

— Isso é jeito de falar com seu patrão, seu maluco?

Eu realmente devia estar na orla exterior e não sabia, pois ele continuava a falar absurdamente alto.

— E o que você vai fazer? Colocar sangue1 dentro da minha garrafa de água?

Ele tentou isso uma vez há algum tempo atrás. O choque que a garrafa deu nele fez com que seu braço ficasse dormente por um dia padrão. Quando se trabalha para alguém que tem sangue quente (e ácido) correndo nas veias e pouca paciência para reconhecer que sempre estou certo, é bom estar precavido o tempo todo.

— Ai, haja paciência com essa barata branca...

Eu realmente quero encontrar uma barata branca na galáxia para saber como é, mas, de tanto me chamarem assim, imagino que deva ser uma criatura adorável e bastante inteligente.

Cansado de discutir e na base dos resmungos, aquele ser desprezível finalmente se desgrudou do canto onde estava e foi atender ao chamado, muito provavelmente por estar de saco cheio do barulho insuportável que aquela geringonça emitia. Se você já escutou o pio de um Varactyl2 alguma vez vai adorar passar uma temporada ouvindo os gritos de um bando inteiro depois de cinco minutos perto da sirene desse troço quando alguém queria falar conosco (coisa rara, aliás). Afinal, somente alguém que nos conhecesse do submundo do contrabando ou algum hacker da República teria a capacidade de burlar as proteções do nosso sistema e nos rastrear.

Star Wars - O Esquadrão AmareloOnde histórias criam vida. Descubra agora