Capítulo 1

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Northwest Village, ano de 1795

Quando o grande Lorde Benjamim Tickle chegou a sua mansão, as criadas corriam de um lado para outro, carregando bacias com água, torres de toalhas brancas e entre outras coisas.

- Mas o que diabos está acon... – tentou perguntar a uma das moças que corriam pela sala e escadaria acima. Mas a moça passou por ele tão rapidamente que não ouviu o que o Lorde lhe falava.

Esse largou a espingarda que trazia debaixo do braço em cima de um móvel qualquer e correu para o andar de cima para ver o que estava acontecendo.

Quando subiu o ultimo degrau da grande escadaria, um forte grito cortou a garganta de sua esposa. Claro, sua esposa! Como não havia pensando nisso antes? Sua jovem e bela esposa, estava grávida de 7 meses...

'Mas como é possível?' – pensou consigo mesmo. Faltavam ainda dois meses para que a sua mulher pudesse dar a luz.

Caminhou, apressadamente, a curta distancia que o separava do quarto da esposa, e chegando a porta do aposento, surpreendeu-se com a grande pilha de lençóis e toalhas ensanguentadas que se encontravam na entrada do quarto.

'Ah por todos os santos ... Está morta!' – pensou.

Pigarreou uma , duas vezes buscando chamar a atenção de alguma criada.

Mais um grito.

Sua esposa soltou mais um grito, e ele se encolheu quando o som agudo penetrou –lhe os ouvidos.

Já estava ficando impaciente, quando trombou com uma criada que saia do quarto às pressas.

- Ah Milorde – disse a moça surpresa em vê-lo – ainda bem que chegou, Lady Vanessa não está nada bem.

- Mas o que diabos está acontecendo? – exclamou impaciente. – O médico disse que a criança só nasceria daqui a dois meses.

- Sim Milorde – disse a moça passando uma mão na testa para tirar o suor que lhe escorria pela fronte – esse seria o certo. Mas Milady começou a sentir as contrações logo depois que o senhor saiu. – Explicou a moça.

- E onde está o médico? Já o mandaram chamar? – quis saber o Lorde.

- Já sim meu senhor – respondeu a criada alisando o avental cheio de manchas de sangue. – Mas ainda não chegou.

- Ela... – começou a dizer o Lorde, mas parou quando sentiu um bolo se formar em sua garganta. – Ela está morta? – finalmente conseguiu dizer.

- Não meu senhor, está resistindo bravamente. – respondeu-lhe a criada.

Antes que a criada terminasse sua resposta, Lady Vanessa gritou mais uma vez.

'Claro que não está morta... Gritando do jeito que está' – pensou o Lorde e lembrou –se que já tinha ouvido os gritos da esposa.

Essa gritou mais uma vez, e o Lorde liberou a criada para que fosse verificar por onde andava o médico.

Entrou no aposento, e logo sentiu o cheiro ocre de sangue, empurrou com delicadeza algumas criadas para que lhe dessem passagem, então sentou-se ao lado da esposa e pegou a sua mão.

Vanessa estava pálida como uma folha de papel em branco, seus dedos estavam frios e escorregadios por conta do suor, ela mantinha os olhos fechados e parecia não notar a presença do marido.

- Força minha senhora – pediu-lhe uma criada, que estava posicionada entre as pernas abertas de sua senhora – vosso marido chegou, consegue senti-lo? – a criada falava com uma voz calma e sonora.

As pálpebras de Lady Vanessa tremeram. Lorde Benjamim apertou-lhe os dedos lhe dando a força de que precisava, ela tentou retribuir o afeto, mas não teve muito êxito.

- Pode conversar com ela Milorde – disse a criada parteira- Ajuda a mantê-la acordada.

- Há quanto tempo ela está assim? – perguntou o Lorde.

- Um pouco mais de duas horas.

- Ben...- sussurrou a esposa. – Ben... Não...Sei se... Consigo... Consigo aguen... Aguentar.

Lorde Benjamim olhou para a esposa, e depois para a criada e novamente para a esposa, a espera de que alguma das duas lhe dissesse o que fazer. Por fim decidiu que conversar com a esposa, mesma ela estando naquele estado, não seria tão ruim.

- Claro que consegue querida – sussurrou para a esposa.

A criada que havia descido para ver onde o médico estava retornou trazendo o recado de que o médico não poderia atender a Lady Vanessa, pois estava cuidado de outro parto a quilômetros dali.

- Terá que aguentar minha senhora – disse a criada para ninguém em especial, depois arregaçou as mangas e pediu que Lady Vanessa fizesse força.

Lorde Benjamim deixou o lado da esposa, e pediu que uma criada assumisse o seu lugar, e foi se posicionar atrás da parteira.

Olhou de canto de olho para a imagem diante de si, e viu uma pequena protuberância começar a sair da vagina de sua mulher, e a criada continuava a gritar, mandando sua esposa empurrar e fazer força.

- Ela não tem passagem – disse a parteira, novamente para ninguém em especial.

Sem pensar no que estava fazendo, o Lorde arregaçou as mangas e sacou um canivete que sempre carregava em um bolso escondido em seu colete, depois caminhou até uma cômoda agarrou um das garrafas de bebidas e derramou quase todo o liquido âmbar em suas mãos. Depois voltou para junto da esposa, e pediu que a parteira se afastasse.

Inclinou-se para frente enfiando a cabeça entre as pernas de sua mulher e cortou ao redor da entrada com precisão, encaixou as mãos de ambos os lados da pequena protuberância e a puxou com delicadeza.

O bebê caiu em seus braços, não chorou, e estava roxo.

- Dê-lhe uns tapas Milorde – mandou a parteira.

- Como? – perguntou confuso

- Para que chore – explicou ela – dê-lhe uns tapas.

Sem muita fé, o Lorde girou a criança nas mãos e deu uns tapinhas em suas costas.

- Com um pouco mais de força – mando a mulher.

E ele obedeceu, dando mais dois tapinhas nas costas do filho, sim era um menino. A criança por fim chorou.

Por um momento, enquanto olhava para seu filho em suas mãos, o Lorde esqueceu da esposa, que jazia em cima da cama quase morta.

Entregou o filho para um das criadas e correu de volta para o lado da esposa, e pegou a sua mão.

As criadas começaram a correr de um lado para o outro, gritando uma com as outras para que trouxessem mais água quente e mais toalhas. Limparam e vestiram a sua senhora, e essa nem mesmo se mexeu.

Seu marido se recusava a pensar que estivesse morta. Continuava a apertar a sua mão. Após terminarem de limpar o quarto, as criadas subiram trazendo um chá de cor estranha, que serviram a Lady Vanessa com uma colher.

- É para que ela se recupere logo – explicou a criada ao lorde, quando viu que esse a encarava.

- Acha mesmo que ela ainda tem chance de se salvar? – perguntou ele.

- Sim, - respondeu a moça – está com o pulso fraco, mas é estável, é normal quando se perde tanto sangue. – a moça terminou de dá o chá a senhora e saiu.

- É um milagre que ainda esteja viva – murmurou o Lorde para ninguém em especial.

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