Capítulo 19

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- É aqui - gritou Camille para a criada quando achou o ponto mais favorável dentro da floresta.

Era o mesmo lugar onde ela e Benedict haviam sido atacados por aquela fera. Ela ainda podia ver as marcas de garra no tronco da árvore. Mas agora se perguntava se estava procurando pela criatura certa.

- Tem certeza Milady? – perguntou a criada.

- Claro que sim – respondeu ela entusiasmada e desmontou a égua.

- Podemos dá mais algumas voltas se preferir – sugeriu Sarah.

- Por acaso senti um sarcasmo na sua voz? – quis saber ela pondo as mãos na cintura e encarando a amiga.

- Que isso Milady – responde-lhe Sarah.

Camille amarrou a égua em uma árvore próxima, então começou a retirar seus utensílios da bolsa de couro.

- É tudo de que precisas? – perguntou Sarah analisando os poucos objetos que estavam espalhados pelo chão.

- O que esperavas? – Camille ergueu os olhos para encara-la – perninhas de aranha ou asinhas de morcegos e um grande caldeirão?

-Creio que sim – respondeu a criada, sem saber muito bem o que esperar daquilo tudo.

- Pois saiba que é isso de que preciso – disse Camille por fim.

Tomando o livro abriu-o e começou a folheá-lo.

- Onde está? – repetia para si mesma passando as páginas cada vez mais depressa. – onde?

- Deixe-me ajuda-la senhora – a criada tentou se aproximar.

- Achei! – exclamou Camille e levantou-se de um salto.

- Aqui está! – disse e virou o livro para que Sarah pudesse ver.

Havia algo escrito, mas Sarah não conseguia identificar qual era a escrita, e logo abaixo havia um desenho de uma estrela de ponta cabeça.

- Preciso de que me ajude a reunir os elementos – pediu ela.

- Preciso que me explique com mais clareza. - Sarah passara a questionar não somente a sua lealdade à patroa, mas também sua sanidade. Por mais que quisesse manter a segurança de sua senhora, precisava manter a própria, pois sabia que ninguém mais o faria.

Antes que Camille repetisse as instruções Sarah seguiu para a floresta. Ficara surpresa com as coisas simples de que precisam para o feitiço que iam fazer. Enquanto caminhava por entre as árvores, pedia aos céus que tudo ocorresse como planejado, e que o feitiço ou seja lá o que fosse funcionasse, se é que daria certo.

Sarah ergueu a barra do avental, e o usou para acolher os galhos e folhas secas. Também pegou algumas pedras e um pouco de terra e voltou para onde Camille a esperava.

- Aqui está Milady - disse ela ao retornar.

Camille havia desenhado uma grande estrela de ponta cabeça no chão úmido, usara um graveto para fazer a figura igual como estava no livro.

Depois pegou os elementos que Sarah reunirá e os colocou cada um em uma ponta da estrela. Em uma ponta colocou um punhado de terra, em outra um pouco de água, numa outra não colocara nada, e por ultimo uma pequena fogueira fora acessa.

Estava na hora.

Camille abriu o livro, e seguiu para o meio do pentagrama. Olhou de soslaio para a criada, que parecia mais aflita que de costume, e sorriu.

Estava muito confiante.

Então começou a ler o que estava no livro. Palavras que até um segundo atrás lhe parecia estranhas e incomuns agora saiam de sua boca num sopro suave.

As palavras brotavam de dentro dela e jorravam como uma fonte de água. A medida que ia lendo, os elementos em cada ponta da estrela ia se acendendo, até que o fogo os consumisse por completo.

Um vento forte começou a soprar ao redor dela, fazendo um grande redemoinho de folhas e galhos e de tudo que havia no chão da floresta, e antes que terminasse de ler a primeira parte do ritual as cinco pontas da estrela estavam em chamas.

Ela sentiu uma energia percorrer seu corpo, algo que nunca sentira antes, como se algo estivesse sendo drenado de dentro dela e ao mesmo tempo voltando para seu corpo. Camille sentia-se em transe, como se não fosse capaz de fazer com que as palavras antigas parassem de jorrar do seu interior, da sua alma. Até que tudo se acalmou, sentiu-se leve, como se seus pés não estivesse mais tocando o chão, e de repente...

Não se ouvia nada.

O vento e o redemoinho havia cessado, e tudo o que fora trazido por ele agora se encontrava aos pés dela nunca grande bagunça de folhas e galhos retorcidos, e não havia nem sequer um barulho da floresta, nem um canto de pássaro, nem um pio de animal, nada.

Ouviu as ultimas palavras sair de sua boca e parou.

O fogo das pontas percorreu lentamente o espaço entre elas, unindo-as, até que Camille se encontrasse no centro de uma grande estrela em chamas.

Ao fundo, atrás de uma árvore Sarah soltou um arquejo ao ver o que estava acontecendo, nunca vira nada parecido.

As nuvens começaram a mover-se mais rapidamente, escurecendo o céu matutino, e antes que ela pudesse piscar o céu estava claro novamente.

Viu o fogo regredir lentamente levantando uma camada de fumaça, e quando este finalmente cessou, ela chegou mais perto afim de perguntar a sua senhora se tudo sairá como planejado.

Até que a encontrou caída no chão.

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