Capítulo 3

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5 anos depois

West Village, ano de 1800

A pequena Lady Camille Winthrop veio ao mundo em meio a uma tempestade. Mas não foi qualquer tempestade, e sim uma tempestade de neve.

Há mais de décadas que não caia um floco de neve sequer naquelas terras – pensou o Conde de West Village, Lorde Charles Winthrop, quando viu o primeiro floco de neve cair.

Ouviu mais um grito de sua esposa, Lady Louisa Winthrop, e logo em seguida o choro da filha. Sorriu consigo mesmo, e fechou a janela do grande salão e se dirigiu as escadas que davam acesso ao andar superior.

A pequena Camille parecia um pequenino boneco de neve, tão branca e gélida ela era.

Lorde Winthrop pegou a filha nos braços e sentindo o frio que emanava dela, virou-se para o médico que acabava de examinar a esposa.

- Está morta? – perguntou o Lorde, lutando para não deixar transparecer a aflição que sentia, em sua voz.

- Não. – disse o médico – Nasceu forte e saudável.

- Então porque ela é tão fria? – perguntou o conde, trazendo a menina para mais perto do calor do seu peito para mantê-la aquecida.

- Talvez seja o tempo – sugeriu o médico – ou apenas precise ser aquecida. Ela ficará bem.

Com isso o médico deixou o aposento seguindo uma criada até o andar inferior.

 O Lorde olhou mais uma vez para a filha, tão pequenina. Ela dormia aninhada em seus braços, tão serena, parecia, mas um passarinho sem penas- pensou o Conde enquanto admirava a filha.

Entregou a  para a ama, e voltou-se para a esposa que dormia profundamente. Beijou-lhe a testa e caminhou até a janela do quarto, onde se permitiu ver a neve cair e cobrir o chão cheio de heras.

Alguns minutos mais tarde, já no seu escritório, olhou para a mesa do centro da sala, e soube o que devia fazer.

Sentou –se e apanhou um papel, escreveu rapidamente duas linhas, fechando o bilhete em seguida, despejou um pouco de cera na borda, e pressionou o liquido quente com o seu sinete.

Balançou um pequeno sino que mantem sempre na sua mesa, e esperou que o criado viesse até ele.

***********

Naquele mesmo dia, já tarde da noite, um criando vindo de West Village bate na porta da residência de Lorde Tickle.

- Uma mensagem urgente do Conde de West Village – diz o criando assim que o mordomo abriu a porta, e lhe estende o envelope.

Minutos mais tarde o mordomo bate a porta do Visconde de NorthWest, carregando uma pequena bandeja de prata.

- Correspondência de Lorde Winthrop, meu senhor – disse o mordomo lhe estendendo a bandeja com o envelope.

O Visconde levanta os olhos da grande pilha de papeis que está a analisar e diz:

- Mensagem de Charles há essa hora? Só pode ser algo sério. Será que as vacas atolaram com toda essa neve? – pensa em voz alta.

O mordomo esperou o Lorde pegar a correspondência e deixou o escritório com uma pequena reverência.

Rompeu o lacre e leu as únicas duas linhas que vinham no bilhete.

"Minha pequena Camille nos honra com sua graça e presença. E trouxe com ela a neve, e a esperança de mais uma colheita vantajosa."

***********

A nevasca durou cinco dias, Lady Winthrop estava impaciente, ainda de repouso e sem poder exibir a filha para as amigas mais jovens e as recém casadas.

Lorde Winthrop mantinha seus criados indo e vindo no meio da neve, enquanto trocada correspondência com seu grande amigo o Visconde Tickle. Seria a primeira caçada do pequeno Benedict, de cinco anos.

- Senhor – chama um criado na porta do escritório.

- Sim, Marlon – responde o lorde sem ao menos levantar os olhos dos papeis diante dele.

- Sinto interromper senhor – desculpa-se o criado – mas há algo de extrema importância que requer a sua atenção. – continua o criado.

Lorde Winthrop levanta os olhos dos documentos, e encara o criado, curiosidade e preocupação cintilando em seus olhos.

- Mas duas vacas e três cavalos amanheceram mortos, senhor – diz o criado respondendo a pergunta não dita.

O Conde não diz nada. Levanta-se de um salto e segue o criado até os estábulos, onde três dos seus melhores cavalos estavam mortos.

- O vilarejo todo está comentando senhor, - começou o criado ajeitado a cabeça do animal que pendia quase desgrudada do corpo. – parece que temos uma fera solta.

- Fera? –exclamou o lorde claramente surpreso.

- Nunca tivemos isso aqui em West Village – disse o conde para ninguém em especial.

- Parece que as terras do visconde também foram saqueadas – disse o criado depois de uns instantes de silêncio.

- Fera? – repetia o lorde, como se pudesse matar o animal apenas com a força do pensamento. – alguém já viu o animal? É adulto? Se trata de um lobo? Algum outro tipo de animal selvagem?

O conde soltava uma pergunta atrás da outra, porém o menino dos recados não tinha resposta para nenhuma delas.

Alguns senhores comerciantes da vila, arriscavam dizer que era um lobo, outros que se tratava de uma pantera, ou um leão das montanhas. Alguns diziam que a fera era adulto, outros diziam que era bebê, pois não comia a carne dos animais que caçava. Havia muitas especulações e nenhuma conclusão.

Charles Winthrop enquanto encarava seus cavalos mortos, e todo aquele sague em seus estábulos, começou a temer pela sua filha recém nascida. A função de um Lorde era proteger. Proteger a sua esposa e filhos, seus inquilinos, proteger suas terras, pois eram delas que vinha o sustento de todos os que dependiam dele.

- Marlon, jogue fora os restos dos animais, e tranque os estábulos- ele fez uma pausa e olhou mais uma vez para a carcaça dos animais – assim que o tempo melhorar nós sairemos para caçar essa fera.

O animal não voltou a atacar, pelo menos não naquela semana.

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