Capítulo 16

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Camille aguardava na cabana a chegada de Minerva. Impaciente, caminhava de um lado para outro no pequeno cômodo, quando avistou a figura da velha bruxa sair de trás de alguns arbustos.

- Milady – disse a velha senhora e se inclinou em uma reverência, assim que adentrou o cômodo. – Minhas felicitações pelas bodas. – continuou ela.

A velha, de tamanho miúdo, se escondia atrás de uma velha capa com capuz na cor cinza.

- Poupe-me de tamanha falsidade Minerva – começou Camille, que já estava vermelha de raiva e frustração. – Vim aqui pois quero que me explique a mensagem que me entregou ontem no meu casamento.

- Ah Milady, aquilo não é de grande importância, já deve saber. – disse a bruxa com certo desdém.

- Mas como não é de grande importância? – quis saber Camille. – Primeiro tu vais embora e nem ao mesmo me diz para onde, e volta exatamente no dia do meu casamento falando coisas que não fazem sentindo algum...

- Será que são tão sem sentidos assim? – disse a velha senhora interrompendo-a.

- Algo não está certo. – Disse Camille aflita – porque eu não deveria ter me casado com Benedict? – ela finalmente deu voz à pergunta que durante toda a noite deu voltas em sua cabeça.

- Nunca poderão ficar juntos. Por acaso já lhe disse o que é? – perguntou-lhe a velha.

- Sabes muito bem que não posso revelar a origem da minha natureza. – respondeu-lhe ela.

- Então não contaste que és uma bruxa? – disse a velha somente para provoca-la.

- Não, - respondeu Camille, sua voz quase inaudível - não contei a ele o que sou.

- E nem ele te contou o que é? – comentou a velha.

- O que queres dizer com isso? – quis saber.

- Não te contarei mais nada, mas tu não demoraras a descobrir. Assim que a lua tomar seu lugar no centro, e brilhar como o sol, tu não terás mais como te esconder. Nenhum segredo ficará oculto.

Camille sentiu um tremor percorrer seu corpo. Suas mãos tremiam, e ela podia sentir o poder queimado nas suas veias.

Um vento forte abalou a cabana de madeira onde estavam.

- Pare com isso – ordenou a velha bruxa.

- Não estou fazendo nada – disse Camille.

- Não seja cínica – falou Minerva com uma risadinha – não direcione sua fúria para mim.

- E para quem devo direcionar? Meu marido? – disse ela, sentindo mais um abalo sacudir o cômodo.

A velha não respondeu.

- Não seja tola menina – disse ela ao ouvir as tabuas sacudirem com a força do vento – você não tem poder para lhe dá comigo.

- Você melhor que ninguém sabe que sou muito mais forte – disse Camille, e estendeu a mão lançando a bruxa para o outro lado do cômodo e imprensando-a contra a parede.

- Eu fiz você – disse a velha sem fôlego. - não se esqueça disso. 

- Talvez deva morrer com a culpa – disse Camille indo até ela. – Não deveria ter me contado a verdade.

- Você nunca será igual a eles – respondeu ela.

Lá fora a égua relinchou informando a dona que alguém se aproximava.

Camille largou à velha, que caiu no chão com um baque surdo e começou a se dirigir a porta. Lá fora ainda ventava.

- Ainda não acabei com você – disse ela antes de sair.

- Meça as palavras menina, pois ainda precisará da minha ajuda. – disse a velha e voltou a vestir sua capa acinzentada.

Camille deixou a cabana e montou a égua, até que sentiu a presença de alguém atrás de si.

********

Benedict enquanto cavalgava pela floresta listava, mentalmente, os motivos pelos quais Camille havia fugido de casa. Ou ela havia fugido ou estava fazendo alguma brincadeira que ele ainda não havia entendido.

Em seu coração pediu para que fosse a segunda opção, que ela não tivesse fugido porque tinha mudado de ideia á respeito do casamento.

Mas logo veio em sua mente uma das questões discutidas na noite anterior, quando ela lhe perguntou o porquê de ele haver se casado com ela. Talvez ela estivesse arrependida, talvez a noite de núpcias tenha-a assustado. Caso fosse algum desses motivos, ele precisava pensar em uma maneira de trazê-la de volta. Não sabia como ou quando isso tinha acontecido, mas não saberia viver sem ela, simplesmente não sabia mais como fazê-lo.

Sim, não permitiria, jamais, que ela o deixasse.

Ele começava a reconsiderar suas opções quando avistou Matilda, a égua de Camille.

Sempre achou a escolha desse nome ridículo para o animal, mas agora até achava que combinava com a égua.

O animal, que estava amarrado na frente da cabana, a mesma onde foram flagrados juntos dias atrás, relinchou e voltou a pastar.

Ventava forte, por isso Benedict deu a volta pela floresta para ter melhor acesso a cabana. Ao dá a volta, avistou Camille junto ao animal. Ela parecia alterada, sussurrava algo para a égua, mas tampouco parecia falar com o animal diretamente.

E que trajes eram aqueles? Aquilo eram suas roupas, que ela estava vestida?

Um sorriso passou por seus lábios, e ele imediatamente se repreendeu. Não permitiria que ela o distraísse, que tirasse seu foco de sua fuga.

Benedict inclinou-se sobre seu animal e avançou lentamente.

Em sua mente, contava sua presença ali como um elemento surpresa.

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